Começa montagem da Via-Sacra
A expectativa é de que pelo menos 300 mil pessoas assistam à encenação que percorre 2 km das vias do bairro envolvidas na fruição da estética da encenação da Paixão de Cristo
É contando a história do bairro Anjo da Guarda, desde as primeiras ocupações e fatos históricos, que a Via-Sacra do Anjo da Guarda deste ano começará a ser montada, segundo a produção, a partir de hoje. O espetáculo, o maior a céu aberto do estado, está na 37ª edição com o tema: Comunidade: Um terço de memória e será apresentado nos dias 29 e 30 (quinta e sexta-feira), às 18h.
Mesmo com o atraso na montagem por conta da incerteza dos recursos para o espetáculo, o Grupo Grita, responsável pela concepção e realização do espetáculo, conta com o apoio da comunidade para levar a encenação para as ruas do bairro.
Segundo Simoney Mascarenhas, um dos cenógrafos, a força da comunidade é um dos pilares para manter viva a tradição da encenação da história mais antiga da humanidade. “Estamos fechando esse conceito dos cenários para começar a montagem nesta quarta-feira, 14. Vamos fazer com recursos limitados, mas vamos fazer independente disso. A comunidade está conosco. Estamos esperando os recursos via Lei Estadual de Incentivo, que não é o suficiente, mas manteremos a tradição. Nossos cenários vão remontar aos 50 anos do povoamento do Anjo da Guarda, retratar o incêndio do Goiabal, as primeiras casas, a reconstrução do novo Anjo da Guarda, o mutirão…”, adianta Simoney.
De acordo com a assessoria do espetáculo, o elenco é o mesmo do ano passado. O grupo Grita apresenta a Via-Sacra há 36 anos e o espetáculo emociona e mobiliza milhares de pessoas durante dois dias, no bairro Anjo da Guarda. A montagem já foi vista por mais de 2 milhões de pessoas, desde sua primeira apresentação em 1981, e é um projeto que é, a um só tempo, fé, integração, socialização, valorização comunitária, criatividade, mobilização coletiva, versatilidade cultural, orgulho e resistência sociocultural.
A expectativa é de que pelo menos 300 mil pessoas assistam à encenação que percorre 2km das vias do bairro envolvidas na fruição da estética da encenação da Paixão de Cristo. O percurso da fé inicia na Praça do Recanto da Paixão, Largo do Teatro, passando pela Praça do Anjo e chegando ao ápice na Praça da Ressurreição, onde acontece o ato final.
Novidades
Nessa 37ª edição, a Via-Sacra, como de costume, vem com surpresas e inovações, sempre trazendo um tema que busca estimular a consciência social e coletiva. Muitas serão as surpresas para este ano. Desta vez, o grupo convida para uma reflexão sobre o bairro Anjo da Guarda e a sua história. No Corredor da Reflexão, a assessoria do espetáculo adianta que será dado destaque à feira do bairro. Também está sendo guardada a sete chaves a cena da anunciação do Anjo, que é surpresa. “Também haverá a cena de abertura que é onde a gente faz uma espécie de apresentação do tema”, diz a assessoria.
O espetáculo tem direção geral de Cláudio Silva e ainda Vinícius de Azevedo e Auro Juriciê.
Grita
O Grupo Independente de Teatro Amador existe há 44 anos atuando na comunidade do Itaqui-Bacanga, especialmente no bairro do Anjo da Guarda, que este ano completa meio século de existência. Juntos, têm uma história de luta, entre tragédias, superação, ativismo social, político, comunitário, com produções artísticas e culturais que valorizam o teatro e enfocam as questões cotidianas da comunidade. Assim foi concebido o espetáculo Via-Sacra, considerado uma das maiores produções do gênero no Brasil, realizado durante a Semana Santa.
Preparativos
Oficinas, palestras, ensaios, preparação de elenco, figurino, gravação de vozes, uma série de atividades que envolvem a concepção do espetáculo estão sendo realizadas desde o fim do ano passado. O grupo Grita também trabalha a educação e a promoção da cidadania por meio da arte. São vários cursos, oficinas e produções voltadas para a juventude da Área Itaqui-Bacanga. Muitos destes jovens também participam em vários setores da produção da Via-Sacra.
Milhares de pessoas estão envolvidas na montagem diretamente e indiretamente, entre elenco, produção, apoio, equipe técnica, comércio informal e profissionais de órgãos públicos que garantem a infraestrutura para a realização do espetáculo, como bombeiros, Polícia Militar, Polícia Civil, entre outros que compõem a superprodução.
Além de ser um grande atrativo para turistas, a manifestação tradicional do estado, que mistura fé, arte, religiosidade e por que não, protesto, oferece oportunidade de capacitação, emprego e renda para toda a comunidade.