FESTAS

Confira 5 teorias da conspiração no Natal

Brasil não estabeleceu nenhum tipo de restrição para reuniões de pessoas durante o Natal

Reprodução

Você temia por esse momento. Enquanto pede a seu tio para passar o pernil, ele casualmente menciona que uma vacina contra o coronavírus será usada para injetar microchips em nossos corpos para nos rastrear.

Ou seu cunhado, depois de algumas cervejas, começa a falar sobre como a covid-19 não passa de uma “gripezinha”.

Na contramão de dezenas de países, o Brasil não estabeleceu nenhum tipo de restrição para reuniões de pessoas durante o Natal. Assim, as chances de você se deparar com situações como essas nos próximos dias não são desprezíveis.

Os especialistas seguem recomendando que os brasileiros evitem aglomerações, especialmente diante da aceleração do número de casos de covid-19. Apesar dos riscos evidentes, entretanto, muitas famílias planejam comemorar o Natal com um encontro presencial.

Infectologistas e outros especialistas explicam que há medidas que podem tornar os encontros menos inseguros, embora destaquem que não é possível eliminar os riscos, apenas contê-los.

Mas, seja nas confraternizações virtuais ou presenciais, como debater fake news e teorias da conspiração sem arruinar a festa?

Mantenha a calma

Embora seja importante confrontar notícias falsas, de nada adianta se tudo termina em uma discussão inflamada.

“Minha regra número um é não estragar o Natal”, diz o britânico Mick West, autor de livros de ciência. “Uma conversa raivosa e acalorada deixará todos se sentindo mal e ainda contribuirá para consolidar as crenças conspiratórias.”

O psicólogo Jovan Byford, professor da Open University, observa que as teorias da conspiração costumam ter uma forte dimensão emocional.

“Elas não tratam apenas de certo e errado”, diz ele, “mas são sustentadas por ressentimento, raiva e indignação sobre como o mundo funciona.”

Essas teorias cresceram neste ano, diante da busca por explicações para a pandemia, das eleições americanas e dos grandes eventos mundiais.

Catherine, da Ilha de Wight, entende isso como ninguém. A britânica de 38 anos acreditava piamente em conspirações que pregavam que as vacinas eram usadas deliberadamente para prejudicar as pessoas. Mas mudou de opinião.

“É extremamente importante manter a calma o tempo todo”, diz ela. “A pessoa com quem você está falando costuma ser tão apaixonada quanto você por suas próprias crenças e as defenderá até o túmulo.”

E lembre-se: virologistas dizem que gritar aumenta a chance de espalhar o coronavírus.

Mais uma razão para manter a conversa em tom sereno.

Não desdenhe de seu interlocutor

“Fale com amigos e familiares com empatia em vez de sarcasmo”, diz Claire Wardle, da First Draft, uma organização sem fins lucrativos que luta contra a desinformação. “Ouça o que eles têm a dizer com paciência.”

A regra de ouro é: nunca envergonhe alguém publicamente por seus pontos de vista. É provável que o tiro saia pela culatra.

“Se você decidir discutir teorias da conspiração, não despreze as crenças da outra pessoa”, concorda Byford. “Estabeleça algum tipo de consenso.”

Lembre-se de que as pessoas costumam acreditar em teorias da conspiração porque, no fundo, estão preocupadas ou ansiosas. Tente entender esses sentimentos — principalmente em um ano como o que acabamos de ter.

Incentive o pensamento crítico

Pessoas que acreditam em teorias da conspiração costumam dizer: “Faço minha própria pesquisa.”

O problema é que a pesquisa delas tende a se restringir a vídeos obscuros no YouTube, seguir pessoas aleatórias no Facebook e selecionar evidências de contas tendenciosas do Twitter.

Mas o espírito de dúvida que permeia a internet conspiratória possibilita abrir caminho para o pensamento racional, diz Byford.

“Muitas pessoas que acreditam em teorias da conspiração se consideram desconfiadas e pesquisadores autodidatas em questões complexas”, diz ele. “Apresente isso como algo que, em princípio, você valoriza e de que compartilha”.

“Seu objetivo não é torná-las menos curiosas ou céticas, mas mudar sobre o que elas estão curiosas ou céticas.”

Isso foi o que ajudou Phil, de Belfast. Ele costumava acreditar em conspirações do 11 de setembro.

“Costumava apontar o fato de que havia vários especialistas que duvidavam das histórias oficiais. Isso foi muito convincente para mim”, explica. “Por que esses especialistas mentiriam?”

Mas então ele começou a aplicar ceticismo não apenas às “fontes oficiais”, mas também aos “especialistas” alternativos que acompanhava.

Ele desenvolveu uma compreensão mais profunda do método científico e do próprio ceticismo. Só porque um especialista acredita em algo, isso não significa que seja verdade.

“Você pode encontrar especialistas e pessoas muito inteligentes que dão crédito a qualquer posição”, diz ele.

“Concentre-se em quem está promovendo essas ideias e em suas intenções”, diz Claire Wardle. “Por exemplo, ganho financeiro com a venda de suplementos de saúde ou ganho de reputação na construção de seguidores.”

Faça perguntas

Checagem de fatos é importante, mas muitas vezes não é a abordagem mais eficaz quando alguém acredita apaixonadamente em conspirações. As perguntas são muito mais eficazes do que as afirmações, dizem os especialistas.

“Focar nas táticas e técnicas usadas pelas pessoas que promovem a desinformação é uma forma mais eficaz de abordar essas conversas do que tentar desmascarar as informações”, diz Wardle.

Pense em perguntas gerais que incentivem as pessoas a pensar sobre o que acreditam. Por exemplo, algumas de suas crenças são contraditórias? Os detalhes da teoria que elas descrevem fazem muito sentido? Elas pensaram sobre a contra-evidência?

“Ao fazer perguntas e levar as pessoas a perceber suas falhas, elas podem duvidar de sua própria confiança e ouvir pontos de vista alternativos”, diz Phil.

Não espere resultados imediatos

Você pode estar esperando que uma conversa construtiva termine com algum tipo de epifania em meio às rabanadas — mas não aposte nisso.

Para aqueles que confiam absolutamente nas teorias de conspiração, deixá-las de lado pode ser um processo muito longo.

“Seja realista sobre o que você pode alcançar”, diz Byford. “As teorias da conspiração instilam nos crentes um senso de superioridade. É um importante gerador de autoestima — o que os tornará resistentes a mudanças.”

Para a checadora de informações Claire Wardle, não se trata apenas de egos feridos. Este ano foi assustador — e para muitos, as teorias da conspiração têm sido uma fonte de conforto.

“Reconheça que todos tiveram suas vidas viradas de cabeça para baixo e estão buscando explicações”, diz ela.

“As teorias da conspiração tendem a ser histórias simples e poderosas que explicam o mundo. A realidade é complexa e confusa, o que é mais difícil para o nosso cérebro processar.”

Mas os especialistas concordam que, mesmo que você não veja resultados imediatos, não desista.

VER COMENTÁRIOS
Polícia
Concursos e Emprego
Esportes
Entretenimento e Cultura
Saúde
Mais Notícias