ENTREVISTA COM AS QUEENS

Xuxa e Ikaro falam do “Caravana das Drags”, com cenas gravadas em São Luís

Com cenas filmadas na capital maranhense, o reality show promete mostrar a arte drag na visão de diversos estados brasileiros, sob o comando de Xuxa Meneghel e Ikaro Kadoshi.

Ikaro Kadoshi e Xuxa Meneghel apresentando o "Caravana das Drags" em São Luís. (Foto: Divulgação/Prime Video)

Ainda sem data prevista de estreia, o programa do Amazon Prime Video, “Caravana das Drags”, apresentado por Xuxa Meneghel e Ikaro Kadoshi teve cenas inéditas filmadas em São Luís. O novo programa fez uma viagem por todo o Brasil para uma competição de Drag Queens.

As gravações começaram no dia 15 de abril, e serão feitos 9 episódios durante a busca pela artista que levará o título de “Drag Soberana da Caravana”. Ao final de cada episódio, uma Drag será eliminada até que a grande vencedora seja escolhida.

A cidade de São Luís foi um dos palcos do programa, com cenas gravadas no dia 1º de junho deste ano. Na ocasião, os apresentadores Ikaro Kadoshi e Xuxa Meneghel deram entrevista para O Imparcial contando mais detalhes sobre o novo reality show.

Look inspirado nos azulejos da cidade. (Foto: Amazon Prime Video)

Como surgiu a ideia de fazer um projeto voltado para o mundo Drag?

XUXA

Eu tinha projetos para continuar fazendo coisas lá [na Globo] e eles pediram para que eu trouxesse ideias para a aprovação da direção, um desses projetos era chamado “Rainhas e Queens” e eu faria junto com a Ivete Sangalo. Era uma coisa em cima do RuPaul’s Drag Race, que se eu não me engano só tinha duas temporadas na época, ou seja, tem muito tempo.

E aí o quê que aconteceu, quando eu fui mostrar esse projeto eles achavam que não tinha muito a ver nem com a Globo nem com o meu momento e eu fiquei muito decepcionada. Guardei esse projeto no meu coração, pensando que um dia eu ainda iria fazer alguma coisa para esse mundo que eu acho encantador, eu acho mágico, tem realmente muita magia, muito encanto no mundo drag, em todos os sentidos.

Eu continuei vendo RuPaul’s, apaixonada pelas coisas, vi que tinham outros programas que também se espelharam, tanto no Brasil como fora do Brasil. E quando eu comecei a falar em fazer coisas fora da televisão aberta, vieram alguns projetos e esse acabou chegando na minha mão e eu falei “não tô acreditando que vocês estão me oferecendo uma coisa que eu sempre quis fazer”. Inclusive eu conheci o Ikaro bem antes disso e eu já tinha falado com ele sobre essa vontade antiga.

Então na realidade esse projeto já era meu, só tava faltando uma assinatura da Amazon para endossar isso tudo e dizer: “agora é seu momento, é a sua hora que não te deram lá atrás, com a pessoa que você queria, com projeto que você queria”. Então eu não consigo responder “porque eu queria fazer”, eu preciso explicar uma história que já tem muita vontade, muito tempo, já amadurecendo e querendo, desejando, sonhando, imaginando quem poderia ser, o quê, como poderia ser, entendeu?

Xuxa, como você vê sua participação no programa?

XUXA

Eu acho que tem tudo a ver com tudo que eu acredito, que eu sempre levantei essa bandeira, de inclusão, de respeito, de alegria, de tudo. Eu acho que o mundo drag tem tudo isso e mais um pouco e é isso que a gente vai mostrar.

E como surgiu o convite dessa parceria?

XUXA

Então na realidade eu não fui convidada, eu me convidei, me negaram, depois me apresentaram o programa e a primeira pessoa com quem eu falei foi o Ikaro, engraçado né que eu já tinha falado isso uns 2 anos ou 3 anos com o Ikaro, gostava do trabalho dele e ele tinha me convidado pra fazer uma participação em um programa que ele faz e aí ficou “não podia se ver pandemia, não deu e não rolou”, e eu sempre guardando essa coisa. Quando me falaram que eu teria alguém do meu lado, eu perguntei se poderia ser o Ikaro e aí eles falaram “mas a gente ia te falar que ia ser o Ikaro”.

Ele usa muito essa expressão “eu tô contigo, seguro a tua mão e não te solto”, e é isso que a gente faz.

Ikaro, você sentiu que todos os acontecimentos foram culminando para chegar aqui?

IKARO

Eu vou falar duas coisas. A primeira: definitivamente é o destino porque o meu destino está atrelado a vida desta mulher desde pequeno e ela sabe disso, de maneiras mais profundas do que o normal, para as outras pessoas, e toda essa movimentação do universo foi para isso acontecer.

E segundo: mais do que destino eu acho que é retomada, porque as Drag Queens tiveram seu nascimento das artes principais: do teatro, do cinema, da TV. Então a gente remonta lá na Grécia do século III a.C, no Teatro Kabuki, em Shakespeare, tribos da África, o tempo foi passando e as Drag Queens foram sendo marginalizadas.

Hoje as pessoas falam que tem um boom drag, “o quê que você acha das drags conquistarem esses espaços?” A gente não tá conquistando nada, a gente tá retomando o que é nosso de direito, nós somos uma arte nascida das artes principais. É mágico ainda ver tudo isso com outras Drag Queens acontecendo, ainda mais nesse programa com a pessoa que eu tenho uma ligação ímpar, que é a Xuxa, estando ao lado dela, apresentando um programa que não vai só mostrar drags do meu país, mas a cultura do meu país para o mundo todo, e modificando, ainda por cima, a vida de todas elas, eu não posso querer nada mais da vida.

Por que realizar o programa rodando o país, inclusive vindo para São Luís?

XUXA

A gente tem que mostrar o Brasil todo, a ideia principal desse programa quando me foi apresentado, foi assim: “olha, a gente vai mostrar a arte drag e a arte drag vai mostrar o Brasil como a arte drag para o mundo”. Eu falei “caramba, isso é apaixonante”, porque nós somos vários lugares em um lugar só, com vários dialetos, várias comidas, várias culturas, com vários pensares e pessoas que agem e que pensam diferente.

A gente vai entrar nesses mundinhos através da arte drag e mostrar pra todo mundo isso, ou seja, não é só mostrar pessoas se maquiando, dançando, a gente vai estar mostrando um todo e é tudo muito novo pra gente também, tanto para o Ikaro, quanto para mim, para a equipe toda.

A gente tá aprendendo muito, eu acredito que a temporada 2 vai ser muito melhor do que temporada 1, eu acredito que a temporada 3 vai ser infinitamente melhor que a temporada 1 e 2.

Entrando na temática LGBTQIA+, o que o Caravana das Drags pretende trazer?

XUXA

O mundo que a gente tá vivendo agora, onde as pessoas não se respeitam, onde as pessoas levantam o nome de Deus junto com o preconceito, onde as pessoas não tem nenhum pouco de empatia nem de carinho pelo ser humano, pelo ser vivo em geral, as pessoas estão se matando, tem guerra no mundo, nosso presidente que em vez de fazer fazer paz e amor, faz uma arminha com a mão, entendeu? Então é muita violência e o nosso país mata muitos LGBTQIA+.

Quando a gente vem com uma proposta onde a gente não quer ferir, ninguém quer ofender ninguém, pelo contrário, a gente quer mostrar o que o Brasil tem de bonito, o que essa arte tem de bonita e ainda abraçar todo mundo, é o momento mais indicado para este tipo de programa para o mundo e para a nossa vida, principalmente no momento que a gente tá vivendo agora.

Eu falo para as pessoas que eu não quero me enrolar na bandeira LGBTQIA+, eu quero me vestir, eu quero colocar um macacão, quero colocar uma camiseta, eu quero colocar uma bandana, um brinco, eu quero colocar uma tatuagem, eu quero fazer tudo porque eu acho que não é só você levantar uma causa, é você gritar por alguém que tá sufocado.

É você mostrar que as pessoas estão muito erradas quando dizem que não existe certo e errado sobre arte. Existe sim, principalmente quando existe uma coisa que se chama preconceito, e preconceito é muito errado, eu acho que esse programa vai derrubar muitos preconceitos, eu acho que as pessoas vão perceber que não é um programa só para quem é gay assistir, é um programa para a família, para as pessoas que cresceram com preconceito enraizado e que não tem culpa disso, mas que vão se dar o direito de ver e dizer “deixa eu ver o que ela tá querendo mostrar no brasil” ou “deixa eu ver o que essa pessoa louca que sempre trabalhou pra criança tá querendo fazer”.

Eu acho assim, de alguma maneira as pessoas vão acabar ouvindo ou vendo essa purpurina toda ou esse brilho que vai sair daqui, esse amor todo que vai emanar daqui. Porque a gente não tá querendo machucar ninguém, de nenhuma maneira será dito alguma coisa contra alguém, só a favor da arte, a favor do país e a favor das pessoas, sem importar gênero, cor, nada.

IKARO

Eu vou só complementar porque eu acho que a Xuxa falou uma coisa que eu acho muito bonita, ela falou que não quer se enrolar e quer colocar todas as cores, mas talvez ela tenha colocado em um lugar que quase ninguém colocou, que é colocar isso no coração. E a gente vê muito isso nas falas dela, na maneira que ela trata qualquer pessoa e eu acho que esse o programa vai ser um questionamento porque a gente vive numa sociedade que aprendeu a odiar antes de amar qualquer coisa, principalmente as coisas que elas não estão acostumadas a ver no dia a dia.

A Drag Queen é muito bonita, mas quem já viu uma Drag Queen na sua vida? Quem pode dizer que convive? Quem pode dizer que é amigo de uma? Então esse programa vai fazer as pessoas questionarem, “será que eu sou acostumado a criticar e a odiar tudo que eu não conheço antes mesmo de conhecer?”

É isso que a gente vive hoje e esse programa vem para quebrar essas barreiras porque quando você conhece as histórias, o humano por trás da arte, por trás da drag, somado às vivências de Xuxa e minhas e todas essas coisas que acontecem de “o Brasil com z não conhece o Brasil com s”, porque a história desse programa é reconectar as pessoas às culturas do Brasil que muitas vezes elas nem sabiam que existiam, quando você soma tudo isso é muito difícil encontrar uma barreira, porque até a pessoa mais preconceituosa não vai deixar de aprender quando assistir o programa sobre o que é ser humano que respeita o outro de verdade.

O que vocês mandariam de recado para quem tem interesse em assistir o programa?

IKARO

No fim é deixar a Caravana das Drags te surpreender como ela nos surpreende todos os dias, é uma surpresa todos os dias, é um aprendizado todos os dias, mas o mais bonito é que é uma troca todos os dias e eu acho que só dá certo porque são pessoas que não têm a intenção de errar, mas que às vezes quando chegam a errar encontram ao lado pessoas que estão dispostas a acolher, não a julgar.

Acho que a solução é essa, e tem sido mágico por isso, porque eu sei que independente disso vou poder errar eu vou errar várias vezes, assim como todo mundo, mas eu estou no ambiente que se eu errar vão ter pessoas dispostas a me acolher e me explicar.

Se a gente não explicar, nada muda, então eu vou continuar explicando pelo resto da minha vida, enquanto tiver ar nesse pulmão eu vou explicar tudo o que for do meu alcance. O Google é maravilhoso, tem muitas informações, mas o Google não deixa de ser frio e um robô. Então só quando você pega na mão de alguém e conversa olhando no olho falando “você tá aqui, eu tô com você e não solto sua mão”, é aí que a mudança acontece.

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