COPA 2018

Bairros de São Luís vivem contradições na torcida da seleção canarinha

O contraste da torcida maranhense se percebe no modo como os moradores se comportam em áreas consideradas nobres e em outras mais carentes

Foto: Honório Moreira

Em suas casas, protegidas por cercas elétricas e muros altos, a elite vai (ou não) assistir aos jogos da Copa do Mundo de Futebol, que este ano está acontecendo na Rússia. Enquanto isso, em bairros mais pobres e carentes de infraestrutura básica moradores se mobilizam e não medem esforços para decorar suas casas e ruas para entrar no clima da Copa. Mas por que essa polarização? O que difere uns torcedores dos outros? O Imparcial foi às ruas e conversou com os moradores da cidade para saber de que lado estão.

“Mas a minha casa está decorada. Aqui no bairro é que não vê muito dessas coisas. Se depender dessa rua, não dá nem para saber que é Copa do Mundo. Mas é tudo por causa dessa crise também, essas greves atrapalharam muito. Mas para mim também não faz diferença, gosto da festa mesmo, é bom que reúne a família”, diz a aposentada Ana Amélia, 59 anos, moradora do Renascença, área nobre da cidade.

No outro lado da cidade, a dona de casa Maria Luiza, 66 anos, comemora a colaboração dos moradores de sua rua, no João Paulo. “Ah minha filha, tá (sic) tudo lindo. E a comunidade sempre faz isso todo ano, mas o que a gente queria, era que ajeitassem essa vala e não transbordasse mais. Todo mundo se junta para dar uma contribuição, de 1 real que seja, aí compramos as linhas, que são caras, e o outro pessoal amarra. Se a vala não inundasse tudo, ficaria bonito. Já morreu até gente aí, quando enche é um desespero. Mas, se o Brasil não ganhar a gente arranca tudo”, garante.

Foto: Honório Moreira

O jornaleiro Fernando Amaral, 60 anos, se empolga tanto que até pintou a frente da casa com as cores do Brasil. “Fico alegre, fico animado. A gente não vai fazer nada? Só quando a Copa é no Brasil? Vamos se animar sim. E a contribuição é geralmente de 15 reais por pessoa. Quem pode contribuir com mais sempre ajuda”, diz o morador.
A decoração contrasta com a situação em que vivem os moradores da Rua da Vala. Lado a lado com o esgoto estão ruas, calçadas e muros pintados. Acima, o visual é entre o esgoto e as bandeirinhas no céu.

“Existe todo um esforço da comunidade em embelezar a rua, com os enfeites, decoração, mas com o estado em que ela se encontra, dá até desânimo. Essas calçadas aí, não são altas por moda, é necessidade. Porque toda vez que chove isso aqui alaga. Mas para a Copa estamos animados” diz o músico Valter, 69 anos.

Sem motivo para comemorar

Foto: Honório Moreira

Outros países, não só o Brasil, passam por uma crise que é principalmente de ordem financeira, mas também se vêm mergulhados em crise política, sendo pouco provável pensar em decoração para um evento cuja realização não traz impactos profundos no dia a dia das pessoas, não acrescentando em nada, como afirma o lojista Cleberte Santos.

“Acredito que a decoração é uma manifestação de satisfação com a situação. Com todo esse caos que vivemos, que motivo a gente tem pra decorar a rua? Para aplaudir jogador de futebol? Não se vê motivos para fazer decorações na situação de desordem em que o País se encontra”.

As bandeirinhas que vão muito além de decoração, representam uma festa e torcida por um país que não está ganhando em nem um quesito. Mas nem toda a população considera de todo mau e somente vê um prejuízo essas manifestações.

Foto: Honório Moreira

O trabalho de enfeitar e decorar as ruas não é um hábito muito comum nas ruas do bairro do Renascença, São Francisco e áreas nobres adjacentes. Dentro dos apartamentos, lanchonetes, lojas e conveniências, os moradores ainda refletem um certo ânimo e tentativa de fazer a população entrar no espírito do momento.

“Acho que as cores e o clima da Copa, misturado ao clima do São João deixa a loja mais atraente. Acho que a maioria gosta sim desse clima”, diz o lojista do São Francisco, Antônio José Costa.

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