Debate e lançamento de livro sobre o Crime da Baronesa será realizado no MHAM
A obra denuncia um dos aspectos mais cruéis do Brasil do século XIX, ao mesmo tempo em que destaca coragem e resistência diante dos horrores da escravidão

Museu Histórico e Artístico do Maranhão, em São Luís. (Foto: Reprodução)
Como parte do projeto Museu Antirracista, do Museu Histórico e Artístico do Maranhão (MHAM), será lançado no dia 25, às 16h, o livro “Geminiana e seus filhos: Escravidão, maternidade e morte no Brasil do século XIX”. O evento será na Galeria Floriano Teixeira, com acesso pela Rua São João, 500, Centro.
O lançamento terá a presença dos autores Maria Helena P. T. Machado (USP) e Antônio Alexandre Isidio Cardoso (Ufma), além do promotor de justiça Washington Luiz, que realizarão uma roda de conversa sobre o acontecimento, o contexto social da época e os desdobramentos desse crime. Além disso, serão apresentados alguns materiais referentes ao período escravagista, que fazem parte do acervo do Museu e que não são expostos com frequência.
A partir de uma pesquisa minuciosa e reveladora, “Geminiana e seus filhos” coloca em foco a sociedade de São Luís do Maranhão no ano de 1876, quando os meninos Inocêncio e Jacintho, nascidos pouco antes da Lei do Ventre Livre e mantidos sob jugo da baronesa Ana Rosa Viana Ribeiro foram torturados e assassinados por ela.
Analisando os diferentes personagens envolvidos no caso e seus papéis, a obra denuncia um dos aspectos mais cruéis da sociedade escravagista brasileira do século XIX, ao mesmo tempo em que destaca a coragem de Geminiana e Simplícia, mãe e avó das crianças mortas, e da rede de resistência que se formava diante dos horrores da escravidão.

Museu Antirracista
O Museu Histórico abarca o projeto Museu Antirracista há 2 anos. Nesse período está compondo o acervo do museu com objetos da Cafua das Mercês (Museu do Negro). Além disso, batizou o jardim conhecido como Solar do Barão – numa referência ao médico e político liberal Carlos Fernando Ribeiro, que depois se tornaria Barão de Grajaú, no Maranhão -, de Jardim Inocêncio, um afago a Inocêncio, filho de Geminiana, torturado e morto naquele casarão, em novembro de 1876, no caso que ficou conhecido como o Crime da Baronesa.
Antes, em 27 de outubro de 1876, Jacintho, seu irmão, também morrera no casarão, mas o caso não foi investigado. Anna Rosa, a Baronesa de Grajaú, se dizia alvo de difamação. Ela argumentava que os garotos tinham “vício de comer terra”, o que lhes teria feito adoecer e morrer.
“O Museu Antirracista tem essa perspectiva porque a casa onde funciona o museu é uma casa que representa bem a aristocracia maranhense e toda a parcela da sociedade maranhense do século 19 que vivia uma vida abastada, com muita riqueza, com muita exploração de mão de obra. E por isso, estamos desconstruindo essa imagem, trazendo esse debate, tirando de dentro do acervo que estava guardado, um material que leva à reflexão, pois ainda se precisa muito pensar a respeito, tanto sobre a escravidão, como do papel da mulher da mulher negra escravizada trazendo para o contexto atua”, disse a gestora do Museu Histórico, Amélia Cunha.
Os materiais a que ela se refere e que serão apresentados durante o evento, são documentos referentes ao período escravagista no Maranhão e que não são expostos com frequência dado o teor sensível que contém.