DURANTE ISOLAMENTO

Vício em séries: streaming ganha destaque no confinamento ditado pela pandemia

Plataformas como HBO, FOX, Netflix, Amazon Prime e Globoplay permitem acesso permanente a uma torrente de séries (ou conteúdos), que leva quem está no ócio da quarentena a consumí-las vorazmente.

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O isolamento social levou grande parte dos brasileiros a ampliar o o consumo de streaming. Plataformas como HBO, FOX, Netflix, Amazon Prime e Globoplay permitem acesso permanente a uma torrente de séries (ou conteúdos), que leva quem está no ócio da quarentena a consumí-las vorazmente. Dessa forma, a maranhense Jéssika Aragão, de 32 anos, dribla crises de ansiedade, estimuladas pelas medidas restritivas da Covid-19. A psicóloga Yram de Olinda Neves Miranda frisa que ninguém é obrigado a pensar apenas sobre os índices de mortalidade ou o desemprego, causados pela pandemia.

Já os especialistas de audiovisual, Sheury Manuela Silva Neves e Bruno Maia, atestam: o período atual é sem precedentes para o mercado moderno do entretenimento, e fazem comentários sobre a indústria cultural, em meio à apreensão global causada pelo novo coronavírus. E, no fim desta matéria, O Imparcial, pensando nos cinéfilos enclausurados, disponibilizou uma lista TOP 10 de séries para maratonar em casa.

Jéssika Aragão é jornalista e já está na metade do curso de medicina. Ela contou que já tinha crises de ansiedade quando os primeiros casos de Covid-19 começaram a aparecer no Brasil. Até aquele momento, o tratamento evoluía conforme o esperado. O quadro, no entanto, ficou mais sério para o país e para Jéssika. O novo coronavírus se espalhou com rapidez e, a fim de evitar uma contaminação em massa, serviços não essenciais pouco a pouco foram fechados. Universidades baixaram as portas, e as conversas presenciais da maranhense com o psicólogo que a acompanha tiveram que ser suspensas. Era hora de ficar em casa.

Jéssika Aragão, da sala de seu apê em São Luís, maratona séries, como forma de aliviar a ansiedade do isolamento social

Enquanto está no seu “lockdown” particular, pedindo delivery pelo aplicativo, Jéssika avisa que faz seu “binge-watching” nas plataformas de streaming. “Eu estou trancada em um apartamento pequeno, em São Luís (MA), com minha mãe, e o meu irmão, que é enfermeiro, e, devido estar trabalhando direto com a Covid-19, fica mais tempo no hospital. Recente, voltei às conversas – duas vezes na semana, via Skype -, com o meu psicólogo. E, pelas manhãs, assisto aulas online das matérias de medicina. Consumir séries tem sido meu melhor e, talvez, único entretenimento”, revelou.

Novelas aparecem como novo caminho para o streaming

As séries americanas “Lost” e “Grey’s Anatomy” foram as primeiras maratonadas por Jéssika; isto, a partir de 2008. Atualmente, a jornalista diz que as séries não são o único caminho nem necessariamente o melhor para o serviço de streaming, sobretudo em países ibero-americanos, como o Brasil, ou mesmo os gigantes asiáticos como a China. Tem as novelas.

“Aprendi isso assistindo as 16 temporadas de Grey’s Anatomy. Mesmo que eu, às vezes, vire a madrugada e amanheça o dia seguinte assistindo, é exaustivo. Algumas séries enterraram o gancho clássico, a cena final, insidiosa, que fisga o espectador e o enche de expectativa para o episódio seguinte”, analisou Jéssika.

A jornalista contou que, em 2016, iniciou uma busca por séries mais rápidas. Então, descobriu o “fantástico mundo das produções asiáticas”. “Eu assisto a tudo, na verdade. Minha playlist é uma ‘farofa de bacon com uvas passas’. Entretanto, amo animes – que são desenhos asiáticos; sou apaixonada pelos ‘live action’; e, por fim, me encanto por doramas, que são as novelas da Ásia. 98% dessas produções costumam ter apenas uma temporada, de 16 episódios. No fim, sempre fica o gostinho de quero mais”, detalhou.

Na quarentena, Jéssika já maratonou mais de 15 produções: “Extracurricular”, “Mad Men”, “Community”, “Never Have I Ever”, “Brooklyn Nine-nine”, “Atlanta”, “Crash Landing on You”, “Chocolate”, “Spartacus”, “The Boys”, “Amor moderno”, “Maravilhosa Sra. Maisel”, “Master of None”, “Sex Education”, “Rick and Morty”, só para citar algumas. “Participo, inclusive, de grupos no Facebook e WhatsApp, de pessoas fissuradas em séries. Há amigos virtuais, que já me convidaram para ver novelas turcas”, revelou Jéssika.

Cabeça em ordem

De acordo com a psicóloga Yram de Olinda Neves Miranda, uma dose de aflição em relação à saúde ou à situação financeira dos próximos meses, devido à crise pandêmica da Covid-19, é normal. Yram vê como positivo o consumo de séries, mas a recomendação aos espectadores é ir com calma na hora de maratonar os conteúdos audiovisuais.

“Apesar de existirem casos sérios, a ansiedade é um sentimento natural, e compreensivo à falta de controle frente às incertezas do momento de quarentena. É importante fugir um pouco das notícias midiáticas e negativas sobre a pandemia, recorrendo ao hábito de assistir séries e filmes. O único cuidado que se deve ter é o de perceber até que ponto o consumo nas plataformas de streaming pode se tornar um vício desenfreado. Deve ser feita uma absorção saudável desses produtos, a fim de que se evite problemas no sono, de relacionamento, e cansaço ocular ou fadiga”, alertou a psicóloga.

Psicóloga diz que é possível manter a tranquilidade com entretenimentos de streaming. 

A especialista ainda deu dicas de como não perder o controle durante o isolamento social. Yram Miranda sugere que as pessoas regulem o aproveitamento de notícias sobre a Covid-19. “Se sentir sintomas de ansiedade, pare e respire”, aconselhou. No mais, a psicóloga diz que os horários de dormir e acordar, e das três principais refeições do dia, devem ser mantidos todos os dias, religiosamente, pois, toda quarentena tem seu fim. “E quando ele chegar, as pessoas também precisarão de um tempo particular para se reajustarem à rotina de horários no emprego, escola ou universidade”, recomendou Yram.

O lado B do audiovisual na quarentena

Se por um lado há uma gama grande de opções de séries, filmes, novelas, e documentários nas plataformas de streaming, por outro, em março, já havia várias atrações em produção suspensas, tanto para TV e streaming, quanto para cinema. A sede da Netflix em Hollywood estaria fechada, lacrada e vazia. Os estúdios Disney e Warner Bros, e a agência Creative Artists Agency (CAA), em Los Angeles, tinham feito a mesma coisa.

Não é a primeira vez que Hollywood e a indústria enfrentam uma crise paralisadora. Em 2001, o ataque ao World Trade Center imobilizou esta cidade num clima de pavor e trauma. Todos os eventos, pequenos e grandes, foram cancelados. Os planos para os esperados shows de entregas de prêmios foram temporariamente suspensos e repensados. Meses depois, cabines e estreias voltaram (o primeiro filme exibido foi “Zoolander”), os tapetes vermelhos foram finalmente desenrolados, as estatuetas, polidas.

Em 2007, quando os roteiristas entraram em greve, nos Estados Unidos, todos os programas de TV e toda as séries e filmes em desenvolvimento puxaram o freio. Os atores cruzaram os braços em solidariedade. O Globo de Ouro não foi cancelado, mas quase nenhuma celebridade apareceu, e jornalistas anunciaram os vencedores.

Apesar da crise no entretenimento, Sheury Manuela Silva Neves, que trabalha há 15 anos no mercado audiovisual, afirma, com base no seu otimismo, que não há chances de o público “aprender” a ver cinema em casa, deixando com isso de frequentar o teatro, shows, e salas de cinemas, depois que a quarentena acabar. Sheury é formada em Publicidade e Propaganda, tem cursos na Academia Nacional de Cinema, e já fez trabalhos em comerciais de TV, filmes e novelas.

Sheury Neves segura o troféu da premiação de Aquarela, um curta metragem maranhense, premiado no 26º Festival de Cinema de Gramado (RS), em 2018. Sheury foi produtora executiva de Aquarela, e ganhou os prêmios nas categorias “melhor desenho de som” e “melhor montagem”. Foto: Jesús Pérez-Chuseto

“A chegada da TV não acabou com o hábito de ir ao cinema. Gostamos de estar juntos e ver narrativas visuais no escuro. As pessoas se cansam de ver as coisas em suas telas de casa. As bilheterias do cinema rendem muito dinheiro. O filme Vingadores, por exemplo, não teria tido o mesmo sucesso financeiro, se lançado apenas nos streamings. Logo, o cinema está levando um baque, devido à pandemia, mas vai se recuperar”, enfatizou Sheury Neves. Entre outros dados históricos, o cinema também resistiu à Segunda Guerra Mundial, e idem ao advento do videocassete e do DVD.

Calendário comprometido

Entretanto, estúdios, TVs, streamers e produtoras têm um problema em comum: paralisar gravações significa uma futura escassez de conteúdos novos e um verdadeiro quebra-cabeças para planejar o calendário de exibição, algo preparado e calculado milimetricamente, com antecedência de meses, às vezes anos. Bruno Magno de Sousa Gomes, que é roteirista da Companhia Pão com Ovo, informou a O Imparcial, que, devido à Covid-19, duas sessões completamente lotadas da peça, em Brasília, foram canceladas este ano. “Estávamos com temporada confirmada, também, em São Paulo (SP), no Teatro Itália”, lamentou Bruno.

Top 10 para ver em casa

O Imparcial inicia a lista com uma sugestão feita por Bruno Magno. Para o roteirista, conexões de personagens com os espectadores são fundamentais para o sucesso de uma série. “‘Anne With An E’ é uma aula de roteiro, uma direção fluída, e a produção traz um feminismo educativo extremamente importante nos dias atuais. Não queremos necessariamente uma redenção ou um beijo apaixonado no final do arco de uma temporada, mas esperamos sentir empatia pelo universo ficcional criado. Achei um golaço da Netflix, em produzir novas temporadas”, informou Bruno, ao contar que maratonou esta série na quarentena.

Veja a lista e prepare a pipoca!

– A série Anne with an E é digna de maratonar durante esta quarentena

1 – “Anne with an E” foi produzida pelo canal canadense CBC, em parceria com a Netflix. A série, que está na sua terceira temporada, é uma adaptação do romance “Anne de Green Gables”, clássico infantil de 1908 de L. M. Montgomery. A série acompanha as aventuras da órfã Anne Shirley.

2 –  “La casa de papel” é exibida na Netflix. Ela conta a história de um grupo de bandidos que se reúne para roubar a Casa da Moeda da Espanha.

3 – “The affair” vencedora de um Globo de Ouro de melhor série dramática, ela está na Globoplay com todas suas cinco temporadas completas.

 4 – “Game of thrones” é a série de maior sucesso do streaming HBO. Sua última temporada foi estrelada há um ano, 14 de abril de 2019.

5 – “Euphoria”. Lançada com grande expectativa pela HBO, a trama trata do universo das high schools americanas, com aquelas relações interpessoais complicadas, as drogas, as redes sociais e o consumo desenfreado de pornografia na internet.

 6- ‘The boys’. A Amazon entrou no filão das séries de super-heróis com “The boys”, que adapta os quadrinhos de Garth Ennis e Darick Robertson. Com Seth Rogen entre os criadores, a comédia sombria mostra um mundo em que os super-heróis foram corrompidos pela poder.

7- “Good omens”. A série é exibida na Amazon Prime. Ela é inspirada num livro publicado por Terry Pratchett e Neil Gaiman, em 1990. Um anjo e um demônio habituados à vida entre os seres humanos se unem para evitar a chegada do Anticristo e o fim do mundo.

Protagonista de Ilha de Ferro, Cauã se firma como um dos nomes mais fortes da TV Brasileira da atualidade.

 8- “Ilha de Ferro”. Série estrelada por Cauã Reymond, “Ilha de ferro” foi produzida para a Globoplay, do Grupo Globo. Sua estreia foi em 2018.

9- “Breakin Bad” – Uma das melhores séries da chamada “era do ouro” da televisão. Breaking bad” está disponível na Netflix. O professor de química do ensino médio descobre ser portador de uma doença terminal e decide fabricar drogas para garantir um pecúlio para a família. Só que as questões que o motivam, no fim das contas, são mais do que as objetivas. A travessia na direção das atividades ilegais funciona como uma aventura de autoconhecimento.

10 – “Maravilhosa Sra. Maisel”. A série é exibida no Amazon Prime. Midge Maisel (Rachel Brosnahan) é uma dona de casa nova-iorquina que vê sua vida virada de cabeça para baixo quando seu marido, o incompetente e sem talento Joel (Michael Zegen), a troca pela secretária.

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