BUMBA MEU BOI

Bumba Meu Boi: Da criminalização a maior festa cultural do estado

Um ditado popular em São Luís conta que o Boi não passava do Anil, o que poucas pessoas sabem é que a brincadeira foi considerada crime durante muitos anos

O Boi de Santa Fé foi fundando em 1988 por Zé Olhinho, natural de São Vicente Férrer. (Foto: @boidesantafeoficial @clicasaojoao)

O Bumba Meu Boi do Maranhão é um Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade. Envolvendo brincadeiras, expressões musicais, coreografia e a representação cultural, o ritual tem muitas simbologias e se renova a cada ano, trazendo consigo composições que reproduzem o ciclo da vida.

A festa popular, também conhecida como folguedo, é uma encenação das típicas relações sociais da época colonial, marcada pela escravidão e criação de gado existente na região, fazendo uma mistura entre as culturas africanas, indígenas e europeias.

Em uma vago resumo, o enredo da história acontece quando o escravo Pai Francisco mata o boi favorito do seu senhor para satisfazer a sua esposa grávida, Mãe Catirina, que desejava comer a língua do boi. Após o desaparecimento do animal e a investigação do crime, o senhor obriga o Pai Francisco a trazer o animal de volta e com a ajuda de pajés e curandeiros, o boi volta a vida e uma grande festa é realizada para celebrar o ato.

Acervo Casa do Maranhão. Foto: Cainã Oliveira

A criminalização

Hoje, o Bumba Meu Boi é a festa popular mais importante do estado, mas nem sempre foi assim. A manifestação cultural passou por vários processos para ser tão aceita quanto é nos dias atuais. Em meados do século XIX, a brincadeira sumiu de todos os registros durante 7 anos, estudos apontam que a data corresponde ao Código de Posturas de São Luís, Lei Provincial de 4 de julho de 1866, que, em seu artigo 124, “proibia a realização de batuques fora dos lugares permitidos pelas autoridades competentes”.

Segundo os relatos da época, alguns grupos de Bumba Meu Boi, costumavam brigar entre si, o que colaborou para a proibição do folguedo. Todos os relatos posteriores dão conta de festividades resumidas a zona de São Luís e regiões periféricas. Durante muito tempo a situação permaneceu a mesma, só em meados da década de 60, como conta o mediador da Caso do Maranhão, Ruan Fernandes, a brincadeira voltou a ser aceita.

“Muitas vezes foi proibido na época da escravidão e no pós escravidão também. Eles não conseguiam chegar no centro de São Luís, pois era muito criminalizado pelas elites. Apenas nos 60 e 70 que eles começam a abraçar essa cultura popular. Eles não deixavam eles se apresentar, tinham que pedir uma licença que muitas vezes não era cedida. Tudo com o intuito de não permitir que eles entrassem no coração da cidade.”

Ruan Fernandes, mediador da Casa do Maranhão
Acervo Casa do Maranhão. Foto: Cainã Oliveira

Ainda segundo o mediador Ruan, a imagem ofuscada que os governos e elites tinham sobre os grupos de boi começou a se modificar quando pesquisadores vieram ao Maranhão para conhecer mais sobre a brincadeira.

Veja também: Dossiê do Registro – Complexo Cultural do Bumba-meu-boi do Maranhão

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