OLIMPÍADAS 2016

Gustavo Borges, a busca dos centésimos na natação olímpica

O atleta conquistou a medalha de prata nos jogos de Barcelona, em 1992, depois de ele ser destaque nos jogos Pan Americanos de Havana

O sucesso da natação brasileira tem o nome de Gustavo Borges, 43 anos, escrito em várias de suas páginas. A medalha de prata nos jogos de Barcelona, em 1992, colocou o atleta na elite da natação mundial, um ano depois de ele ser o grande destaque da delegação brasileira e conquistar cinco medalhas nos jogos Pan Americanos de Havana. Em Cuba, foram dois ouros, duas pratas e um bronze.
Um episódio inusitado marcou a conquista de Gustavo em Barcelona. Após a prova dos 100m livre, o brasileiro saiu da piscina vendo seu nome em quinto lugar no placar. Entre aquele momento e a divulgação do resultado final, que confirmou a medalha de prata, foram 40 minutos de espera. “Aqueles 40 minutos em Barcelona foram de total sufoco”, disse o atleta em entrevista.
Os Jogos de 1992 marcaram o melhor desempenho de um nadador brasileiro em Olimpíadas até então. De lá para cá, o Brasil continuou melhorando seu desempenho nas piscinas e novos nomes surgiram. César Cielo e Thiago Pereira estão entre os nomes mais conhecidos. Bruno Fratus e Ítalo Manzine, atletas mais novos, são as apostas do Brasil para os Jogos Rio 2016. “Quanto mais gente a gente coloca nas piscinas e no esporte, de uma forma mais abrangente, maior é a chance de descobrir os talentos”.
Além das medalhas de 1992, Gustavo Borges ganhou mais três medalhas olímpicas – prata e bronze em Atlanta (1996) e bronze em Sydney (2000).
Gustavo Borges se despediu das piscinas em Atenas, em 2004, depois de nadar o revezamento 4x100m livre.
O Caminho do Pódio é uma série de entrevistas com nove medalhistas olímpicos brasileiros que a Agência Brasil publica até o dia 10 de maio.
Qual é a sensação de subir em um pódio olímpico?
A sensação é fantástica. É o reconhecimento de um modelo de trabalho e de uma forma onde você, depois de quatro anos, consegue se superar e fazer tudo aquilo que se predispôs a fazer. Fora o orgulho de representar um país e ver a sua bandeira no alto do pódio. Então, é um momento indescritível na vida de um atleta.
O que representa ser medalhista olímpico no Brasil, um país onde os atletas, principalmente no começo, ainda têm muita dificuldade para viver só treinando e competindo?
Ser medalhista olímpico no Brasil é um sentimento de superação tremenda. Acho que muitos atletas têm espaço e apoio, outros nem tanto. Eu me julgo até como um dos que teve muito apoio e teve muitas possibilidades e um caminho que foi ajudado financeiramente pelos meus pais e pelos clubes por onde passei. Mas a gente ainda vê, de uma maneira geral, muita dificuldade nos treinamentos e nas competições, e na questão das oportunidades. Mas, realmente, os brasileiros têm uma capacidade grande de dar resultados.
O que passou pela sua cabeça nos jogos de Barcelona, durante os 40 minutos até a correção do resultado no placar, que te deu a medalha de prata? Como foi todo aquele momento pra você?
Aqueles 40 minutos em Barcelona foram de total sufoco. Se passaram muitas coisas, num primeiro momento, chateação. E depois paciência, porque o resultado oficial não saía, e num terceiro momento alegria por ter vindo a medalha de prata.
Além do pódio e do episódio do cronômetro, qual outro momento de uma Olimpíada que você nunca esquece?
Existem vários momentos que eu não esqueço. As quatro medalhas olímpicas, cada uma tem um sabor diferente. Os pan americanos também. Talvez um outro momento fantástico tenha sido a prova dos 100 metros nado livre no Pan de Cuba, em 91, que teve um resultado surpreendente para a minha carreira e que deu sequência para toda a minha vida esportiva. A medalha de ouro [no Pan] me colocou no ranking mundial e deu sequência para aquela medalha de prata em 1992.
Você treinou nos Estados Unidos, prática adotada por vários nadadores até hoje. A estrutura para treinos lá fora ainda é muito superior à encontrada no Brasil? Os nadadores precisam sair do país se quiserem chegar ao nível de uma medalha olímpica?
Não dá para comparar a estrutura nos Estados Unidos com qualquer outro lugar no mundo. A faculdade, o high school [equivalente ao ensino médio no Brasil] e os clubes, muito baseados na estrutura das faculdades, é o grande celeiro do esporte de alto rendimento, tanto para os esportes profissionais olímpicos quando para NBA [liga de basquete profissional dos Estados Unidos], NFL [liga nacional de futebol americano], tudo isso. E o nosso modelo é clubístico, é diferente dos Estados Unidos. Temos boas estruturas aqui. Não estamos muito bem alinhados com a escola. O clube e a escola estão distantes aqui no Brasil. Talvez esse seja o caminho para a gente evoluir na questão de manter os jovens de 16, 18 anos para continuar nadando e focados em uma faculdade. A estrutura do clube Pinheiros, que é o meu clube, é fantástica, mas não temos todos os clubes no Brasil como o Pinheiros.
Como você vê o futuro da natação do Brasil? A classificação de Bruno Fratus e Ítalo Manzine – e a consequente eliminação do César Cielo – mostra uma tendência de renovação constante no esporte?
Foi uma tristeza o César não classificar. Os 50m e 100m livre são provas fortes, muito competitivas no mundo e especialmente no Brasil. Vermos um atleta com o tempo de 21.91 segundos, como foi o caso do César, ficar fora de uma Olimpíada, provavelmente só veremos isso no Brasil e nos Estados Unidos. Em todos os outros países o César se classificaria. Mas isso é mérito do Ítalo, mérito do Bruno, um resultado fantástico para a natação brasileira e, ao mesmo tempo, triste porque a gente fica sem César Cielo em uma Olimpíada aqui no Brasil.
O que podemos esperar dos nadadores brasileiros nos jogos do Rio de Janeiro?
Acho que podemos esperar uma Olimpíada boa, competitiva, com algumas chances de medalhas, como nessa prova de 50 metros, com o Bruno. Mas a tendência é que a cada prova a gente tenha que encarar a eliminatória e a semifinal como se fosse a final. E a final, propriamente dita, com chances de medalha e ir para cima.
Como você avalia a descoberta de talentos da natação no Brasil? E o que poderia ser aprimorado para difundir mais a prática do esporte?
A descoberta de talentos da natação deriva de um número de praticantes. Existe a estrutura de competição, dos clubes, das escolas, da educação física de uma forma geral. Quanto mais gente a gente coloca nas piscinas e no esporte, de uma forma mais abrangente, maior é a chance de descobrir talentos.
Quais são suas expectativas para os jogos do Rio de Janeiro, em relação à organização e estrutura?
Eu já estive presente várias vezes no Parque Olímpico, a piscina está fantástica. Precisa de ajustes ainda, mas são poucas coisas. Muitos eventos-teste estão acontecendo. Acho que, no que diz respeito às obras nos jogos, a gente não terá problemas.
Que tipo de mensagem você deixaria para jovens atletas que enfrentam um cenário de pouco apoio e muitos obstáculos para crescerem no esporte?
Não só o atleta, mas as pessoas de uma forma geral, para superarem os desafios, os obstáculos do dia a dia, é sonhar, ter objetivos, metas, saber onde querem chegar e trabalhar com excelência. No caso da natação é buscar um centésimo de cada vez, para que se possa conquistar e ter resultado. Aí, sim, a gente pode abraçar alguém, curtir todos os momentos.
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