RIO 2016

Micale admite desgaste dos jogadores Brasileiros

Depois de virar a noite em busca de uma solução para a crise da Seleção Olímpica, técnico admite cansaço e cita judoca Rafaela Silva ao pedir paciência com Neymar e companhia

A fisionomia leve, alegre e algumas vezes sorridente nas entrevistas coletivas deu lugar a um semblante cansado. O técnico Rogério Micale admitiu nesta terça-feira (9/8), na Arena Fonte Nova, um certo desgaste físico com a situação da Seleção no Grupo A dos Jogos Olímpicos do Rio-2016. Com dois pontos, nenhuma vitória e muito menos gol marcado, o time é obrigado a vencer a Dinamarca nesta quarta-feira, às 22h, para avançar às quartas de final sem depender do resultado entre Iraque e África do Sul, em São Paulo.
 
“Cansado porque avaliamos jogos pela noite, tentamos achar soluções porque o tempo é curto, precisamos trabalhar, os jogos são muito próximos. Faz parte do processo e buscamos forças e energia para fazer o melhor por nossa equipe”, disse o treinador da Seleção.
 
Como sempre tem feito desde o início da preparação, Rogério Micale voltou a defender o trio de ataque de sua preferência. “Neymar é uma referência mundial, o Gabriel Jesus é o artilheiro do Palmeiras, o Gabriel e o Luan. São detalhes e no momento certo as coisas vão acontecer. Colocamos bolas na trave, o goleiro da África do Sul se destacou no primeiro jogo. Não adianta precipitar. Quanto maior a tensão, menos efetividade, eles estão acostumados aos gols e vai sair de forma natural”, aposta.
 
Micale chegou a citar a judoca Rafaela Silva, medalha de ouro na segunda-feira, como exemplo para uma cobrança por paciência com os Gabigol e Gabriel Jesus. “Vi a judoca que ganhou medalha de ouro, a Rafaela. Que relato interessante, o que ela passou no passado. Ou do Diego Hypólito, que em duas ou três Olimpíadas não conseguiu executar, quando era jovem, e hoje fez apresentações que nos enchem de orgulho. A Rafaela nos enche de orgulho. Se não tivermos essa tranquilidade com os jovens do futebol, a situação ficará cada vez pior”, adverte.
 
O técnico voltou a falar sobre as vaias a Neymar e os gritos de “Marta” no Mané Garrincha, em Brasília, durante o empate por 0 x 0 com o Iraque. “Neymar e Marta são dois talentos do futebol brasileiro. Em relação ao Neymar, é um jovem de 24 anos que não atingiu ainda maturidade total, vai atingir. De uma forma geral, aos 28 anos o jogador chega ao ápice como atleta, homem, física e mentalmente. Ele já tem de lidar com a pressão de ser um líder, um expoente, desde 17, 18 anos de idade. A geração que lhe daria suporte não se firmou”, lamenta.
 
Ainda sobre as comparações com Marta, o técnico Rogério Micale acrescentou. “A Marta está com quantos anos? 31 anos… Podemos dizer que a Marta é uma jogadora sensacional, tem todo nosso reconhecimento, mas o Neymar tem o meu reconhecimento como futuro melhor do mundo, ele vai ser, e nós precisamos respeitar o Neymar. Ele é jovem. Sei que em alguns momentos age de uma forma que não queremos, mas na idade dele, não faríamos as mesmas coisas, tendo o que ele tem?”.
 
Rogério Micale não poderá contar com Thiago Maia na partida contra a Dinamarca. O volante recebeu o terceiro cartão amarelo. A tendência é que Rodrigo Dourado, do Internacional, ocupe o setor, mas o treinador verde-amarelo faz mistério. “Tenho o substituto do Thiago Maia, mas só vou revelar amanhã (quarta-feira)”, escondeu.
 
Chateado com o que considera uma caça às bruxas devido aos dois empates por 0 x 0 em Brasília contra a África do Sul e o Iraque, Rogério Micale desabafou contra as críticas recorrentes a alguns dos seus comandados. “Temos que parar de achar vilões. Enquanto ficarmos preocupados com tarjas de capitão, comportamentos pessoais, situações internas de relacionamento, e não abrirmos discussão para realmente entender o que está acontecendo no setor tático, comportamental, vamos continuar na mesmice. Queremos achar culpados, é um grande mal”.
 
O treinador da Seleção chegou a citar os exemplos do lateral Rafael nos Jogos Olímpicos de Londres-2012 e de Bernard na Copa do Mundo de 2014. “Fizemos isso com Bernard na Copa do Mundo, o Rafael na última Olimpíada, sempre buscamos vilões e muitas vezes estancamos um potencial de avanço num futuro próximo. A Alemanha levou 12 anos para chegar onde chegou, mas nós queremos chegar lá com seis meses, não queremos passar por 11 anos e meio de preparação”, reclamou.
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