PATRIMÔNIO CULTURAL

Tradição e preservação cultural: o ritual de morte do Boi de Santa Fé

Manifestação cultural oriunda da Baixada Maranhense fundada há mais de três décadas, realiza mais um ritual de morte com programação diversificada neste final de semana

Reprodução

A manifestação cultural mais forte do Maranhão, o bumba meu boi, possui um ciclo próprio composto de ensaios, o nascimento (ou renascimento) e o batismo “de um novo boi”, apresentações públicas e um ritual de “morte”, para então ressurgir no próximo ano. E este ritual de morte que o Boi de Santa Fé, considerado um dos grupos de bumba meu boi mais tradicionais do estado, realiza neste final de semana em sua sede, localizada no Bairro de Fátima.

Representante do sotaque da Baixada, a brincadeira que em 2019 está comemorando 31 anos de existência. Segundo Cláudio Santa Fé, que está à frente da organização do boi, as atividades começaram desde o mês de abril, após ser contemplado na Lei de Incentivo à Cultura via patrocínio do Grupo Equatorial Cemar Energia.

Foto: Charlles Eduardo

“Começamos com a exposição sobre a trajetória do Boi de Santa Fé em maio deste ano no Palacete Gentil Braga onde tivemos a honra na solenidade de abertura a apresentação do tambor de crioula “Rufar dos Tambores”, além de uma roda de conversa com as mulheres na liderança do bumba meu boi, assunto que muitos sabem mais poucos falam, e no dia 13 de junho encerramos essa exposição com um cortejo pela Rua Grande com grupos convidados como o grupo Lírio de São João e o Boi de Santa Fé e depois fizemos as tradicionais apresentações nos bairros e arraiais de São Luís”, contou Cláudio Santa Fé.

Para o ritual de morte que acontece neste domingo (1º) a partir das 14h acontece a apresentação do Tambor de Crioula Santa Fé e às 17h a apresentação do Boi da Fé em Deus, seguido do cortejo onde o boi vai estar guarnicendo na Rua 10, no final do ponto de ônibus saindo pela rua principal, seguindo pela Rua 15 até a sede do boi onde ocorre o ritual de morte. Na segunda-feira (2º) acontece a quebra do mourão com a distribuição de bolos finalizando o ritual da morte do boi.

“A gente tem tentado manter viva esta tradição de preservar o bumba meu boi que é a principal manifestação do Maranhão. Lá no boi de Santa Fé particularmente, o Mestre Zé Olhinho, pensando nessa renovação, trabalha com novas crianças para salvaguardar todo esse bem imaterial”, ressaltou Cláudio Santa Fé.

Sobre a temporada junina deste ano, Cláudio Santa Fé, afirmou que foi bastante movimentada e proveitosa para a brincadeira. “Aceitação do público em nossas apresentações tem sido muito boa. Onde o Santa Fé está, o público se aproxima, dança e canta junto fazendo a interação conosco. Nossas apresentações têm sido só alegria”, disse ele cantarolando a toada “Eu sou guerreiro, eu sou valente”, que se tornou um verdadeiro sucesso nos arraiais da ilha. Cláudio Santa Fé afirmou que um dos maiores méritos da manifestação é trabalhar com um planejamento ao longo do ano com apresentações marcadas na capital, mas não descarta aceitar convites fora do estado caso apareçam.

“Estamos desenvolvendo os nossos trabalhos, caso isso ocorra vamos avaliar de que forma poderemos preparar o boi para viajar. No ano passado, por exemplo, desenvolvemos um projeto por meio da Lei de Incentivo por meio do Grupo Equatorial Cemar Energia que patrocinou o projeto Raízes do bumba meu boi – interações artísticas na Baixada Maranhense, desenvolvido por nós, onde conseguimos catalogar 14 grupos nos municípios de Cajapió, Viana, São João Batista, São Vicente de Férrer, Penalva e Matinha. Chamamos esses grupos e doamos material para que eles pudessem melhorar suas indumentárias, e realizar suas apresentações.. Conseguimos trazer o grupo Saubeiro do município de Penalva da Turma de Zé Machado que foram muito bem sucedidos. Conseguimos colocá-los nos melhores arraiais da ilha. Essa é a nossa preocupação, que é ajudar esses grupos a preservar essa cultura na Baixada Maranhense”, pontuou Cláudio Santa Fé.

Sobre o Boi de Santa Fé

O Boi de Santa Fé foi fundando em 1988 por Zé Olhinho, natural de São Vicente Férrer, e seus colegas da Baixada Maranhense, que se estabeleceram em São Luís na década de 50, trazendo para o Bairro de Fátima suas batidas, passos, instrumentos, indumentárias e personagens.

O sotaque da Baixada é embalado pela percussão que reúne pandeiros, caixas, tambores-onça, maracás e pequenas matracas. Seu personagem mais característico é a Cazumba, mistura de homem e bicho, que traz um chocalho na mão e requebra as cadeiras avantajadas, vestindo uma bata comprida ricamente bordada, uma máscara de madeira (queixo) e cabeças esculpidas, cada vez mais elevadas (as caretas).

O Boi de Santa Fé reúne um conjunto de cazumbas (que chega a reunir 40 integrantes), que são embaladas com as toadas de Zé Olhinho. O esplendor visual de suas apresentações são algumas das joias do Santa Fé, ao lado de seu conjunto de percussionistas e brincantes

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