40 DIAS

Saiba o significado da tradicional quaresma, período entre Carnaval e Páscoa

As cinzas da folia se transformam em orações e penitências que antecedem a maior festa cristã: a Páscoa

O carnaval chegou ao fim. E quando desponta a quarta de cinzas, momento em que muitos foliões procuram descansar dos dias de festas que começaram desde o dia 1º de janeiro, existe um grupo que transforma as cinzas da irreverência carnavalesca em penitência e preces de arrependimento. São os católicos e seus rituais no período chamado quaresma.

A tradição relata que a quarta-feira de cinzas é um dia simbólico, pois representa o início dos 40 dias que antecedem a maior festa cristã: a Páscoa. Nesse período, os fiéis adentram em uma atmosfera de contrição, oração e comunhão com Deus. Segundo o Padre José Raimundo, pároco da paróquia de Nossa Senhora Aparecida da Foz do Rio Anil, em São Luís, esse momento é extremamente emblemático e preponderante para reforçar os laços cristãos. “É um tempo de preparação. A palavra que resume esse período é conversão. Conversão é voltar-se para o Senhor. Este é um momento em que a igreja nos convida a se lembrar de que, maior que o nosso pecado, é a bondade e misericórdia de Deus”, conta.

Para expressar a veracidade do processo de conversão dos fiéis, a Igreja Católica recomenda alguns rituais e liturgias para o período, segundo o padre. Chamados de “práticas quaresmais”, esses rituais revelam a força que existe na penitência e na oração.

“Nossas práticas nesse período se caracterizam pelo jejum, pela esmola e pela oração. O jejum, que nos faz lembrar a importância do alimento espiritual; a esmola, que demonstra nossa caridade para com o próximo, e a oração que nos aproxima de Deus, de sua misericórdia e do seu amor”, explica o pároco.

“Todos os anos, durante a segunda semana da quaresma, nós realizamos nosso retiro espiritual. Nesse período, intensificamos todas as atividades que já fazemos durante os outros meses. Realizamos vias sacras, aumentamos os trabalhos de confissões e adoração ao Santíssimo Sacramento. Tudo isso para culminar na celebração do sábado santo, que é a celebração por excelência”, declara José Raimundo.

Quaresma por fidelidade

A funcionária pública Sara Castro, católica praticante desde criança, revela que a quaresma é uma ressalva para os fiéis lembrarem o que realmente importa. Deixar de lado algumas práticas que desagradam a Deus e estar em comunhão com Ele.

“Eu acredito que esse processo é necessário para que nós esqueçamos tudo que nos afasta de Deus. É uma oportunidade de colocarmos Deus em primeiro lugar. Além disso, é um período de penitência e autoflagelação, que simboliza nosso respeito e gratidão ao sacrifício de Deus”, bem coloca.

O caso do motorista Márcio Freitas é um pouco diferente. Ele era católico, mas afirmou que não era praticante. O motorista iniciou as práticas de quaresma há 3 anos. Questionado sobre como se sente nesse período específico, ele garante alcançar um desprendimento do mundo e das coisas materiais.

“Foi muito bom quando comecei a realizar a quaresma porque nesse momento eu passei a dar valor a coisas que, antes, não faziam parte da minha rotina. É sempre um momento de oração e de comunhão que eu não quero mais deixar de viver”, declara.

O Imparcial, tentando entender a curiosa antítese que existe no fato de o período de quaresma – que precede a maior festa cristã – começar justamente um dia após o fim de uma das festas mais profanas da humanidade, questionou José Raimundo sobre esse detalhe. O pároco explicou que as cinzas da quarta-feira representam a fragilidade humana e todas as futilidades mundanas.

“Ontem, nós realizamos em todas as paróquias a celebração das cinzas. A quaresma inicia na quarta-feira de cinzas. Como esses 40 dias são marcados pela prática de penitência, da oração que simboliza nossa conversão, nós recebemos as cinzas. Essas cinzas simbolizam o discernimento de que nós viemos do pó da terra, e, como pó da terra, somos passageiros e um dia voltaremos a esse pó”, ilustra. “Se tudo nesse mundo é passageiro, nós devemos nos apegar às coisas que são eternas. Só Deus não passa, só Ele é eterno. Essas cinzas lembram nossa fragilidade, nossos pecados e nossa transitoriedade nesse mundo”, pontua o padre.

40 dias

A duração da quaresma está baseada na simbologia do número quarenta na Bíblia. Por várias vezes, esse número é falado nas Escrituras. Foram 40 dias do dilúvio, 40 anos de peregrinação do povo judeu pelo deserto, 40 dias de Moisés e de Elias na montanha, 40 dias que Jesus passou no deserto sendo tentado por Satanás.

Na Bíblia, o número quatro simboliza o universo material, seguido de zeros significa o tempo de nossa vida na terra, seguido de provações e dificuldades. A prática da quaresma data desde o século IV, quando se dá a tendência a constituí-la em tempo de penitência e de renovação para toda a Igreja, com a prática do jejum e da abstinência.

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