Conheça o homem responsável pelo site que inspirou ataque em Suzano
O ex estudante da Universidade de Brasília, UnB, que diz odiar mulheres desde a infância e deu dicas aos assassinos de massacres no Rio de Janeiro e São Paulo.
Por trás dos massacres nas escolas de Realengo, em 2011, e Suzano, na última quarta-feira, está um brasiliense de 33 anos. Marcello Valle Silveira Mello é o criador de um site destinado a extremistas que estimulou e ajudou, dando dicas aos criminosos em ambos ataques.
Marcello nasceu em uma família de classe média alta e foi criada pela avó, morando em um dos melhores endereços da cidade. Introvertido, nunca foi de fazer amizades, em depoimentos à polícia, alegou ter sofrido bullying na escola e, desde cedo, odiar mulheres. Na lista dos “odiados” também estão negros, nordestinos, LGBTs, políticos e militantes da esquerda.
Nos tempos de Orkut, fez amizades com outros homens de racistas de extrema-direita, se tornando uma liderança entre eles e ainda não se escondia através de codinomes. Foi o primeiro brasileiro a ser condenado por racismo no universo digital, em 2009.
À época, ele cursava letras, com ênfase em japonês, na UnB. Onde também atacava mulheres, especialmente as negras e lésbicas. Denunciado por colegas e docentes, deixou a instituição para cursar computação em uma faculdade particular, mas não largou o crime, mesmo condenado a um ano e dois meses de prisão. Continuou em liberdade graças a recursos dos seus advogados, que alegavam insanidade do cliente.
Como um cracker — o hacker do mal — respeitado no submundo da internet, em 2011, Marcello se mudou para Curitiba, onde passou a cursar direito em uma universidade privada. Em um dos sites dele, o Silvio Koerich (um pseudônimo do criador), internautas comemoraram a ação de Wellington Menezes na escola municipal Tasso da Silveira, em Realengo. Em 7 de abril de 2011, o jovem matou 10 meninas e dois meninos. Depois, se matou. No site, a preferência por vítimas mulheres tornou foram comemoradas, considerando Wellington um herói. Quando a Polícia Civil começou as buscas, o Silvio Koerich saiu do ar.
Em 2011, o site voltou com títulos como: “Seja homem: mate uma mulher hoje”, pregando a legalização do estupro, oferecendo recompensas para quem matasse o então deputado Jean Wylllys e a professora e autora de um blog feminista, Lola Aronovich. Nesse período, um ataque ao prédio de ciências sociais na UnB foi anunciado no site, a intenção era “matar vadias e esquerdistas”.
Policiais federais prenderam Marcello em março de 2012, na Operação Intolerância. Durante buscas em Brasília e em Curitiba, os agentes encontraram um mapa apontando uma casa de festas frequentada por alunos da UnB, no Lago Sul. Local onde, segundo a PF, poderia ocorrer a matança anunciada.
A Justiça Federal condenou Marcello a seis anos e sete meses de prisão em regime semiaberto, pelos crimes de indução à discriminação ou preconceito de raça; incitação à prática de crime; e publicação de vídeos e fotografias de crianças e adolescentes em cenas de sexo. Ganhou o direito de cumprir a pena em liberdade após um ano e seis meses detido no Paraná.
Em liberdade, voltou a criar páginas criminosas na internet, entre elas a Dogolachan que só é acessível na dark net. No Twitter, Marcello mantinha um perfil com seu nome e foto, onde escrevia ameaças. O Dogolachan era comandado por Marcello até maio de 2018, quando policiais federais o prenderam na Operação Bravata. Desde então, um certo DPR se tornou o administrador.
Marcello foi condenado a 41 anos, 6 meses e 41 dias de prisão e também deve pagar R$ 1 milhão como reparação de danos. Depois do massacre em Suzano, o Dogolachan está sendo investigado pela Polícia Civil de São Paulo. Os dois assassinos do atentado utilizaram do fórum para obter dicas de como executar o crime e, logo em seguida, os assassinatos foram comemorados na página.