Zanetti, blindado no Rio para busca pelo bi

Arthur Zanetti não pode sequer ter acesso à internet e às redes sociais

Imaginar um dia sequer sem acesso à internet e às redes sociais. Mas ficar offline virou parte da rotina do ginasta Arthur Zanetti desde a última sexta-feira, quando deu entrada na Vila Olímpica, no Rio de Janeiro. A “lei do silêncio” tem um objetivo: manter a concentração na busca ao bicampeonato olímpico nas argolas.
As rígidas regras de conduta foram estabelecidas pelo técnico Marcos Goto. “Se você está buscando um ideal, sempre há um preço a pagar. Nesse momento é o que eu acho importante que eles devem seguir”, explica. Quando o treinador usa o plural, ele também se refere a Diego Hypolito, especialista em solo e salto. O ginasta deu sequência ao trabalho com Goto após o afastamento do técnico Fernando de Carvalho, acusado de abuso sexual.
Nada de fotos no Instagram e postagens no Facebook para contar aos fãs como está o clima na Vila Olímpica. E as conversas com os amigos por WhatsApp? Nem pensar. É bom que o status “visto tal dia, tal horário” esteja bastante defasado. O único meio de comunicação liberado para Zanetti é o telefone – apenas para falar com os pais e com a namorada.
A participação nas festividades do Time Brasil também está fora da agenda. Enquanto atletas de cinco modalidades cantavam um pout-pourri de músicas brasileiras e dançavam na cerimônia de boas-vindas aos atletas na Vila Olímpica no domingo, por volta do meio-dia, Zanetti não estava muitos quilômetros longe dali, repetindo uma, duas e diversas vezes mais alguns elementos de sua série nas argolas.
De acordo com o ginasta Arthur Nory Mariano, a programação da seleção masculina foi estabelecida de acordo com a ordem de chegada dos ginastas e, por isso, alguns estavam de folga e outros dando piruetas. “Eles estão se adaptando ao ginásio e a esse clima todo. A gente está mais de há uma semana aqui, foi um planejamento normal”, contou. Sérgio Sasaki e Francisco Barretto Júnior também participaram da recepção.
A ausência de Zanetti será sentida novamente no desfile da delegação brasileira na cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos, na próxima sexta-feira. Em razão da programação, ele perdeu até mesmo a chance de ser candidato a porta-bandeira na votação popular. A ginástica brasileira integra a subdivisão 1, com estreia marcada para sábado, às 10h30. E o aparelho inicial é justamente as argolas. Uma boa noite de sono é essencial para a ambição do campeão olímpico.
Na quarta-feira, no mesmo horário da competição, Zanetti e cia. participam do treino de pódio. Na atividade, os ginastas apresentam suas rotinas completas na Arena Olímpica do Rio, na Barra da Tijuca, sob os olhares dos árbitros. É comum que os atletas deem entrevistas ao fim da atividade, mas a previsão é que Zanetti só converse com os jornalistas após o primeiro dia de competição. O contato com a imprensa deve ser evitado por Zanetti e Hypolito, que, diferentemente de boa parte da delegação, não circularam pela Zona Internacional da Vila Olímpica. Para Marcos Goto, a interação com os jornalistas pode aumentar a pressão e a responsabilidade sobre os ginastas.
“Acho que vai minando o atleta. Quanto mais fica instigando, o cara pode falar besteira ou algo que não devia falar nesse momento. Por isso, é melhor blindar e eles não falarem”, justifica. E o treinador relata que os dois ginastas aceitam seu ponto de vista e não têm reclamado das proibições.
REPETIR A FÓRMULA
O método adotado por ele tem sido o mesmo usado nos Jogos de Londres-2012. No Rio, tem o agravante de a competição ser em casa. O assédio torna-se maior pela facilidade de aproximação. Lembrando ainda que os holofotes se voltaram ainda mais para Zanetti após a conquista da medalha de ouro.
Seguindo a máxima “não se mexe em time que está ganhando”, Goto resolveu repetir a fórmula. “Foi o que eu fiz em 2012. Não estou mudando, só estou fazendo o que acho necessário para eles ficarem focados na competição, ficarem focados nos treinos. Eles entendem, acham que isso também é importante.”
A opinião de Marcos Goto foi ouvida por membros do Comitê Olímpico do Brasil (COB). Ele fez parte de uma comissão de técnicos, formada neste ciclo, para discutir as vantagens e desvantagens de competir uma Olimpíada em casa.
“Tem atleta que gosta de estar na mídia, mas nós sabemos que isso tira o foco. A decisão entre nós foi buscar cuidar dos atletas. Você tem de isolar as coisas que acha que possa ser desvantagem.” A decisão de impedir a entrada de familiares na Vila dos Atletas também agrada ao treinador. Ele vê com bons olhos o espaço criado para este fim. “A família tem de ficar fora. Não dá para misturar as coisas.”
PROVA POR EQUIPES
Arthur Nory Mariano, Sérgio Sasaki e Francisco Barretto Júnior terão papel fundamental na estreia da ginástica brasileira nos Jogos Olímpicos. O desempenho do trio em três aparelhos – cavalo com alças, barra fixa e barras paralelas – definirá, no sábado, se a equipe masculina para na fase classificatória ou avança à final.
Três notas de cada rotina são levadas em consideração. Como a escalação do Brasil prevê que Arthur Zanetti dispute apenas argolas e que Diego Hypolito represente o País somente no salto e no solo, os generalistas não têm espaço para erro. “Se a gente for para a final, está com uma equipe forte. Para a classificatória tem alguns aparelhos que ficamos desfalcados. Mas acredito que temos chance”, afirma Nory.
O fato de competir em casa pode ser vantajoso para a equipe brasileira, considerando que a decisão dos árbitros da ginástica é de certa forma subjetiva. E Nory espera contar com o calor da torcida para aumentar a pressão na Arena Olímpica do Rio. “Isso pode interferir um pouquinho em qualquer lugar. Pode ser muito bom para a gente.”
Se falta tradição à equipe brasileira na Olimpíada, os atletas esperam brilhar individualmente. A meta do quinteto é garantir classificação para o maior número possível de finais.
Nory quer se provar como um dos ginastas mais completos do mundo, mas também está bastante motivado a brigar pela medalha na barra fixa. Para isso, dificultou sua série após a disputa do Mundial de Glasgow, no ano passado, e tem trabalhado para fazer uma execução perfeita, o que ele destaca como seu ponto forte. “Sendo finalista mundial com o 4º lugar na barra fixa, eu percebi que dá para chegar, dá para brigar de igual para igual”, analisa Nory.
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