ENTREVISTA

Pabllo Vittar: uma Drag Queen presidente?

Desde que lançou o álbum Não para Não, em outubro do ano passado, muito se especulou sobre o próximo passo de Pabllo Vittar

Em março de 2022, ela lançou um álbum ao vivo. (Foto: Reprodução)

Ela é ativista e grande representante do movimento LGBTq no Brasil e nas últimas eleições foi possível observar que a maranhense, que vem conquistando literalmente não apenas o Brasil, mas o mundo, busca muito mais para conquistar. Talvez nem ela mesma poderia imaginar tudo que vem conquistando. Só para ter ideia, ela é hoje a drag mais seguida e mais ouvida do planeta.

Desde que lançou o álbum Não para Não, em outubro do ano passado, muito se especulou sobre o próximo passo de Pabllo Vittar. Segundo a própria, 2019 está sendo “seu ano”: “Tem muita coisa acontecendo em muito pouco tempo. Ganhei o prêmio de Artista Musical da MTV, acabei de voltar de uma turnê fora – minha segunda internacional só este ano. Estou trabalhando no próximo álbum, já gravei clipe do próximo single, que é a minha primeira música em inglês… É um ano maravilhoso”, reflete em uma entrevista recente ao portal da Revista Caras.

E já lançou. Ela se chama “Flash Pose” é toda cantada em inglês e conta com participação da cantora britânica Charli XCX. A faixa chega na sequência de uma turnê da drag queen pela Europa e pelos Estados Unidos e representa um grande passo na globalização de seu trabalho.

“Flash Pose” é diferente de tudo que Pabllo apresentou em seus dois álbuns e em suas parcerias. O single explora o pop eletrônico, com uma introdução marcante neste sentido, e se afasta dos elementos regionais característicos do repertório da cantora até agora.

Inclua na conta cantar numa cerimônia oficial cuja temática era igualdade e inclusão e comemorava os 93 anos da rainha Elizabeth II na sede da ONU, em Nova York. Tudo isso, no entanto, não é surpresa para ela, que há cinco, dez anos, já tinha claro na cabeça que faria sucesso. “Naquele tempo, eu me imaginava no mesmo lugar, cantando, fazendo minhas músicas, ganhando meu prêmio e deixando as pessoas felizes, porque isso é o que me deixa feliz também. Acho que o Pabllo se profissionalizou muito, mas o espírito de querer fazer as coisas ainda é do mesmo menino, sabe?”

DE SÃO LUÍS PARA O MUNDO 

Nascida Phabullo Rodrigues da Silva em São Luís, no Maranhão, mudou-se com a mãe, a técnica de enfermagem Verônica Rodrigues e duas irmãs – Phamella, sua gêmea, e Pollyana, um ano mais velha – para Santa Izabel do Pará ainda pequeno e viveu lá durante a infância. “Eu morava numa rua de terra, sem asfalto, e brincava muito na lama. Minha mãe deixava a gente fazer tudo, por isso eu sou toda estropiada, tenho cicatriz no queixo, no dedo, em tudo.” Aos 17, depois de um breve período de volta ao Maranhão e então em Indaiatuba, interior de São Paulo, passou no vestibular para o curso de design de interiores na Universidade Federal de Uberlândia e mudou-se para lá, onde considera o começo de tudo.

“Minha mãe estava casada e já morava em Uberlândia. Eu não estava mais gostando de ficar em Indaiatuba porque estava trabalhando só em salão e balada, e todo dinheiro que ganhava, acabava. Então fui para a casa da minha mãe estudar, caçar um rumo diferente, dar uma sacudida na minha vida. Fui fazer design na UFU e lá comecei a cantar nas festas da faculdade, nas baladas. Foi aí que conheci Leo [Leocadio Rezendo, seu produtor], Gorky [Rodrigo Gorky, DJ] e gravei Open Bar na casa de uma amiga e com R$ 500.”

DONA VERÔNICA, UM ÍCONE

Sobre a mãe, dona Verônica, Pabllo fala emocionado. “Ela é minha grande inspiração para cantar. Ela que botava as músicas no vinil para eu escutar. Tanto que, se hoje gosto de Tina Turner, Whitney Houston e dos clássicos da MPB, foi minha mãe que ensinou. Ela é uma pessoa muito regional, ouvia muito carimbó, forró e tecnobrega”, lembra.

Não só uma inspiração musical, ela também foi exemplo de força e coragem. “Minha mãe sempre carregou tudo nas costas, com três filhos pequenos e sozinha. Eu lembro dela construindo a nossa casa. Ela fez a parte de baixo da casa inteira. A gente, criança, ajudou a bater cimento, pegar tijolo.”

“Dentro de casa era onde a gente se sentia mais livre, tanto para se expressar e ser do jeito que a gente é na nossa afetação, quanto para conversar com a minha mãe, para falar de tudo. Dona Verônica é um ícone. Ela recebe mensagens dos meus fãs dizendo: ‘Eu queria que a senhora fosse a minha mamãe’ e acha superfofo.”

DRAG QUEEN PRESIDENTE
 

“Você acredita que esses dias sonhei com um negócio… Sonhei que tinha uma drag queen presidente do Brasil. E não era eu. Era tipo qualquer uma, e era presidente. Não que ela governasse montada, mas ela desmontada era presidente. Que nem eu sou o Pabllo. Era muito doido. Eu ia no show da gata e depois ela governava o país. Todo mundo se respeitava e amava. Acordei e falei: ‘Caralho, sonhei que tinha uma presidente drag, mas não era eu’ (risos).

Para o futuro das drags, imagino elas fazendo de tudo. Gosto de falar que a gente já consegue fazer tudo, mas no futuro eu quero que isso seja mais naturalizado. Têm países em que a drag queen é tratada como um deus, as pessoas pegam filas enormes para vê-las performando. É uma cultura muito maravilhosa e quero que no Brasil também seja desse jeito. Assim como eu estava cantando lá na ONU, quero que outras drags vão lá, vão para a TV.

Fico imaginando minhas fãs que me mandam mensagens dizendo: ‘Pabllo, eu canto e um dia quero ser igual a você’. É muito emocionante, sabe? Porque um dia eu fui essa criança e também queria essas coisas. Quero que as próximas gerações consigam realizar os sonhos igual a mim. E que venham outras Pabllos Vittares, outras Glorias Grooves, outras Lias Clarks. É muito difícil alguém falar para você que você não vai conseguir as coisas. Mas, acredite, você vai realizar seus sonhos.”

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