Dia Nacional

O Tambor de Crioula vai rufar mais forte na Ilha

Haverá roda de tambor aberta ao público na Praça da Faustina e uma programação extensa na Casa do Tambor, culminando com apresentações de grupos

Reprodução

“Quem ainda não viu/Tambor de crioula do Maranhão?/Afinado a fogo tocado a murro/Dançado a coice e chão?/Crioula, crioula/Aêê tambor da ilha rufou…”

A música de Nonato e Seu Conjunto, que fez muito sucesso na voz do saudoso Papete, é um convite para conhecer o tambor de crioula, manifestação popular surgida nos terreiros e reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial Brasileiro em 2007, pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Então para quem quer conhecer, no dia 18 (terça-feira) é Dia Nacional  do Tambor de Crioula do Maranhão e haverá roda de tambor na Praça da Faustina (Praia Grande) e uma extensa programação realizada pelo Centro de Referência Casa do Tambor de Crioula (Rua da Estrela).

O tambor de crioula é uma expressão cultural com descendência africana, considerada um referencial de identidade e resistência cultural dos negros, que envolve dança circular, canto e percussão de tambores.

A ancestralidade do tambor de crioula remonta ao período da escravidão. Segundo o Iphan está incluído como expressão dentro das classificações derivadas, originalmente, do batuque, pela polirritmia dos tambores, no ritmo sincopado, nos principais movimentos coreográficos e na umbigada.

Forma de comunicação corporal, musical e instrumental, o batuque ritmado do  tambor de crioula extasia quem está dentro e fora da roda.  Os  coreiros (homens) e coreiras (mulheres) dançam em posição de meia-lua de frente aos tambores artesanais (parelhas) Crivador (o menor),  Meião (que marca o tempo rítmico) e o Grande (faz variações percussivas). A dança é marcada pela punga. Em alguns municípios do Maranhão, os homens dançam o Tambor de Crioula, em gingado semelhante a Capoeira, e  as mulheres também podem tocar, ocasionalmente.

Carla Coreira que o diga. Na Praça da Faustina, quem comanda a roda, há 6 anos, é ela. Carla Belfort tem o tambor no sangue, afinal, é filha de Maria da Graça Mota Belfort, a mestra Roxa Dona nos grupos de tambor de crioula União de São Benedito (fundado por Mestre Felipe) e Rosário de São Benedito (Laborarte).

“A gente faz por amor. É tudo na raça, tudo feito na resistência, independente de ter apoio de alguém ou não. A gente mete a mão na massa e dança por amor à cultura, à tradição que se depender da gente, nunca vai morrer”, diz a coreira.

A roda na Faustina começa às 16h, na frente da Capelinha de São Benedito (espaço que ela criou, transformando-o a partir de uma antiga lixeira). A iniciativa é independente,  e pode entrar quem quiser. Basta levar uma saia rodada.

Ela se ressente que há algum tempo atrás a manifestação era mais valorizada. “Você via essa cultura mais potente, mais tambores nas ruas, hoje isso não acontece mais. Se não houver a nossa resistência em fazer, a coisa não acontece. Um exemplo é a feira da Praia Grande onde a gente não pode mais fazer apresentação”, lamenta Carla Coreira.

Em maio  o Batalhão de Polícia Militar de Turismo  (BPTur) determinou que não deve haver festas dentro da Casa das Tulhas, por ser ela uma feira e não uma casa de eventos, sem estrutura para shows de pagode e reggae, algo já estabelecido pelo Corpo de Bombeiros desde 2013.

Segundo registro cadastral das associações de tambor, constata-se em São Luís a existência de mais de 80 grupos de Tambor de Crioula em atividade, associados ou atuando de maneira independente.

Salvaguarda

Na Casa do Tambor de Crioula, espaço para fortalecimento do processo de salvaguarda da manifestação, a programação começa às 9h com apresentação de vídeos e filmes. A Casa tem caráter museológico, antropológico e sociológico, bem como de um centro de pesquisa, memória e documentação da história dos afrodescendentes , além de ser um local de difusão da manifestação.

Às 10h e 14 haverá palestras. A primeira sobre salvaguarda do tambor, a segunda sobre o projeto Punga de Saberes. Às 16h tem apresentação dos mediadores da Casa, às 17h tem lançamento do DVD de Salvaguarda do Tambor de Crioula. A partir das 18h tem apresentações dos tambores  Proteção de São Benedito do Anjo da Guarda, Amor de São Benedito da Fé em Deus e tambor de Leonardo. Uma exposição identitária com informações feitas por atividades formativas estará aberta durante o evento.

Primeiro documentário

Há 10 anos o Iphan-MA  lançou um documentário em DVD sobre o Tambor de Crioula – 1979.  Com o lançamento, iniciaram os projetos de salvaguarda relacionados à manifestação após seu registro como Patrimônio Cultural Brasileiro, ocorrido em junho de 2007.

Realizado entre dezembro de 1977 e junho de 1978, pelo cineasta maranhense Murilo Santos com roteiro de Valdelino Cécio e Roldão Lima, aquele foi o primeiro documentário específico sobre a manifestação, descrevendo-lhe os principais aspectos coreográficos, musicais e poéticos a partir das práticas e dimensões socioculturais a ela associadas – raízes culturais africanas, origem social dos participantes, devoção religiosa, impacto do turismo.

O Iphan define o Tambor de Crioula “como uma forma de expressão de matriz cultural afro-brasileira, difundida por todo o território do Maranhão, que envolve dança de roda, canto e percussão de tambores”.

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