Terreiro de Yemanjá é tema de exposição em São Luís
O espaço mostra os 60 anos do Terreiro de Yemanjá, que foi comandado por Pai Jorge Babalaô, considerado uma das maiores referências de culto afro dentro e fora do Brasil
O babalorixá Pai Jorge Babalaô, uma das maiores expressões do tambor de mina do Maranhão, será homenageado amanhã, com a exposição 60 anos do Terreiro de Yemanlá – uma trajetória de resistência, que faz um resgate da história de uma das mais importantes casas de culto afro do Brasil, encravado no bairro da Liberdade. A abertura da exposição, que conta com o apoio de O Imparcial, será às 17h, no Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho, na Rua do Giz, 221, Praia Grande, no Centro Histórico de São Luís, e fica em cartaz até o dia 8 de dezembro, de terça-feira a sábado, das 9h às 18h, e aos domingos, das 9h às 13h.
Considerado um dos mais tradicionais pais de santo do Maranhão, Jorge Itaci Oliveira, mais conhecido como Jorge Babalaô, morreu em junho de 2003. O babalorixá sentiu-se mal após conceder uma entrevista a uma jornalista. Na ocasião, o pai de santo falava sobre o lançamento do CD e do DVD do terreiro Yié Ashe Yemowa Abê (Terreiro de Yemanjá), ao qual comandava, que aconteceria naquela semana. Laudo médico atestou que Jorge Babalaô foi vítima de um ataque cardíaco. Antes de morrer, o babalorixá disse que “via estrelas” e estava tonto. Levado ao hospital, Jorge Babalaô chegou sem vida. O clima no bairro da Fé em Deus, onde mantinha o terreiro, e que foi palco de várias festas em homenagem aos santos, foi tomado de tristeza, deixando órfãos filhos e filhas de santo em vários estados e em diversas casas de matriz africana em diversas partes do país.
Além de babalorixá, Jorge Babalaô também dedicou-se às artes visuais. E foi inspirando-se nos orixás que também firmou-se artista plástico, figurando suas telas em várias exposições individuais, retratando em telas e cores personagens que fazem parte do ritual da Mina e da Umbanda.
Como babalorixá, Jorge Babalaô foi também um dos maiores defensores das religiões de matriz africana, O fato foi registrado pela pesquisadora da cultura popular maranhense, Zelinda Machado de Castro Lima, na época em que exercia a função de diretora do Centro de Criatividade Odylo Costa, filho, da Gerência de Estado da Cultura. Quando assumiu o departamento, além da pobreza dos grupos, os representantes de terreiros lutavam contra a discriminação de uma sociedade preconceituosa e sofriam ainda a perseguição da polícia, sujeitos ao pagamento de taxas para expedição de licença de funcionamento, e obrigados à obediência de horários rígidos para cultos e festas. Em seus registros, Zelinda Lima afirma que as casas de culto afro eram fiscalizadas pelas patrulhas policiais, que apareciam de repente e, além de comer e beber por conta de sua autoridade, decretavam o fechamento do terreiro ou cobravam propinas para fechar os olhos ao horário marcado na licença; caso contrário, promoviam verdadeiro quebra-quebra e interrompiam o culto a seu bel-prazer, com a prisão arbitrária dos pais de santo. Jorge Babalaô foi um dos maiores expoentes das tradições afro-maranhenses e por conta de seu trabalho dedicado ao culto afro religioso, foi reconhecido como Embaixador da Nação Mina e Cavaleiro da Ordem de Ogum Shoroquê, título que lhe conferiu a Federação Paranaense de Umbanda e Cultos Afro-brasileiros.
Babalorixá, escritor e artista plástico
O babalorixá também deixou a sua marca registrada ao enveredar pela literatura ao ter escrito o seu livro Orixás e Voduns, narrando sua trajetória na Mina, foi publicado pela antiga Secretaria de Cultura do Estado do Maranhão. Também recebeu as medalhas do Mérito Timbira, do Governo do Maranhão, e a de Simão Estácio da Silveira, da Câmara Municipal de São Luís. Participou de vários encontros internacionais em Salvador, Porto Alegre, São Luís e outras capitais brasileiras.
Jorge Itaci de Oliveira nasceu em 28 de agosto de 1941, filho de João da Cruz Oliveira e Paula de Jesus Saraiva de Oliveira. Desde cedo revelou manifestações mediúnicas e foi iniciado por Mãe Pia, do Terreiro do Egito. Depois, montou sua própria casa, no Calhau, cujos fundamentos foram assentados por Firmina e Gabina. Com a morte do pai, contrário à iniciação do filho, mudou-se para a Fé em Deus, onde continuou sua missão, sob a orientação de Mãe Dudu, da Casa de Nagô, e de Mãe Amélia de Doçu, da Casa das Minas.
Além de Babalorixá, Jorge Babalaô também dedicou-se às artes visuais. E foi inspirando-se nos orixás, que também firmou-se artista plástico, figurando suas telas em várias exposições individuais retratando em telas e cores, personagens que fazem parte do ritual da Mina e da Umbanda.