SÃO LUIS

História: 95 anos do Ferro de Engomar

Sua construção teria acontecido em 1925

Reprodução

Moço, por favor, como faço para chegar à Praia do Desterro ?

Você desce pela Rua Formosa que fica ao lado do Bazar Ferro de Engomar.

 Dona, onde fica a Rua 14 de Julho?

Começa nos fundos do Bazar Ferro de Engomar.

Meu senhor, como faço para chegar ao Mercado Central?

Desça pela Avenida Magalhães de Almeida, que começa ao lado do Bazar Ferro de Engomar.

Era assim. O Bazar Ferro de Engomar era e continua sendo, do alto dos seus 95 anos, ponto de referência no Centro Histórico da cidade.

Petulante. Implantado de frente para o Largo do Carmo, na confluência da Avenida Magalhães de Almeida e Rua Formosa (Afonso Pena), mesmo não  tendo a atividade para a qual foi construído, continua sendo um marco no patrimônio arquitetônico do Centro Histórico de São Luís.

Sua construção teria acontecido  em 1925. O prédio teria pertencido a vários empresários, mas o seu proprietário mais notável foi o empresário Daniel Sales, que há cerca de trinta anos,  encerrou suas atividades comerciais, e o ciclo do seu bazar, indo residir no Rio de Janeiro com sua esposa Laura,  juntando-se aos filhos Laurita, José Carlos e Landry, que ali já se encontravam.

Conforme o barbeiro  Antonio Moraes- “Totó”,  titular, por mais de 60 anos, do Salão São José, localizado na esquina das ruas  14 de Julho e Afonso Pena, Daniel, quando se encontrava em uma das praças da cidade maravilhosa, tendo no pulso esquerdo um relógio de ouro, foi vítima de um assalto, o que o deixou traumatizado e não mais saiu de casa, até à sua morte, que foi seguida pela da esposa e dos filhos, todos vítimas de doença cardíaca.

Disse Totó, que chegando em São Luís, em 1953, oriundo de Pinheiro, na Baixada maranhense, se instalou com seu salão no mesmo local que funcionou até março deste ano, quando teve que se afastar preventivamente, face à sua adiantada faixa etária, em função do advento do Covid-19, doença provocada pelo Coronavírus, já encontrou funcionando o Bazar Ferro de Engomar.

O adeus de Daniel

Conta que ali havia uma variada oferta de produtos diversos que iam desde ferragens, utensílios domésticos, cosmético, tinturas para cabelos, tinta e graxas para sapatos, material para sapateiros e miudezas em geral.  Conta Totó Moraes, que no dia de sua viagem para o Rio de Janeiro, Daniel Sales esteve na barbearia e despediu-se, visto serem muito amigos e disse que não mais voltaria e ao sair da barbearia, no cruzamento das ruas 14 de julho e Afonso Pena, levantou os braços e olhando para o alto, gritou:

– “Adeus, Maranhão”.

Grande variedade de mercadorias

Como já foi dito, no Ferro de Engomar se encontrava todo tipo de ferragens e tudo, para uma casa. Escápulas (armadores de rede) cruzetas (cabide para roupas) enxadas, moedor de carnes, serrotes, fogareiros e, inclusive, ferros de engomar (ferro de passar roupas ) que continham o depósito para carvão, para as brasas que mantinham o utensílio devidamente aquecido. Bolas de couro e de seringa, bolas de gude, chapéus, bonés, etc.

Firmeza na concorrência

O Bazar Ferro de Engomar se mantinha firme na livre concorrência, porém eram poucos os estabelecimentos congêneres na cidade. Lembramos do Bazar  Valentin Maia, localizado na Rua Grande, num prédio na esquina da Rua Grande e Beco do Teatro, que também tinha uma variedade muito grande de produtos.

A Casa Amarela vendia artigos para o carnaval, como máscaras de papel machê, roupas de fofão, serpentina, confete e uma tintura que sujava as roupas do foliões, desapontando-os, e em seguida desaparecia, chamada Sangue do Diabo. Na seção de produtos para as festas de São João (festejos juninos), eram oferecidos fogos de artifício, bombas de murrão, de parede, estalinhos, e outros; e artigos escolares  como canetas, lápis coloridos e réguas com a tabuada, borrachas duas cores, cadernos e outros.

O Ferro de Engomar se mantinha firme mesmo com a forte concorrência da Loja 4.400, que depois virou Lojas Brasileiras e encerrou suas atividades com o nome de Lobrás, que foi  primeira loja de departamentos instalada em São Luís. Também concorria com o Bazar Tabuleiro da Baiana, que, como a Lobrás, ficava na Rua Grande, especialista em cosméticos e produtos de beleza.

O Ferro desaba

Há dez anos, no dia 30 de março de 2010, os moradores de São Luís foram surpreendidos com o desabamento do telhado do prédio Ferro de Engomar, que depois de desativado como bazar, deu lugar a uma lanchonete popular que servia merendas e refeições, sendo muito frequentada por comerciários e jornalistas, notadamente os funcionários de O Imparcial, cuja sede ficava num prédio em frente, na Rua Afonso Pena.

No desabamento, causado pela falta de manutenção e impulsionado por forte chuva, cinco pessoas ficaram feridas e foram retiradas de sob os escombros, inicialmente por guardadores de carros que trabalham na área e por homens do Corpo de Bombeiros,  e atendidas no Hospital Djalma Marques (Socorrão 1). Infelizmente foi registrado o óbito de uma idosa.

Ferro recuperado

Depois de nove anos reduzido a escombros, o prédio do Ferro de Engomar foi adquirido pelo empresário Reginaldo Cutrim Pinheiro, que tratou de adotar medidas preventivas para evitar o total desabamento do prédio e o reconstruiu, mantendo as suas características originais, porém com algumas pertenças para lhe assegurar maior segurança, visto que o mesmo se destinaria a dar continuidade a atividades empresariais e fica situado em uma área onde se registram constantes  arrombamentos de casas comerciais.

Assim foi feito, porém depois da obra concluída, apareceram os fiscais do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN, dando início a  um imbróglio sob o pretexto de que algumas modificações no telhado do prédio, o estariam descaracterizando.Com isso, até o momento, o empresário Reinaldo Pinheiro aguarda por decisões judiciais para poder se usufruir do seu prédio e recuperar os recursos aplicados na obra.

O Centro Histórico

O Decreto-Lei Nº 25, de 30 de novembro de 1937, da Presidência da República ( Casa Civil/Subchefia para Assuntos Jurídicos), determina no seu Capítulo 1, que constitui o patrimônio histórico e artístico nacional, o conjunto de bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico e que estes bens só serão considerados parte integrante do patrimônio histórico ou artístico nacional, depois de inscritos separada ou agrupadamente,  num dos quatro Livros de Tombo, previstos no  artigo 4º do referido Decreto-Lei.

Tombamento pelo estado

O Governo do Maranhão, considerando a necessidade de compatibilizar  os interesses do Estado do Maranhão com os da União Federal, expressos em documentos firmados entre o Governo Estadual, Ministérios e a Fundação  Universidade Federal do Maranhão, objetivando a restauração e utilização de prédios situados no Centro Histórico de São Luís, determinou através do Decreto Nº 10.089 de 06 de março de 1986, assinado pelo então governador Luiz Alves Coelho Rocha, o tombamento para os efeitos da Lei Estadual Nº 3.999 de 5 de dezembro de 1978, com a denominação de Zona Especial de Proteção ZE-2, o acervo arquitetônico, histórico e paisagístico da área urbana do Centro Histórico da Cidade de São Luís, cujos limites iniciam-se na intersecção entre a margem direita do Rio Bacanga e a linha limite da área tombada pela União, no seu ponto mais ao sul.

Deste ponto, segue-se pela margem direita do rio Bacanga, a montante, no sentido da barragem até a interseção entre a barragem e a perpendicular  traçada pela Rua de São Pantaleão, no seu ponto mais ao sul. Este ponto de interseção se encontra nas imediações do trevo  da barragem do rio Bacanga.

Segue por esta linha até encontrar a Rua São Pantaleão. Dobra-se à esquerda por esta rua, incluindo-se o casario pelo lado direito, até encontrar a Avenida Ribamar Pinheiro. Dobra-se  à direita por esta avenida, continua-se no mesmo sentido, pela Rua Oliveira Lima, e envolve-se a Praça da Saudade, até encontrar a Rua do Passeio, envolvendo-se seu casario do lado direito até atingir a Avenida Guaxenduba. Dobra-se à direita por esta avenida, incluindo-se o seu casario do lado direito, até encontrar-se com a Rua do Outeiro e segue-se por esta rua até encontrar a Rua Grande.

Dobra-se à direita pela Rua Grande, envolvendo-se todo o seu casario o lado direito, até atingir o nº 1374, e até nº 1413, pelo lado esquerdo. O limite mais a leste corresponde a uma extensão de 150 metros a contar da esquina leste da Rua da Concórdia com a Rua Grande.

Deste limite volta-se pela mesma Rua Grande, até encontrar, à direita a Rua da Concórdia. Dobra-se à direita, por esta rua, incluindo o seu casario e o Largo do Diamante , bem como o prédio da Delegacia Federal do Maranhão do Ministério da Agricultura. Fica excluído todo o casario restante, existente no referido largo.

Toma-se de novo, o sentido do cruzamento  da Rua Grande com a Travessa do Galpão,  segue-se à direita, por esta travessa, envolvendo-se  todo o seu casario do lado direito, continuando-se pela Rua dos Veados, excluindo o seu casario do lado direito, até a Rua dos Afogados. Dobra-se à esquerda pela Rua dos Afogados, incluindo-se o seu casario do lado  direito, até alcançar a Rua da Alegria.

Dobra-se pela Rua da Alegria, incluindo seu casario do lado direito, até encontrar a Rua Barão de Itapary. Dobra-se à esquerda pela Rua barão de Itapary, até à Rua das Hortas. Em seguida dobra-se à direita, pela Rua das Hortas, até à margem do Rio Anil. Daí segue-se a jusante, pela margem esquerda deste rio, até encontrar o limite norte da área tombada pela União, da mesma área, seguindo-se pela linha limite da mesma área tombada no sentido norte/sul, até o ponto de partida, fechando-se, assim, o polígono.

Neste tombamento foi aditado, na condição  de integrantes da ZE-2, para fins paisagísticos, o Parque do Bom Menino e o conjunto de moradias da Rua Senador João Pedro, lado leste da rua a partir do nº 285 ao 47 envolvendo todo o seu casario, numa extensão de 250 metros, a contar do cruzamento da Rua Senador João Pedro com a Rua Francisco Lisboa. Todo o casario da Avenida Magalhães de Almeida foi excluído deste tombamento.

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