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Moda decolonial: estilista indígena Dayana Molina cria vestido para o MET Gala

A brasileira e indígena foi a autora do vestido “Útrero de Abya Yala” que estreou no Met Gala 2022.

Vestido "Útero de Abya Yala", criado para o Met Gala. (Foro: Divulgação/E!Entertainment)

Moda é um ato político. É com essa percepção que a estilista indígena Dayana Molina norteia o trabalho dela no ramo há 16 anos. Descendente das etnias fulni-ô e aymará, Dayana se inspira na ancestralidade indígena para criar peças e pensar a moda sob uma perspectiva decolonial.

“As minhas maiores inspirações de vida são e sempre serão as mulheres ancestrais de minha família. Nunca esquecerei de minha origem e do quanto isso é importante e significativo para mim. Minha bisavó materna costurava no sertão de Pernambuco. E ela seguiu sendo uma referência profissional muito especial na minha trajetória”, conta a estilista.

Dayana foi convidada pelo canal E! Entertainment para criar um vestido para o MET Gala, que ocorreu nesta segunda-feira (2). O canal transmite o evento ao vivo e a criação de Molina será apresentada nas chamadas da transmissão. Intitulado “Útero de Abya Yala”, o vestido simboliza a criação da América Latina, originalmente indígena. O termo Abya Yala significa Terra madura ou Terra de florescimento para o povo Kuna.

O vestido criado pela estilista, junto com a assistente Gabrieli Lecoña, é todo na cor vermelha, composto por franjas que representam o jorrar de sangue e uma manga volumosa que remete a uma flor. Todos os elementos da peça convergem para a mensagem principal que Dayana quer passar, que é o “parir da América Latina pelo útero de uma mulher nativa”.

Dayana, que além de estilista é colunista de moda, propõe uma produção que respeite a natureza, visto que a indústria de moda gera impactos ambientais. Dados do relatório “Fios da moda”, realizado em 2021 pela Modefica juntamente com o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, apontam que a quantidade de resíduos têxteis enviados para aterros por dia no Brasil é de 275 a 330 toneladas, sendo suficientes para encher mais de 100 caminhões de lixo.

Para Dayana, só o fato de existirmos no mundo torna a vida insustentável, visto que o padrão do comportamento humano ainda é bastante pautado no consumismo.

“O homem é o ser que mais degrada a natureza. E ainda assim tentamos criar modos de vida mais sustentáveis. O máximo que conseguimos é tornar essa jornada mais consciente. E ser consciente é parte de um movimento emergente pelo clima e a sustentabilidade”, enfatiza.

Como uma maneira de contribuir para a construção de uma sociedade mais sustentável e na formação de uma moda decolonial, a estilista criou uma marca em 2017. A Nalimo surge com o intuito de ser ambientalmente responsável e comprometida em promover a diversidade e equidade de gênero.

“Reposicionei a marca, quando decidi potencializar mulheres em todas etapas de produções. Hoje somos um time feito 100% por mulheres. Geramos autonomia financeira e lideranças femininas na tomada de decisão do negócio”, destaca.

Na última sexta-feira (29) , Dayana participou do baile da Vogue, que acontece tradicionalmente há 20 anos. Neste ano, o tema central foi “Brasilidade fantástica”. Segundo a estilista, a expressão é muito superficial para um tema profundo. “O que é essa brasilidade fantástica se não a pluralidade dos povos indígenas dessa terra? A nossa presença nesses espaços, ainda é reflexo de um apagamento histórico. Estar nesses eventos é importante. Mas diversidade não se faz com uma pessoa. Outros criativos indígenas precisam estar em lugares que nunca pensaram em nos convidar antes”, defende.

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