EMPREENDEDORISMO

Inclusão social por meio do forno e fogão

Cursos de culinária para pessoas carentes transformam vidas, possibilitam a geração de renda e uma outra forma de ver o mundo. Ação acontece no Coroadinho

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No Brasil, muitos projetos de voluntariado ainda estão invisíveis para grande parte da população. No Maranhão não é diferente. Alguns alimentam moradores de rua, outros ensinam a importância de uma boa alimentação, há os que exaltam o papel do pequeno agricultor na economia local através de aulas ou palestras gratuitas, oficinas, exposições. Em São Luís, projetos sociais usam a gastronomia para diminuir as diferenças e mudar também a forma como nós olhamos para os alimentos.

Com o projeto Mulheres da Comunidade em Ação, surgido da Rede Coroado de Natal, como o próprio nome diz, mulheres se doam para transformar a vida de outras famílias com um curso de gastronomia itinerante. O projeto trabalha no eixo educação com o foco em ajudar as mulheres. Rosa Carvalho e  Maria Raimunda Serra (Dinair) se encontraram e uniram suas habilidades, experiências e o desejo de transformar a realidade de mulheres do polo Coroadinho. Aliada à competência de Neline Soares em fomentar essas ações sociais, surgiu o curso, que encerra a segunda edição no próximo dia 22 de dezembro, no Colégio Rubem Almeida, no Coroadinho, com um cardápio especial para coroar o fim do curso iniciado há 6 meses.

“A nossa prioridade é trazer mulheres carentes que não sabem fazer nada e chama-las para aprender a cozinhar e usar isso como fonte de renda.

Mulheres que não tem condições de pagar um curso de culinária. Por isso a gente usa a nossa mão-de-obra, a nossa experiência para elas fazerem uma comida de qualidade, venderem e ganharem, além do seu próprio direito, autoestima. A gente sabe que a gastronomia, se você souber trabalhar, dá condições de você se manter”, diz a chefe Dinair.

Elas ensinam do básico até o cardápio mais requintando. Doces, salgados, petiscos, alta gastronomia, tudo consta do roteiro do curso. Rosa e Dinair fizeram curso de cozinha industrial e hoje são multiplicadoras, formando outras pessoas também.

“A gente não só ensina a cozinhar, mas a montar o prato, questões de etiqueta, como organizar a mesa, como montar uma quentinha, como preparar os alimentos para oferecer uma comida de qualidade”, lembra Dinair.

Ao todo 20 mulheres e homens, além de crianças aprendem a não só se “virar” na cozinha, mas a ter uma alimentação de qualidade. Nas duas edições cerca de 100 pessoas já participaram dos cursos.

“Elas aprendem a fazer lanches, sucos com produtos naturais, a manipular os alimentos. Esse curso para as crianças é a menina dos olhos do nosso projeto, porque são bairros em situação de vulnerabilidade, e a gente sabe que as vezes os pais ficam fora a noite, e dormindo durante o dia. Daí as crianças querem um lanche, ficam pedindo e sempre tem aqueles que não dão apenas por dar, querem algo mais. Então esse curso ensina a usar os produtos que tem em casa para fazer seus próprios lanches”, diz Rosa Carvalho.

Projeto realiza cursos na Vila dos Frades

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Hoje elas trabalham de forma itinerante e também fazem intercâmbio. Nessa edição elas pegaram as crianças que fizeram curso na Vila dos Frades e juntaram com as do Coroadinho para possibilitar a troca de experiências. Como resultado do curso, as crianças já apresentaram seu aprendizado em eventos na Casa do Maranhão e no Coroado de Natal realizado recentemente.

Aprender a cozinhar pode ser o primeiro passo para a inclusão social. Esse tem sido o caminho dessas pessoas que já passaram pelo curso. As aulas extrapolam as técnicas culinárias e envolvem lições de cidadania, postura profissional e alimentação saudável. O objetivo é dar educação e oportunidade de emprego para quem não tem, usando a comida como agente de transformação social.

“Essas crianças já pedem receitas para fazer em casa, como fazer. Eu acredito muito na educação. Não tem a questão de você discriminar o mais carente, o mais pobre, essas pessoas só precisam de oportunidade. Tenho alunos maravilhosos que já sabem fazer salgados, pizza. E a mesma coisa são as mulheres, que muitas não conheciam nem os temperos. São pessoas que não tiveram oportunidade de comer do bom e do melhor, mas pelo fato de elas morarem na periferia elas não direito? Tem sim. Então a gente abraçou essa causa”, diz Dinair.

Para a conclusão de curso, no dia 22, os alunos produzirão um almoço especial utilizando o aprendizado desses 6 meses. Eles receberão certificados e ao voltar para suas comunidades podem replicar o que aprenderam para as pessoas à sua volta. Cada aluno se transforma em um multiplicador no seu bairro, na sua escola, na sua família.

Depois do curso no Coroadinho, o projeto já está de malas prontas para ir para o Anjo da Guarda. Elas passaram dois anos no polo Coroadinho e enfrentaram a discriminação e o preconceito de estarem atuando na periferia.

Com a ida para o Anjo da Guarda o objetivo é ampliar ao máximo a arte da culinária nas comunidades. “Eu sempre falo para os alunos que isso aqui é um ato de amor, não estou aqui para ganhar dinheiro,  milhões. Eu quero apenas que o que eu passe para elas seja útil para elas ganharem o pão de cada dia”, alega Dinair.

Quase todos que entraram na primeira edição do curso permanecem na segunda ajudando a formar outras pessoas e participando dos eventos comunitários que são solicitados pela ONG, como casamentos, aniversários, ações beneficentes. Além de aprender a cozinhar, elas aprendem a ser voluntários, a se doar em prol de eventos beneficentes.

Mulheres em Ação

O maior sonho da ONG Mulheres em Ação, é que esses projetos se expandam para outros bairros periféricos, para que haja essa transformação social, mas para isso é preciso investimento. O que elas querem é que a inclusão social seja totalmente incorporada pelo mercado de gastronomia, e que as empresas do setor percebam a importância de apoiar a formação de jovens de baixa renda, tanto para diminuir as desigualdades sociais quanto para o sucesso do seu negócio.

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