TEATRO

Um questionamento sobre a memória e a verdade no palco

Com direção de Marcelo Flecha e atuações de Cláudio Marconcine, Katia Lopes, Lauande Aires e Tássia Dur, estreia nesta quarta-feira (1º), o espetáculo Ensaio sobre a memória, na sede da Pequena Companhia de Teatro, no Centro Histórico.

Reprodução

Partindo da concepção de que sem memória não há tempo, o escritor, poeta, tradutor, crítico literário e ensaísta argentino, Jorge Luís Borges, no conto A outra morte, se propõe a analisar as concepções sobre o tempo e memória. Tal reflexão serviu de inspiração para o texto do novo espetáculo: Ensaio sobre a memória, do diretor Marcelo Flecha.

O espetáculo que estreia nesta quarta-feira (1º), ás 19h e fica em cartaz até o próximo dia 06 de maio, na sede da Pequena Companhia de Teatro, na Rua do Giz, 295 Centro,  tem no elenco os atores Cláudio Marconcine, Katia Lopes, Lauande Aires e Tássia Dur. Em seu texto Marcelo Flexa também  traz à tona uma discussão recorrente: a de sermos um país sem memória. Para isso, o dramaturgo, coloca no palco a história de um gaúcho, recém-falecido que participara de uma batalha – a Batalha de Masoller, travada entre argentinos e uruguaios no início do século XX – e que em seus delírios finais a revivera. Borges como próprio narrador, teria conhecido tal personagem, embora não se recordasse de sua figura muito claramente.

Usando e abusando de intertextualidade, tanto o conto quanto a peça jogam no caos a possibilidade de se entender o caráter irreversível do passado, onde nada é capaz de alterar o ocorrido. Será? Eis a questão. No decorrer do espetáculo, o jogo fica entre a dualidade das histórias de Pedro Damían, que parece confundir o espectador, enredando-o. Assim como Borges, Marcelo Flecha coloca em dúvida ao mais atento a homonímia dos personagens: Pedro Damían e Pier Damiani, fazendo o questionar se são os mesmos nomes. E se seriam também a mesma pessoa, para mostrar a (ir)reversibilidade do passado.

O texto do novo espetáculo de Marcelo Flecha permeia situações sobre tortura, incertezas e da própria memória, que pode ser usada como instrumento de tortura para o homem por conta de suas ações que podem lhe causar um dos piores sentimentos: o arrependimento. Relativizando todas as coisas; pulverizando certezas pré-estabelecidas; como a própria noção de tempo; de memória; bem como a linguagem e a distinção entre verdade e ficção. Ou seja, a impossibilidade de guardar na memória todas as informações; todos os pontos de vista; todas as descontinuidades; impossibilidade esta que Borges denomina caos.

A verdade e a memória na berlinda

O primeiro grande desafio foi partir desse conta, adaptar essa realidade do universo Borgiano, transpondo esse universo do covarde e do herói para um universo mais próximo daquilo que queríamos  produzir. Num trabalho de construção/desconstrução o espectador é levado a acompanhar tal jornada como quem percorre um labirinto cheio de armadilhas. Os vários caminhos possíveis na busca da verdade.  “Sem sombra de dúvida a montagem mais complexa, mais difícil, mais problemática, mais fragmentada, mais longa da trajetória da Companhia, e arrisco cravar, da minha carreira. É uma confissão para os novos tempos”, conclui Marcelo Flecha.

O texto na visão dos atores

Foram 67 ensaios, de segunda a sexta-feira, quatro horas por dia para chegar á concepção final do espetáculo.

Para Lauande Aires, a grande dificuldade foi trazer vida a um personagem que passa 70% da cena no palco silenciosamente. O ator revelou que ao longo dos ensaios teve que encontrar a medida certa para encontrar o “time” (tempo) do personagem entrar em cena e interagir com os outros. “Foi um desafio como materializar o tempo desse personagem na cabeça dos outros personagens, e saber de que forma ele poderia chegar à ponto de entregar a palavra para o outro”, disse Lauande Aires.  

Para Claudio Marconcine, muito mais do que a questão estética está o discurso político de como se consegue fazer teatro em São Luís sem financiamento público diante da atual conjuntura que está cada vez mais difícil para a produção artístico-cultural no Brasil. “Para mim é importante como discurso, a partir do ponto de vista de é que eu enquanto cidadão brasileiro consigo me mobilizar e como eu consigo fazer frente diante de um discurso tão reacionário existente na contemporaneidade?  A única forma que eu consigo é fazendo teatro. Então para mim mais do que qualquer coisa é uma forma de eu sentenciar o meu discurso. Eu estou fazendo teatro independente de alteração de leis, de extinção ou fusão de secretarias ou de ministérios, a gente vai continuar a fazer teatro. Isto é mais forte e impactante nisso”, ressaltou Marconcine.

Já para Tássia Dur, afirma que mesmo com o texto todo na ponta da língua, ela está tentando entender essa desconstrução da memória que está o tempo todo na cabeça de Borges. “O meu personagem quer que o escritor retrate aquilo que ele sente sem ser de uma forma direta. Porque a história não é a verdade. Ela tá i tempo todo defendendo que cada um conta a história de uma forma. Ela questiona o escritor de que forma ele vai contar essa história buscando a verdade dele e como ele vai escrever esse conto. Esse texto ismiúça a memória coletiva e de que forma ela é contada e porque a gente define essa memória e que verdade é essa. È esta a reflexão que ele propõe”, adiantou Tássia Dur.       

SERVIÇO

O quê? Ensaio sobre a memória

Quando?  De 01 a 06 de maio, às 19h / Sexta e sábado às 19h e 21h

Onde? Pequena Companhia de Teatro – Rua do Giz,295 Centro.

Quanto? Ingressos no local: R$ 30,00 (Inteira) / R$15,00 (Meia)

Informações? (98) 98173 2172

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