Via-Sacra 2019: Chamado contra a violência
A Via-Sacra do Anjo da Guarda, encenada pelo Grupo Grita e comunidade, chega à 38ª edição trazendo um grito, um chamado, um alerta
Já está quase tudo pronto para o maior espetáculo ao ar livre do Maranhão. A Via-Sacra do Anjo da Guarda, encenada pelo Grupo Grita e comunidade, chega à 38ª edição trazendo um grito, um chamado, um alerta. Não ao feminicídio. Não às injustiças sociais. Não à violência. É nesse contexto, trazendo as preocupações do mundo para a encenação da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, que o espetáculo se apresenta, nos dias 18 e 19, quinta e sexta-feira, às 18h.
A Via-Sacra faz parte das tradições mais acarinhadas pelos católicos, sobretudo durante a quaresma. É um exercício espiritual – e, em alguns casos, também físico – que ajuda quem o faz reviver a paixão e morte de Jesus Cristo, acompanhando Aquele que deu a vida pela humanidade. E o Grupo Grita há 38 anos vem fazendo esse exercício, que se tornou, ao longo do tempo, tão grandioso para a comunidade da área Itaqui-Bacanga, e um dos mais esperados para quem participa e contribui com ele.
De acordo com o diretor-geral Auro Juriciê, pelo menos 2.600 pessoas estão envolvidas direta e indiretamente com o espetáculo, que possui um elenco de 1.600 artistas. Desde janeiro os trabalhos começaram. “São artistas, amadores, profissionais, iniciantes, que podem até não saber os termos técnicos do teatro, mas sabem fazer e se ver como artistas. É um espetáculo muito importante para o Anjo da Guarda, em que a comunidade se sente parte dele”, diz o diretor.
Este ano a Companhia escolheu o tema “Guia-me pelas veredas da igualdade e da justiça”. Em todas as edições, o grupo sempre traz à tona temas que levem à reflexão e que de alguma forma contribuam para um mundo melhor. As mulheres serão as homenageadas na primeira cena do espetáculo, mas não em tom de celebração, e sim de denuncismo. “Vamos primar pela denúncia de cunho social, com foco nos direitos humanos, com particular enfoque na questão do feminicídio, da LGBTfobia e nos direitos da criança e do adolescente. O espetáculo é permeado por cenas, embora não se possa mudar a encenação, o nosso diferencial é trabalhar com essas especificidades, trabalhando com termos universais e o a violência contra a mulher acontece de toda orem em qualquer lugar do mundo. Então, vamos focar para que a mulher reaja, denuncie”, diz o diretor.
No Corredor da Reflexão, o que se pode contar é que vem com grandes discussões, como as tragédias humanas, ambientais, que poderiam ter sido evitadas ou minimizadas se houvesse senso de humanidade na sociedade. “Vamos questionar a justiça do Brasil, mas convido todos a assistirem”, convida Auro.
A importância da comunidade
Para a comunidade do Anjo da Guarda, o espetáculo representa um grito. “A comunidade está ligada ao Grita de várias formas, alguns que já saíram, voltaram e perceberam a importância da arte como uma forma de aproximação, uma forma política de alerta e essa comunidade, nesse 38º ano de Via-Sacra, já tem a plateia que tem. E esse espetáculo é um, dentre todo o trabalho que o grupo Grita desenvolve na comunidade. A comunidade é a forma desse espetáculo”, afirma Juriciê.
O percurso até a cruz e a ressurreição, eternizados na bíblia, leva uma verdadeira multidão há 37 anos, para acompanhar de perto a via-crúcis encenada pelo Grita.
O elenco do espetáculo vai se renovando em alguns papéis para dar oportunidade para todos que chegam ao mundo do teatro, que estão chegando no grupo e que fazem do Grita, um laboratório de dramaturgia. Jesus continua sendo interpretado por Jorge Smith, mas o papel de Maria este ano será da atriz Cássia Pires. Antônio Garcia, Pilatos; Iranir Moraes, Cláudia Prócula. Auro fará pelo terceiro ano consecutivo o personagem califa Omar, na cena do templo de Jerusalém. Além de Auro, compõem a direção geral do espetáculo, Claudio Silva e Carl Pinheiro.
O grupo Grita, responsável pela organização da Via-Sacra, foi fundado em 1972, quando um grupo de estudantes do Centro Educacional do Maranhão (Cema), resolveu se reunir para dar continuidade às atividades teatrais desenvolvidas na escola, atuando desde 1977 na comunidade Itaqui-Bacanga, e lá se incorporou à dinâmica da comunidade, por meio do Centro Comunitário Católico, fazendo teatro popular. O espetáculo ‘Via-Sacra’, foi concebido em 1981, com o propósito de traduzir o sentimento libertário da Paixão de Cristo, na movimentação em torno da emancipação da própria comunidade. Este ano o evento chega a sua 38ª edição.