Cantora Patricia Ahmaral lança tributo inédito ao poeta piauiense Torquato Neto
Disco tem direção artística do compositor maranhense Zeca Baleiro.
Os fãs do poeta piauiense Torquato Neto (1944-1972), cujo cinquentenário de morte será no próximo dia 10 de novembro, poderão conferir, nesta data, um tributo inédito.
A cantora mineira Patrícia Ahmaral lança nas plataformas digitais “Um Poeta Desfolha A Bandeira”, volume 1 do álbum duplo ‘Patrícia Ahmaral Canta Torquato Neto’.
É o primeiro de uma intérprete no país dedicado às parcerias do artista, que incluem composições com nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Edu Lobo, Chico César, Rogério Skylab, entre outros.
Personagem singular na cena cultural brasileira e um dos principais mentores do tropicalismo, Torquato cometeu suicídio aos 28 anos de idade, deixando um legado marcante, em poesia, jornalismo, cinema e música.
George Mendes, curador do Acervo Torquato Neto (Teresina -PI), celebra e observa não ter havido ainda uma regravação do letrista “em bloco”: Faltava (…) Uma grande intérprete para grandes canções, recriadas no verniz do tempo (….) Pois aparece no meu radar uma certa cantora mineira, revelando uma enorme sensibilidade para a poética de Torquato Neto”.
Com direção artística do compositor maranhense Zeca Baleiro, a largada para a divulgação do projeto aconteceu recentemente com um single duplo nas plataformas, trazendo participações de Jards Macalé e de Chico César.
Agora é a vez do vol,1 completo. A direção musical do trabalho é assinada por Rogério Delayon (Belo Horizonte), Marion Lemonnier (Honfleur – FR) e Walter Costa (Petrópols)
Participações especiais
É um álbum aberto, com contribuições marcantes nas canções, explica Patrícia. Jards Macalé cravou violão e dueto de voz com ela e releu seu próprio arranjo de 1972 para Let´s Play That (Macalé e Torquato Neto), no mesmo instrumento com o qual registrou a música, em seu primeiro LP.
Já a Banda de Pau e Corda, do Recife, gravou com ela em Louvação (Gilberto Gil e Torquato Neto), repaginando a canção num delicioso Côco De Arcoverde.
Outros convidados são os paulistanos Maurício Pereira e Tonho Penhasco, em Mamãe Coragem (Caetano Veloso e Torquato Neto), o também paulistano Moda De Rock, dos violeiros Ricardo Vignini e Zé Hélder, em Marginália II (Gilberto Gil e Torquato Neto), além de Chico César, já citado, em Quero Viver (Chico César e Torquato Neto).
Um Torquato não se faz só, brinca a cantora. Nesse trabalho ele está compartilhado, ‘esparramado’ em conexões, como imagino que gostaria!, conclui.
A semente desta homenagem surgiu há mais de 20 anos, no espetáculo TorquaTotal, idealizado pelos poetas mineiros Ricardo Aleixo e Marcelo Dolabela (1957/2020) para a 1ª Bienal Internacional de Poesia de Belo Horizonte (1998).
Patrícia recebeu e cumpriu a missão de pegar o ‘escorpião’ vivo, eletrificá-lo e destilar seus venenos em mais veneno, escreveu Dolabela. A mesma banda do show marca presença em duas faixas do álbum, com os arranjos da época..
Dois volumes e um recorte temático
Este primeiro volume, Um Poeta Desfolha A Bandeira, traz nove músicas de períodos diferentes, incluindo o da Tropicália.
São três composições do poeta com Gil, Geléia Geral, Marginália II e Louvação; duas com Caetano Veloso, Ai De Mim Copacabana e Mamãe Coragem; além de Três Da Madrugada (Carlos Pinto e Torquato Neto).
Outras: Let´s Play That (Jards Macalé e Torquato Neto) e de duas parcerias póstumas, Quero Viver (Chico César e Torquato Neto) e Cogito (Rogério Skylab e Torquato). (Confira o faixa a faixa de Patrícia Ahmaral)
No volume 2, A Coisa Mais Linda Que Existe, que sai em janeiro de 2023, Patrícia faz um recorte inusitado para a perspectiva normalmente trazida sobre Torquato Neto, cantando apenas canções com letras de amor do poeta, como a faixa homônima ao título, parceria com Gil e Um Dia Desses Eu Me Caso Com Você (Paulo Diniz e Torquato Neto).
Sobre Patrícia Ahmaral
Patrícia Ahmaral iniciou carreira nos anos 1990, na efervescente cena musical belo-horizontina, que revelaria o saudoso Vander Lee (1966-2016).
Seu CD de estréia, Ah! (1999), foi produzido por Zeca Baleiro. Depois vieram Vitrola Alquimista (2004) e Superpoder (2011), produzidos por Fernando Nunes e Renato Villaça.
Em seus discos, ela reverencia obras de autores como Walter Franco, Sérgio Sampaio e Alceu Valença, além de expoentes de sua geração, como Chico César, Zeca Baleiro e nomes da cena independente, como Edvaldo Santana e Suely Mesquita.
E faz leituras de clássicos, como A Volta Do Boêmio (Adelino Moreira) e Não Creio Em Mais Nada (Totó). É formada em canto lírico pela UFMG.
Em seu trabalho de maior visibilidade, gravou na primeira exibição da novela Xica Da Silva (Rede Manchete) os temas de abertura e do personagem principal, na trilha sonora de Marcus Viana.