CENTRO HISTÓRICO

A polêmica acerca do abrigo da Praça João Lisboa

As obras de revitalização da Praça João Lisboa e Largo do Carmo deixam dúvidas sobre a permanência do abrigo do Largo do Carmo, no Centro Histórico de São Luís

Reprodução

O abrigo do Largo do Carmo é considerado um marco da nossa história, na segunda metade do século passado. Construído na administração do interventor Paulo Ramos e inaugurado em 1951, no Governo Eugênio Barros, passando a ser ponto de encontro de políticos, intelectuais, jornalistas e de toda comunidade, que ao fazer compras na Rua Grande, ou após assistir à missa na Igreja do Carmo ou à sessão dos cinemas Éden, Rival ou Roxy, serviam-se das lanchonetes do abrigo do Largo do Carmo, para uma alimentação rápida. O bate-papo dos políticos, intelectuais e jornalistas, era diário.

Aquele abrigo era uma espécie de “porto seguro” para os trabalhadores da imediações que ali, a qualquer hora do dia ou da noite, encontravam lanches ou uma refeição, assim como os boêmios notívagos que após uma noitada, se deslocavam ao abrigo para um cafézinho ou mesmo para tomar a “saideira” e depois tomar um táxi, que ali sempre estava à disposição dos usuários dos “carros de praça”.

Durante a madrugada, o abrigo virava ponto de encontro de jornalistas e radialistas que se reuniam para um bate papo que se estendia até às ultimas horas da madrugada.

Era comum ver ali os jornalistas de O Imparcial, Jornal do Dia, O Combate, Jornal Pequeno e outros, assim como seus operários gráficos como o Diquinho do Serrote, Seu Mário, também editores e intelectuais como Alfredo Galvão, Ubiratan Teixeira, Carlos Cunha, Bernardo Coelho de Almeida, Nauro Machado, Nascimento de Moraes Filho e outros de gerações mais novas, que seguiram o mesmo caminho de seus antecessores, nas redações de jornais e na frequência ao abrigo do Largo do Carmo.

Grande dúvida

É grande a expectativa dos permissionários, que fazem do abrigo da Largo do Carmo, seu local de trabalho, e se sentem ameaçados de ficar sem renda, o que se configura como sério problema para as famílias que ali trabalhavam. Todos estão temerosos de perder seu local de trabalho e ficar sem renda para sua subsistência e de seus filhos.

Com as obras de revitalização da Praça João Lisboa e Largo do Carmo, os permissionários foram transferidos para a Avenida Magalhães de Almeida, onde permanecem precariamente aguardando o fim das obras para que retornem ao seu local de trabalho, o que até agora não aconteceu. O velho abrigo foi agora fechado com tapume, dando a entender de que a obra de sua revitalização vai ficar para quando “Deus der bom tempo”.

Faz parte da história do Centro Histórico

O abrigo do Largo do Carmo tem história e já está inserido no cenário do velho Largo do Carmo, tendo sido construído pelo interventor Paulo Ramos e inaugurado em 1951 pelo governador Eugenio Barros, com permissões que foram passando de pais para filhos, exemplificando-se a Garapeira do Guará e o Café São Jorge, que tinha como seu detentor Jorge Pereira da Silva, natural de São Bento e que instalou ali sua pequena cafeteria em 20 de junho de 1951, permanecendo até à sua morte, quando o negócio foi assumido pelos seus filhos, que permanecem até hoje.

Foi inspirado no bate-papo na cafeteria de Jorge, que o jornalista Ribamar Bogéa, criou a sessão “No Cafézinho”, que manteve por muito tempo no Jornal Pequeno.

Outro permissionário histórico é Adauto Cavalcante, que tem seu pequeno restaurante ali instalado há 54 anos. Ele se manifestou preocupado, visto que é dali que alimenta sua família de quatro filhos. Adauto acredita na revitalização do abrigo e na volta dos que ali trabalham. “As lanchonetes do abrigo prestam bom serviço à sociedade”, avalia o pequeno comerciante.

Mauro Sanches é taxista há 25 anos, tendo como ponto o Posto Neon, que fica atrelado ao abrigo do Largo do Carmo. Ele se manifesta preocupado com a ideia preliminar de mudança do local do posto de táxi para outro mais distante, o que ele garante que vai prejudicar a ele e aos seus colegas, visto que eles tem como principal clientela os consumidores que saem das compras na Rua Grande e buscam um táxi no posto que fica bem próximo, ao lado do abrigo, mas descarta a possibilidade de demolição do abrigo e retirada de seus permissionários, embora defenda que as atividades comerciais ali desenvolvidas, careçam ser melhor organizadas.

Em defesa do patrimônio

Foi realizada na manhã da sexta-feira (14), uma reunião no Largo do Carmo com poetas, jornalistas, radialistas, funcionários públicos e pessoas da sociedade civil, para um debate sobre a criação do Comitê de Defesa do Centro Histórico, com a presença confirmada dos jornalistas José Ribamar Gomes (Gojoba), Herbert de Jesus Santos, Cesar Teixeira, Douglas Cunha, Josemar Pinheiro, o administrador Expedito Moraes, o músico João Pedro Borges e outros.

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