Baile do Cabelo Crespo promete música e atitude contra o preconceito
Baile do Cabelo Crespo, idealizado pelo DJ Pedro Sobrinho, que acontece amanhã, reunirá os DJs Nega Glícia, Carol Vieira e Pedro Dreadlock no Grand São Luís Hotel
O uso do cabelo crespo nos últimos tempos tornou-se um ato de posicionamento político e de empoderamento, principalmente no que diz respeito à ressignificação de identidade da população negra que utiliza como discurso o protagonismo, para influenciar homens e mulheres a também assumirem seus cabelos naturais, reconhecerem-se em seus cabelos crespos e em sua ancestralidade negra de matriz africana, num processo de libertação das articulações históricas da branquitude.
E foi passeando pelo Rio de Janeiro, curtindo o Baile do Black na Feira do Lavradio, na Lapa, que o jornalista e DJ Pedro Sobrinho teve a ideia de realizar, em São Luís, o Baile do Cabelo Crespo, que acontece nesta sexta-feira (25), a partir das 21h, no Rias Restaurante, no Grand São Luís Hotel, Praça Pedro II, no Centro Histórico. “Quando via as pessoas dançando música negra na rua me contagiou. Resolvi criar um baile desta natureza. Aí, nasceu o Baile do Cabelo Crespo, cujo objetivo é ocupar espaços fechados e públicos, agregando todos os amantes da música e estética negra como um ato político, por meio da diversão”, contou Pedro Sobrinho.
Para o DJ ainda há muito preconceito com quem tem o cabelo crespo, principalmente sob o pretexto de dizer “apenas o que pensa” ou fazer “só uma piada” sobre pessoas que têm cabelos crespos, fazendo com que muita gente acabe metendo o pé na lama do racismo. “É possível dizer que a formação sociocultural brasileira foi pautada no embranquecimento da população, passando pela questão capilar, inclusive – coincidência ou não –, há diversos produtos e técnicas para alisar cabelos crespos. De quebra, quem adotasse características eurocêntricas para se dar bem na questão da “passabilidade”, como ter traços faciais finos e cabelo liso, mais tinha chances de ser aceito em esferas sociais dominadas por pessoas brancas. Ou seja: a identidade negra era – e ainda é para uns e outros – uma treta das grandes. Por isso, que o Baile surge com o lema: Tire seu preconceito do nosso cabelo que nós vamos passar!”, ressaltou o DJ.
HERANÇA INFANTIL
Pedro Sobrinho acrescenta que muitas gerações nasceram e cresceram ouvindo, o tempo inteiro, que seus cabelos eram “ruins”, “duros” e com “aspecto sujo”. “Qualquer pessoa que se desenvolva sob afirmações tão hostis pode ter problemas profundos de autoestima. O preconceito contra os cabelos crespos é algo que machuca desde a infância. Ainda precisamos de marchas, festas e pessoas que afirmem o orgulho do cabelo crespo, pessoas que mostrem o quanto amam seus cabelos e o quanto enfrentam diariamente o preconceito que sofrem por deixarem seus cabelos naturais crescerem livres”, disse ele.