FUNK

Carnaval ok. Fantasia ok. Música ok?

Em todo o Brasil esse e outros funks invadiram as festas de pré-carnaval

Divulgação

Por aqui, assim como em muitas partes do país, o carnaval já começou faz tempo com as prévias. Muita folia aos finais de semana e muita diversão em meios às escolas de samba, trios elétricos, blocos de rua, bandas, bailes… No carnaval tem de tudo um pouco e sempre rolam aquelas músicas que se tornam hits. Você sabe qual é a grande aposta musical para o carnaval deste ano no Brasil? Quando você faz uma busca na Internet, em uma relação de 10 músicas mais ouvidas ou mais tocadas, 9 delas são do estilo funk, dentre elas, “Tudo OK”, de Thiaguinho MT.

“É hoje que ele paga todo o mal que ele te fez/É hoje que ele paga todo o mal que ele te fez/Cabelo ok, marquinha ok, sobrancelha ok, a unha tá ok/Brota no bailão, pro desespero do seu ex/Brota no bailão, pro desespero do seu ex”, diz um trecho da música, a febre do momento, principalmente nas plataformas digitais e redes sociais.

Em todo o Brasil esse e outros funks invadiram as festas de pré-carnaval. Enquanto produtores e artistas lutam para manter e/ou resgatar a tradição dos antigos carnavais, outros apostam no gosto popular de uma geração mais jovem fã do “batidão” do funk e suas variações, dentre outros estilos digamos, menos carnavalescos.

Na capital, São Luís, as festas pré-carnavalescas acontecem em todos os lugares, e seja em locais fechados ou na rua, o ritmo está lá disputando com os sambas, blocos, e marchinhas de carnaval. Nas festas de bairro, geralmente nas ruas, as caixas de som no volume máximo, ostentam uma diversa “playlist carnavalesca”, comuns hoje, como o funk e o sertanejo, ou breganejo (junção do brega com o sertanejo) e o bregafunk (brega com o funk).

Há quem esteja mais aberto a essa diversidade, mas há também quem cultue o tradicional, principalmente quando se trata do carnaval de rua de São Luís. Conversei com alguns produtores culturais e eles defendem, acima de tudo, a democracia.

Para o pesquisador e produtor Euclides Moreira, o carnaval assim como a cultura popular é muito dinâmica e a inserção do funk é reflexo do gosto da juventude contemporânea. “O funk é um gênero que está se estabelecendo no país e aos poucos vai se hibridizando com outras manifestações que já existem, e São Luís é um campo fértil para esse tipo de prática. A hibridização, a naturalização de ritmos novos com os que já existem é algo sem controle e que naturalmente vai acontecer. Isso é também reflexo do que a juventude quer, então é mais do que natural. São Luís é uma cidade que tem espaço para todas as manifestações, claro que a sua constância e a sua aceitação no meio social vão gerar o fortalecimento de tradições. Eu pessoalmente gosto mais do ritmo do samba do pagode, do samba de roda, que para mim é muito mais agradável, pelo meu histórico de vida”, disse.

O produtor Mário Jorge, se mostrou contrário e defende a produção local. “Apesar que algumas pessoas acham que carnaval têm que tocar tudo, eu acho que carnaval, para nós maranhenses, seria em primeiro lugar as nossas músicas. Nós temos grandes artistas, grandes bandas, com repertório suficiente pra qualquer evento, claro que a gente pode tocar também um axé, pagode, samba etc… o funk é muito apelativo”, opinou.

De acordo com o colunista Nedilson Machado, incluir outros ritmos dentro do carnaval é ir de encontro à uma luta para retomar o carnaval das antigas e da tradição. “Acho que ritmos não só como o funk, mas o reggae, o bumba-meu-boi, com todo respeito, tem a sua época. Acho que o carnaval do Maranhão tem que resgatar a sua tradição que é dos blocos, do carnaval de salão, das marchinhas, das escolas de samba e nós temos grupos maravilhosos que devem ser executados no carnaval, como Jegue Folia, Esbandalhada, Bicho Terra, dentre outros; cantores maravilhosos que estão aí defendendo essa bandeira do carnaval de tradição. Eu fui ao Centro domingo e ouvi coisa que não tinha nada a ver. Eu me senti deslocado, eu estou no carnaval, ou no São João, ou no reggae? A gente tem que colocar as coisas no lugar. Nada contra nenhum ritmo. Mas que cada um seja no seu devido tempo’, considerou.

Festa democrática

Para a jornalista e  DJ Vanessa Serra,  o carnaval é a festa mais democrática do mundo, portanto, não vê problema na execução pública do funk e de ter artistas do gênero para fazer parte dessa folia na Ilha, desde que haja, acima de tudo, bom senso. “O funk está aí. É um fenômeno das massas, ocupa hoje lugares nunca antes imagináveis…o  ‘bater bumbum’ com a mídia ganhou uma súbita ascensão social. E assim como o samba, nasceu na periferia, nos subúrbios, vem quebrando barreiras do preconceito com sua indiscutível força popular. Agora, se há qualidade artística isso não vem ao caso, se o propósito for apenas divertir. Há quem goste, e não é pouco. Vejo abertura para outros gêneros musicais na programação oficial e artistas nacionais, além das nossas genuínas manifestações; isso agrega valor e conquista o gosto popular tão múltiplo. Costumo dizer que cada som tem a sua praia…funk está na moda, já foi reconhecido como manifestação cultural…, mas isso nem vem ao caso quando se está na chuva é para se molhar”, argumentou.

O jornalista e pesquisador Joel Jacinto acha que embora vivamos em uma democracia, alguns aspectos devem ser considerados.  “Temos uma diversidade cultural que impera na sociedade, então cabe todas as tribos. Mas especialmente no carnaval de São Luís a gente não pode deixar de lado a rica diversidade de nossas manifestações, como tambor de crioula, bloco tradicional, grupos de samba, tribos de índio, escolas de samba, bandas, compositores que criaram marchas para a Bandida, Confraria,  Jegue Folia, Bicho Terra, Vagabundos do Jegue, Máquina de Descascar’alho, entre outros. Nós temos visto que não tem surgido músicas novas nos blocos, mas acho que temos que valorizar nossa cultura. Agora se se essa geração mais nova está sendo levada a gostar do baile funk, a ter isso no carnaval, é uma coisa a se pensar”, disse Joel.

Para o jornalista e produtor cultural Jeferson Lauande, quando chega o carnaval é impossível não reunir todos os sons que circulam ao redor do país. 

“Quando o sertanejo começou a fazer parte do carnaval de Salvador, por exemplo, muito se reclamava, porque não se entendia como uma cidade que pulsa a cada segundo o axé, aceitava o sertanejo, mas a força do sertanejo foi tão forte que hoje tem artista com o seu próprio bloco. Agora, os olhos estão para outros ritmo, o funk”, disse.

“O funk sempre foi visto, mas pouco aceito, talvez por preconceito generalizado, mas hoje é possível ouvir um funk com a mistura do pop, ou o ‘bregafunk’.  Mas por que isso? As gerações estão mudando na mesma velocidade com que a Internet cresce com suas transformações. Essa nova geração vai acompanhando o que surge, por exemplo, com a força do YouTube. Ou seja, o funk faz parte de nós, é a batida que pulsa no corpo, a malemolência que nos faz dançar como qualquer outro ritmo, seja no carnaval ou não, ele representa também as nossas expressões”, continou Jeferson Lauande.

Nota da repórter: Entendo que em um país musicalmente diverso e em uma festa democrática como é o carnaval, vale a diversão. 

Seja brincando ao som de marchinhas, e sambas enredo, blocos de samba, bandinhas de rua, samba raiz, pagode, axé, frevo, funk, brega ou sertanejo, o que interessa é o estado de espírito, brincar com segurança, responsabilidade e acima de tudo, respeito.

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