LITERATURA

A poesia viva de Nauro Machado

Poeta e escritor maranhense faria 84 anos na última sexta-feira. Autodidata, Nauro Machado tinha 37 livros publicados e retratava o cotidiano maranhense

Se vivo fosse, o poeta e escritor maranhense Nauro Machado faria 84 anos, na última sexta-feira (2). Mauro Machado era figura reconhecida no Maranhão e foi convidado mais de uma vez para ser imortal da Academia Maranhense de Letras, mas recusou todos os convites. O poeta, autodidata, tinha 37 livros publicados e retratava o cotidiano maranhense com simplicidade e liberdade. Em novembro de 2014, o poeta lançou sua última obra, inspirado pela própria condição de saúde, intitulada “Esôfago terminal”.

Segundo a crítica, Nauro Machado é um dos poetas brasileiros mais fecundos e importantes de todos os tempos, ainda esperando por uma devida consagração do público. O poeta tinha um profundo e vasto conhecimento de filosofia e de arte em geral, principalmente literatura e cinema. Também foi detentor de diversos prêmios, sua obra compreende aproximadamente quarenta títulos. Alguns de seus poemas já foram traduzidos para o alemão, o inglês, o francês e o catalão.

Desde a sua estreia poética, em 1958, com Campo sem Base, o maranhense Nauro Machado (São Luís, 1935) optou por um caminho muito pessoal. Em vez das experiências de vanguarda, abundantes à época, preferiu a “revalorização do verso, renovando, por dentro, o amplo espectro da chamada ‘tradição da imagem’”, conforme observa Hildeberto Barbosa Filho no prefácio aos Melhores Poemas Nauro Machado. Hildeberto Barbosa Filho revela em seu texto um Nauro Machado angustiado com a precariedade da vida, os mistérios da morte e de Deus, os problemas do sexo e da solidão, a fragilidade dos valores humanos, a poesia de Nauro representa um esforço de libertação, em busca da plena realização do espírito. Essa busca, porém, nunca se desvincula da própria busca da poesia: “eu quero e é necessário/ que me sofra e me solidifique em poeta,/ que destrua desde já o supérfluo e o ilusório/ e me alucine na essência de mim e das coisas”. Poesia metafísica? Talvez, como sugerem versos como esses: “Eu fui há muito alguém que agora tenho/ voltando apenas neste corpo alheio”. Mas também uma poesia preocupada com a posição do homem no mundo, as relações, por vezes ásperas entre as criaturas, e o lugar do poeta, o que gera novos conflitos íntimos: “nasci para habitar no coração do universo/ e não nesta casa onde o verme resiste/ até mesmo no último parafuso de meus ossos”.

Mestre da arte poética
Já para Antonio Lisboa Carvalho de Miranda, maranhense membro da Associação Nacional de Escritores e professor e ex-coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação do Departamento de Ciência da Informação e Documentação da Universidade de Brasília, Nauro Machado é o mais perseverante de nossos sonetistas. 

Para o estudioso que escreveu em seu site sobre literatura, Nauro é mestre em seu ofício. “Sua obra poética é vastíssima, desde meados dos anos 50 do século passado, muitas edições esgotadas e de circulação restrita”, disse ele sobre a obra do poeta citando O cirurgião de Lázaro, edição bem cuidada da pouco conhecida editora Contracapa, do Rio de Janeiro.

Antonio Lisboa Carvalho de Miranda revela que o livro conta com sonetos canônicos, rimados,  muitos decassílabos como os consagrados por Camões.  “De repente a gente encontra um verso insólito como nesta quadra: “Como se a culpa lhe fosse a existência/ tem todo o homem sua culpa já ao nascer/ de uma união que é fruto da indecência/ pela mulher trazida a um outro ser.” Lindos versos, mas confesso que “indecência” me causa certo estranhamento…”, pontua o estudioso. Nauro Machado faleceu em 2015. O poeta, lutava desde 2012 contra um câncer no esôfago e tinha acabado de fazer uma cirurgia no intestino.

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