Universo trans-brasileiro em debate no palco
O projeto Travestis Itinerantes, apresenta histórias sobre arte, invisibilidade, decadência e superação, presentes no cotidiano desta população propondo ao público uma reflexão acerca dos preconceitos contra a comunidade LGBTTI
Originalmente a palavra “travesti” comumente era usada para se referir a alguém que se vestia com roupas do sexo oposto para se apresentar em shows e espetáculos, mas essa prática passou a designar hoje em dia principalmente os transgêneros, que nasceram em um corpo masculino que objetivam a construção do feminino, através de suas roupas e podendo incluir ou não procedimentos estéticos e cirúrgicos.
E foi mergulhando neste universo trans que São Luís recebe esta semana o projeto Travestis Itinerantes, do Coletivo Artístico As Travestidas e que propõe um percurso festivo, poético e artístico que será apresentado nas regiões norte e nordeste que nasceu de uma pesquisa realizada pelo diretor e ator cearense Silvero Pereira que apresenta na ilha o espetáculo cênico-musical Quem Tem Medo de Travesti e atividades complemetares onde o grupo se utiliza desse tipo de linguagem como um instrumento de questionamento e transformação social.
Criado a partir de fragmentos de vidas reais coletados através de conversas com travestis, transexuais e artistas transformistas, bem como de pesquisas acadêmicas e documentários em vídeos, o novo espetáculo concentra-se na linguagem de teatro-musical, com o entrosamento de uma equipe diversa composta por atores, cantores e bailarinos. Seu enredo se constrói a partir de uma pesquisa histórica do papel da travesti no Teatro e na sociedade, desde a glamorização dos Teatros de Revista até processos de marginalização da figura “trans” atuais na sociedade. Trata-se de um espetáculo de pesquisa social e antropológica e, sobretudo, artística, elaborado a partir da compreensão da arte transformista como gênero legítimo das artes cênicas, da valorização do trabalho do ator-transformista e da criação do conceito, em teatro, da “travesti” enquanto alter-ego do ator.
O espetáculo Quem Tem Medo de Travesti se constrói a partir de relatos pessoais e da pesquisa acerca da travestilidade no teatro e na sociedade, passando pelo glamour do teatro de revista e chegando à decadência e marginalização da figura trans na sociedade atual. O projeto, que foi contemplado pelo Rumos Itaú Cultural 2017-2018, iniciou em Teresina (PI) e agora chega a Luís (MA) entre os dias 14 e 16. Em seguida, parte para Belém (PA), Imperatriz (MA) e Palmas (TO). Essas localidades foram escolhidas por terem alto índice de violência especialmente contra a comunidade LGBTTI, para desconstruir preconceitos.
No primeiro dia, 14, o grupo inicia a programação às 9h, com a mesa de debate Os corpos dissidentes na cena contemporânea: Tombamentos e dissoluções em normas de gênero, no Teatro de Bolso do Centro de Ciências Humanas da Universidade Federal do Maranhão. À tarde, de 14h às 21h, realizam a oficina Procedimentos técnicos em atuação, dramaturgia e encenação do Coletivo As Travestidas, no mesmo local.
Nos dias seguintes, 15 e 16, apresentam a peça Quem Tem Medo de Travesti, composta por atores, cantores e bailarinos, expõe histórias sobre arte, exclusão, decadência e violência, presentes no cotidiano desta população e, ao mesmo tempo, subverte essas histórias tristes. Vai além ao abordar narrativas de superação e transformação, com o interesse em fortalecer e ampliar essa investigação, promovendo um estudo acerca da “artesania” e “travestilidade” enquanto metodologia em artes cênicas. Trata-se de um espetáculo de pesquisa social, antropológica e artística escrito e dirigido por Silvero Pereira, ator e pesquisador cearense, e Jezebel De Carli, professora e diretora gaúcha.
Espetáculo também denuncia transfobia
O espetáculo também serve para denunciar os crimes que estão ocorrendo em todo o país contra os travestis. No Maranhão, o caso mais recente foi a morte do travesti Melissa que foi assassinada pelo seu namorado no início deste mês. Ela foi a 43ª de transfobia (tipo de violência a partir de sentimentos ou ações contra pessoas transexuais e transgêneros) este ano no país
De acordo com um levantamento da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), feito em conjunto com o Instituto Brasileiro Trans de Educação (IBTE), 163 pessoas trans foram assassinadas no País no ano passado.
Segundo o relatório, os alvos desses crimes têm cor e idade: 97% são travestis e mulheres trans, 82% são pretas ou pardas e 60,5% tem entre 17 e 29 anos. O “Dossiê dos Assassinatos e da Violência contra a População de Travestis e Transexuais no Brasil em 2018″ traz o número de mortes com base nas informações divulgadas pela mídia e em dados que chegam por afiliadas à Antra, grupos específicos que compartilham esse tipo de informação e agentes de segurança pública.
Ficha Técnica
Idealização: Silvero Pereira
Direção e Dramaturgia: Jezebel De Carli e Silvero Pereira
Elenco: Mulher Barbada, Denis Lacerda, Patrícia Dawson, Diego Salvador, Ítalo Lopes e Verònica Valenttino.
SERVIÇO:
Rumos Itaú Cultural 2017-2018
Travestis Itinerantes
SÃO LUÍS (MA)
Espetáculo: Quem Tem Medo de Travesti
Teatro Alcione Nazaré
Dias: 15 e 16 de maio, às 20h
Ingresso: 20,00 (inteira) 10,00 (meia)
Endereço: Rua Rampa do Comércio 200, Praia Grande – Centro
Informações: (98) 3218-9932 / Whatsapp: 21 99784-0711
Mesa de debate (A convite da Faculdade de Teatro da UFMA)
Os corpos dissidentes na cena contemporânea: Tombamentos e dissoluções em normas de gênero
14 de maio, às 9h
Local: Teatro de Bolso do Centro de Ciências Humanas – UFMA
Oficina
Procedimentos técnicos em atuação, dramaturgia e encenação do Coletivo As Travestidas
14 de maio de 14h, às 21h
Local: Sala de dança do Centro de Ciências Humanas – UFMA
Inscrições: Envio de cv resumido para contato@quintalproducoes.com.br