TRAJETÓRIA

A desafiadora trajetória de O Imparcial chegar aos 94 anos, sem interrupção

São 36.052 edições – nenhuma igual a outra – o que significa fazer diariamente um produto completamente novo, por tanto tempo

Desde a Roma Antiga, que produzia a sua a Acta Diurna, um boletim de anúncios do governo, sendo esculpidos em metal ou pedra e exibidos em locais públicos, até os dias atuais, o jornal como meio de comunicação por notícias tem se deparado com constantes desafios para acompanhar a evolução social onde atua, sem perder o tino. Assim como as cidades são a síntese da evolução social da humanidade, passando de vilas a glomerados e depois às megalópoles, os jornais se fizeram presentes por uma simples razão: a comunicação é uma exigência da natureza do ser humano.

Neste dia primeiro de maio, O Imparcial está completando 94 anos de circulação ininterrupta. São 36.052 edições – nenhuma igual a outra – o que significa fazer diariamente um produto completamente novo, por tanto tempo. Poucas marcas de produtos ou lajas de varejo, que viram ou anunciaram nas primeiras edições de O Imparcial, conseguiram sobreviver por tantos anos, como por exemplo, o Centro Elétrico, que funciona desde 1923 e a Moderna (magazine de linha, botões, fitas, etc.), ambas situadas na Rua Grande. O popular Cuscuz Ideal, que há mais de 100 anos é vendido nas ruas da capital maranhense, também merece destaque. Até hoje adota o mesmo sistema, de pregoeiro.

Uma instituição

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Não é fácil contar a história de 94 anos do jornal, que se tornou uma instituição do Maranhão seguindo o padrão crítico e contundente na defesa das liberdades. Afinal, sua trajetória e síntese do que publica são a matéria que sustenta a história de São Luís, do Maranhão e do mundo. Já no século 17, a necessidade de uma nova forma de mídia ganhou força com a invenção da prensa móvel, expandindo a imprensa. Nascia, pois, o jornal em alemão Relation aller Fürnemmen und gedenckwürdigen Historien, impresso a partir de 1605 por Johann Carolus em Estrasburgo, reconhecido como o primeiro jornal da história.

O Imparcial, por sua vez, foi uma experiência fascinante ao ser posto em circulação no dia 1º de maio de 1926 pelo empresário João Pires Ferreira. Mesmo sem ser jornalista de outros veíclos, ele investiu seus recursos de empresário importador e exportador pelo porto da Praia Grande, num jornal diferente dos de então. Eram veículos de conteúdo político, por ser a única forma de expandir debates, produzir notícias, fake news e obter poder a quem se utilizava o meio impresso para descarregar ataques virulentos entre adversários.

O que é imprensa marrom

O Imparcial buscava olhar a notícia como informação e não como armada de ataques e contra-ataques da politicagem de baixo nível, num vale-tudo sem ético. Não foi fácil fazer o diferencial, equilibrando a notícia, dando-lhe credibilidade numa época marcada pelo que se denominou Imprensa marrom. Era o tipo de jornalismo, focado em notícias sensacionalistas as quais os dados eram as primeiras vítimas. A notícia falsa era tão perigosa quanto hoje. Em 1926 nem era ainda a era do rádio no Maranhão. Porém, o jornal impresso já apontava grandes vultos na arte de escrever artigos, produzir livros e apoiar as demais manifestações culturais, esportivas e governamentais.

O termo imprensa marrom é inspirado no termo yellow press (imprensa amarela), que surgiu nos Estados Unidos, quando no final do século XIX os jornais New York World e The New York Journal brigavam para ver quem iria publicar em suas páginas o desenho Yellow Kid. A briga foi tão forte que ambos começaram a difundir notícias falsas, sensacionalistas e sem escrúpulos para atacar o concorrente e vender mais jornais.

No Brasil, a adaptação do termo ocorreu pelo jornalista Calazans Fernandes. Por achar a cor amarela muito amena, escolheu substituí-la pela cor marrom para fazer referência a imprensa sensacionalista e mentirosa. A primeira revista brasileira a ser acusada de agir como imprensa marrom foi a revista Escândalo, que extorquia dinheiro de pessoas fotografadas em situações comprometedoras (estilo paparazzo de hoje). Certa vez, um homem fotografado pela revista se suicidou após se negar a pagar para não ter sua foto publicada.

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No Maranhão não tem sido fácil um jornal sem pertencer a grupos empresariais locais, ou políticos, chegar a 94 anos. Uma idade única na imprensa maranhense, que só foi possível graças a dedicação da equipe comandada há mais de 35 anos pelo jornalista Pedro Freire. Também conta com as inestimáveis e imprescindíveis parcerias respeitosas de empresários, dos leitores, assinantes e dos governos federal, estadual e municipal. Também devemos reconhecer e louvar a abnegada e persistente dedicação dos jornalistas atuais e dos inúmeros que emprestaram o seu talento ao jornal O Imparcial, assim como os colaboradores, articulistas e jornaleiros.

O futuro dos impressos

Já em 2008, quando a internet, suas plataformas e aplicativos ainda estavam engatinhando, o jornalista e escritor Eric Alterman publicou um excelente texto na revista americana The New Yorker sobre a vida e a morte dos jornais impressos. O artigo de Alterman comporta diversas leituras. Embora o seu foco seja a disputa entre jornalismo impresso e jornalismo online nos Estados Unidos, ele pode provocar muitas considerações sobre o futuro provável dos jornais diários em qualquer lugar do mundo.

Não é pequeno o número de analistas da comunicação que vêm prevendo já há algum tempo o fim dos jornais como algo inevitável. Porém, ninguém é capaz de dizer com certeza o que ocorrerá. Só o tempo dirá. Basta, no entanto, olhar-se, com bom sendo e conhecimento, a história. Por esse prisma é possível moderar um pouco o tom apocalíptico sobre o futuro das mídias impressas, com seus sofrimentos em razão do declínio do faturamento, da concorrência devastadora das outras mídias digitais, do esvaziamento das redações e da penosa eliminação de empregos em razão das novas tecnologias.

Intransigente com a liberdade

Com todo esse tsunami despejado sobre os jornais impressos, muitos estão resistindo, outros mudaram de formato ou acabaram. Mas a reinvenção é o caminho e o apego à luta por direitos, democracia, liberdade, igualdade e integralidade aos fatos. Pesquisas recentes no Brasil mostram que os jornais impressos continuam sendo a mídia mais confiável para os eleitores. O Imparcial tem procurado ser retilíneo nessa trilha, buscando ser leal à notícia, respeitoso ao leitor na defesa da democracia. Afinal, a maior de todas as liberdades é de liberdade de expressão, seja no jornalismo, seja nas artes ou no dia a dia do indivíduo como ser pensante.

O mundo debate esse tema fundamental: como manter os jornais cumprindo o seu papel. Só assim é possível fazê-lo sobreviver. Uma das alternativas é praticar o jornalismo comunitário, preciso, bem feito, atraente, completo, correto nas análises, e, obviamente, nas duas plataformas: impressa e digital. Quem afirma isso é o presidente da Associação Nacional dos Jornais (ANJ) Marcelo Rech. Segundo ele, os jornais de conteúdo impresso “vão sobreviver independente do formato”. Em momento histórico como o atual, o jornalismo sério, compenetrado de sua função ganha ainda mais relevância.

Portanto, a hora é agora, de todos unirem-se à luta pela sobrevivência de um jornal como O Imparcial, apoiando a publicidade impressa, ou digital, no portal online, que se tornou o maior do Maranhão, com uma média de quatro e cinco milhões de acessos mensais. A razão é uma só: respeito ao leitor, ser versátil e comprometido com a notícia, como um bem inarredável do cidadão, respeitando as divergências e sustentando a crença de que com democracia todos ganham. Até pesquisa sobre eventual contaminação do leitor com o civd19 por contato com o jornal impresso já foi realizada em alguns países, inclusive o Brasil, e nenhum indício foi constatado.

Em todo o planeta, desde que o vírus começou a se espalhar na China, não há registro de infecção decorrente do contato com jornais, revistas, documentos impressos ou caixas de papel. A International News Media Association (INMA), uma das mais respeitadas organizações de mídia do mundo, acaba de publicar um estudo ouvindo cientistas e médicos, que atestam que não houve incidentes e reforçam que o risco de infecção pelos jornais é mínimo devido às características do papel poroso e ao tempo que um exemplar deixa a gráfica e chega à casa dos assinantes ou às bancas. É conhecido, e temos reforçado essa informação em nossas reportagens, que o vírus pode, sim, permanecer em objetos por um determinado período, variando conforme a natureza do material.

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