“Conforme fossem as circunstâncias, a gente ía ultrapassando elas”, contou Isabel, que começou o famoso mês das noivas casando-se com o noivo, João Pedro Viégas, em uma cerimônia virtual. O casamento tradicional estava marcado para ocorrer em meados de maio, em um bistrô da capital maranhense, São Luís, mas, por causa das regras de isolamento social para a prevenção da COVID-19, teve que ser transformado em algo totalmente novo.

A cerimônia, realizada no dia 1º de maio, feriado do Dia do Trabalho, foi transmitida ao vivo diretamente da sala da casa da noiva, via rede social. Durou pouco mais de uma hora e foi conduzida virtualmente pela pastora Vânia Veloso, que estava na própria residência enquanto dava a bênção ao casal. O sucesso foi tanto que a ‘live’ chegou a 2 mil espectadores simultâneos de várias partes do Brasil.

“Esse formato on-line foi um modelo que a gente encontrou para, mesmo distante, unir todo mundo”, expressou João Pedro. Ele conta que ideia do casal acabou ganhando uma proporção muito grande nas redes sociais. “Várias pessoas começaram a seguir, muitos curiosos, e a gente acabou levando muita esperança a tanta gente nesse momento de pandemia”, pontuou.

A pastora, da Igreja Batista Catedral da Adoração, revelou que nunca havia feito nada parecido antes. No começo, estranhou o convite dos então noivos; mas, depois, surpreendeu-se com o resultado da festa nada convencional. “Para mim, [a decisão deles] foi uma grande surpresa. Até dei a sugestão de fazer o casamento mais para o fim do ano, mas eles estavam muito decididos. Perguntaram se eu encararia esse desafio. Mesmo que para mim fosse algo inusitado, como era desejo do coração deles, eu aceitei participar. Foi uma quebra de tabus e paradigmas, para viver algo diferente nesse tempo de isolamento”, compartilhou Vânia.

Planejamento

O casamento tradicional de Isabel e João Pedro estava marcado desde o começo deste ano. Desde então, tudo já estava pago: vestido, bolo, decoração, buffet e até a banda. Porém, tão logo os noivos decidiram alguns detalhes da cerimônia, a situação do novo coronavírus começou a se agravar no mundo e o casal redobrou a atenção para possíveis mudanças.

Um dos primeiros países a serem atingidos foi a Itália, onde os dois passariam a lua-de-mel. Então, eles logo desmarcaram a viagem – um passeio de cruzeiro com cinco dias de duração – e passaram a considerar um destino nacional.

Quando começaram a noticiar os primeiros casos no Brasil, o casal quase decidiu por adiar ou cancelar a cerimônia. Entretanto, depois de refletirem bastante, ambos decidiram adaptar a festa para um modo em que os convidados pudessem estar presentes, embora não fisicamente. “A gente tem sonhado com essa data há muito tempo e decidiu permanecer e encarar”, explicou Isabel.

Com a nova ideia à frente, o casal criou um perfil no Instagram exclusivamente para a realização do “evento” on-line – o que despertou a curiosidade de outras pessoas país afora; muita gente, inclusive, vivendo as mesmas angústias e preocupações, em situações semelhantes.

“Eu comecei a receber muitas mensagens de mulheres de fora perguntando, muitas com medo e incerteza. A gente conheceu muita gente bacana de todo o Brasil. Conversei com cerimonialistas de São Paulo, de Minas Gerais, [de estados] do Nordeste…”, contou Isabel.

No grande dia, para não pôr ninguém em risco, somente se reuniram o noivo, a noiva, o fotógrafo e o cinematógrafo, que são amigos do casal e já haviam sido contratados. Até a decoração, que já estava paga para ser usada na festa tradicional, conseguiu ser aproveitada para enfeitar o ambiente da transmissão.

Sobre os prejuízos, Isabel explicou que, no fim das contas, apenas 30% de tudo o que já estava pago foi perdido. A maioria dos pagamentos foi devolvida; para alguns fornecedores houve o pagamento de multa, e para outros o investimento ficou como ‘crédito’ para ser usado após a crise provocada pela pandemia. Foi o caso do salão de beleza onde a noiva se produziria, por exemplo.

O casamento foi religioso com efeito civil – quando a oficialização da união ocorre fora do cartório, normalmente na Igreja, e é reconhecido pelo Estado. O termo do cartório já estava à mão, já que os noivos o providenciaram anteriormente, e bastou assiná-lo na presença das testemunhas, que estavam acompanhando a cerimônia.

“Um casamento presencial seria praticamente impossível de se fazer com esse número tão elevado de convidados”, refletiu a pastora, “e esse ‘ao vivo’ deu a oportunidade para muitas pessoas participarem, o que, para mim, foi extraordinário”, concluiu.

Casamentos durante a pandemia

O número de matrimônios registrados em cartórios no estado caiu drasticamente, se comparado ao mesmo período do ano passado, segundo a Associação dos Registradores Civis (Arpen) do Maranhão. Por causa da restrição ao contato social, a maioria dos casais está adiando o evento.

Ainda de acordo com a Associação, os casamentos civis continuavam sendo realizados até a última segunda-feira (4), embora que em quantidade muito menor. A partir da terça (5), em decorrência dos decretos que dão início ao lockdown (bloqueio total) na região metropolitana de São Luís, todos os casamentos que ocorreriam foram suspensos até o dia 15 de maio. Ao fim do prazo, o cartório deve entrar em contato com os casais para remarcar as datas.