Academia Vianense de Letras relança duas obras do escritor João Mohana
“Outro Caminho” e “Maria da Tempestade” inseriram o autor no seleto grupo dos grandes nomes da literatura brasileira; evento é nesse sábado (17).
A Academia Vianense de Letras realiza, na noite deste sábado (17), a partir das 19h, uma sessão especial para relançamento de duas das mais importantes obras do Padre João Mohana, “O Outro Caminho” e “Maria da Tempestade”.
As obras inseriram o autor no seleto grupo dos grandes nomes da literatura brasileira, com influência também em outros países. Embora tenha nascido em Bacabal, João Mohana passou boa parte de sua infância e adolescência em Viana, cidade que é cenário dos dois romances.
Em 2022, comemoram-se 70 anos do lançamento de O Outro Caminho, livro que lhe valeu o Prêmio Coelho Neto, outorgado pela Academia Brasileira de Letras (ABL), há também 70 anos.
E para comemorar as sete décadas deste feito, a família do autor conseguiu resgatá-lo e em de junho, na Academia Maranhense de Letras, em São Luís, fez o seu relançamento. Na mesma oportunidade, foi relançado Maria da Tempestade.
Apesar da reapresentação há três meses, somente agora os livros estão disponíveis para venda.
Segundo o empresário José Antônio Mohana, sobrinho do escritor e um dos mais empenhados por trazer de volta toda sua produção literária, os livros podem ser adquiridos nas livrarias AMEI, da Associação Maranhense dos Escritores Independentes, no São Luís Shopping (bairro do Jaracati), e Vozes, na Rua do Sol (Centro Histórico), ambas em São Luís.
O Outro Caminho
Escrito no curto intervalo de 27 dias, o romance de 1952 narrado em primeira pessoa é, para muitos, a história do próprio autor, que relata o drama existencial de Eyder, que se torna padre para atender aos pedidos da família.
O caráter autobiográfico ganha ainda mais consistência pelo ambiente em que se dá a narrativa, a cidade de Viana, na Baixada Ocidental Maranhense, onde João Mohana, que é natural de Bacabal (MA), passou boa parte da infância e da adolescência, até mudar-se para a capital do estado, São Luís.
A vida de Eyder e João Mohana são parecidas, havendo apenas uma inversão: o autor da ficção estudou Medicina, mas depois da morte do pai foi seguir sua principal vocação, o sacerdócio, ingressando no Seminário de Viamão, no Rio Grande do Sul. Foi como padre que ficou mais conhecido e amado por muitos maranhenses.
A história de Eyder, em O Outro Caminho, é narrada pelo seu irmão Neco, que apenas reúne as 200 folhas de papel escritas a lápis em que o personagem narra sua vida:
“Há alguns anos vinha com vontade de publicar a vida de meu irmão. Não se trata da vida de um herói, na concepção em que geralmente se usa esse termo. Posso dizer que foi um herói, mas herói a seu modo”, escreve Neco.
Segundo ele, sempre foi seu intento escrever um livro sobre seu irmão e estava apenas esperando a morte dele, para poder realizar esse desejo. O trabalho, entretanto, foi bem facilitado, pois encontrou mais de 200 folhas escritas a lápis, contanto justamente aquilo que ele pretendia contar.
“Li-as avidamente e me surpreendi com as coisas que jamais poderia ter dito, pois só o próprio dono poderia dizer. Não cortei, não emendei, não modifiquei. Conservei o manuscrito com a beleza original, com a nota do autor’’, comentou Neco.
Crítica especializada
Sobre essa obra, a escritora e jornalista Raquel de Queirós escreveu na revista O Cruzeiro, em 1952:
“Recomendo a todos que se interessam por literatura nacional o livro desse maranhrnse. Sempre é perigoso predizir o futuro de um autor pela sua estreia; nunca se sabe se ele tem dentro de si apenas aquela história para contar, ou se, pelo contrário, o primeiro livro é o início de uma obra importante e sempre em ascensão. De qualquer maneira, um romance único basta para fazer um romancista: e parece-me que, com este romance, já conseguiu o autor um lugar seguro na literatura nacional”.
Machado da Fonseca, na revista Verbum, também em 1952, escreveu que “O romancista de O Outro Caminho pode estar certo de que penetrou em um mistério que, ao meu ver, nem o genial Bermanos conseguiu propor nos seus elementos principais. Há páginas no seu livro, de inexcedível força e de uma suprema beleza, como as do capitulo X, logo após a descrição do pecado”.