PATRIMÔNIO HISTÓRICO

Confira o charme da nova Praça João Lisboa

Está irreconhecível, com a maior reforma que já passou por mais de um século

Reprodução

A Praça João Lisboa ou Largo do Carmo, esplendor do conjunto arquitetônico-histórico de São Luís, já foi o centro financeiro e moradia dos ricaços portugueses que, por séculos, dominaram a cidade com suas construções azulejadas – cópia de capitão Lisboa. Porém, desde o meado do século XX, o espaço foi perdendo seus habitantes, suas lojas, como magazine Ferro de Engomar, escritórios de advocacia, bancos, bares de boêmios e o ponto final da linha de bondes demandada dos bairros Anil, Filipinho e Gonçalves Dias.

Hoje, as duas praças, que se tornaram uma só, nem parece a que os ludovicenses conheceram ao longo de décadas. Está irreconhecível, com a maior reforma que já passou por mais de um século, graças ao programa tocado pelo prefeito Edivaldo Júnior (PDT) em toda São Luís. Os operários já dão os retoques finais na operação de reconstrução da Praça João Lisboa, antigo Largo do Carmo. Contudo, ali não existe mais as bancas de jornal, a figura dos engraxates, as lojas comerciais e os escritórios e o Hotel São José, hospedaria obrigatória de prefeitos do interior do Maranhão, quando precisavam resolver problemas na Assembleia Legislativa, Rua do Egito, Palácio dos Leões ou no Tribunal de Justiça. Até tipos folclóricos, como o Rei dos Homens e o “professor” Elias Lopes da Silva há anos se mudaram para o andar de cima, onde habita o condômino daquele espaço – João Lisboa.

Era o tempo em que os prefeitos moravam nos municípios em que governavam. Não enriqueciam da noite para o dia e todos se encontravam no Hotel Ribamar, sem qualquer constrangimento. É um sobradão de quatro andares e mirante, em frente ao Abrigo, distante  apenas dois quarteirões da Zona do Baixo Meretrício. As ruas 28 de Julho e da Palma eram o ambiente em que o prazer sexual e o lazer carnal se completavam – num negócio tolerado e até guarnecido pelas Polícias Civil e Militar que tinham seus comados instalados dentro daquele quadrilátero urbano. Era o espaço da permissividade, da entrega intima e da cumplicidade temporária entre homens e as mulheres operadoras do prazer tolerado, medido no tempo e no valor da empreitada. Tudo isso é apenas história.

Sobre a reforma da praça

Com a reforma da Praça João Lisboa, o piso foi mudado, com a troca dos desenhos feitos em pastilhas, por um material de maior durabilidade. O asfalto que cobriu os trilhos dos bondes, deu lugar a paralelepípedos. O Relógio, em frente à Igreja do Carmo que, por décadas ficou parado no tempo, será substituído por um que, finalmente, terá disposição para marcar a passagem das horas e minutos. O Abrigo está fechado, pronto para ser demolido, mas esperando decisão da Justiça, com base em recursos dos proprietários das lanchonetes. O espaço, apesar de ser ganha-pão dos pequenos comerciantes, não compõe o conjunto histórico, de um pedaço, dos mais visitados do centro da capital maranhense.

Um lugar de fatos históricos

Inicialmente denominada de Largo do Carmo, devido ao Convento e Igreja Nossa Senhora de Monte Carmelo, a Praça João Lisboa está ligada a fatos históricos importantes da cidade, como a batalha entre holandeses e portugueses. Foi o local da primeira feira de São Luís, antes do Mercado da Praia Grande, do primeiro abrigo público, e do pelourinho, destruído após a Proclamação da República. No largo realizava-se a Festa de Santa Filomena, acontecimento de importância na vida da cidade. Em 1901, por meio de decreto municipal, recebeu a denominação de Praça João Lisboa em homenagem ao escritor e jornalista maranhense João Francisco Lisboa, que ali residiu.

Antigamente, a Praça era o coração de São Luís, onde se reuniam intelectuais e políticos para comentar a vida da cidade e discutir arte, política e literatura. Por essa razão, o local era chamado, ironicamente, de “Senado da Praça”. Tinha até o “presidente”, Michel Nazar. Durante este período, o logradouro também ficou conhecido como Praça da Liberdade. E quando os bondes dividiam o trânsito de São Luís com os primeiros ônibus de carroceria de madeira, montada em eixo de caminhão, a velha praça é um burburinho só.

O monumento em bronze, com pedestal de mármore, erguido em homenagem a João Lisboa em 1918, é obra do escultor francês Jean Magrou. A estátua foi primeiramente fixada no Largo do Carmo, e depois deslocada para a atual Praça. Sob este monumento estão as cinzas do patrono da cadeira número 11 da Academia Maranhense de Letras. Em 1912, ano do centenário de nascimento de João Lisboa, os maranhenses decidiram movimentar-se no sentido de enaltecer e perpetuar a sua memória. Com esse objetivo, o deputado e escritor Viriato Correia, na sessão de 8 de abril de 1911, apresentou um projeto de lei ao Congresso Legislativo do Estado, autorizando o governo a abrir crédito necessário para a construção de uma estátua, em São Luís, em homenagem ao jornalista.

Homenagem ao jornalista João Lisboa

No dia 26 de abril de 1911, ocorreu a transladação dos restos mortais de João Lisboa do Cemitério Municipal para o Largo do Carmo, onde foram enterrados no centro da praça, no lugar destinado à estátua. O homenageado foi jornalista, crítico, historiador, orador e político. Nasceu em Pirapemas (MA), em 22 de março de 1812. É o patrono da cadeira número 18 da Academia Brasileira de Letras, por escolha do fundador José Veríssimo.

Durante o difícil período da Regência e da Maioridade de D. Pedro II, Lisboa defendeu, na tribuna parlamentar e na imprensa, princípios da liberdade e interesses do povo, sendo injustamente acusado de participação na Balaiada. Retirou-se temporariamente da política, dedicando-se à literatura e à advocacia. Em 1847, recusou o convite para se apresentar como candidato a deputado geral, mas aceitou a participação na Assembleia Provincial, para a qual foi eleito no ano seguinte.

Assim, a Praça João Lisboa tem um marco relevante na história de São Luís. Enquanto seus moradores, comerciantes e agências bancárias faliram e as bancas de jornal desapareceram, com Othon Mondego e o resistente João Mendes, outras figuras, no entanto, permanecem ali, como testemunhas ocular de tudo que se passa no velho logradouro: os flanelinhas. Carlos Alves do Nascimento começou a trabalhar na Praça com 10 anos e até hoje, com 45, permanece como quem tem o dever de bater o ponto de entrada às 7h e de saída, às 18h. “Aqui consigo viver com dignidade e manter minha família. Dar para tirar até R$ 1,5 por mês. Gosto daqui porque é o centro de São Luís. Conheço todos da redondeza e herdei o local de meu pai. Com a reforma da Praça, nós, chefes de famílias, não sabemos como a situação vai ficar. Ninguém nos comunicou nada, mas acredito no bom senso das autoridades, para nos manter onde tiramos o sustento. Acredito que vai melhorar, com mais turistas deslumbrados com toda essa beleza que só São Luís tem”.

 

 

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