Máquina de Descascar’alho abre o ano com muito samba no pé
Brincadeira carnavalesca que já faz parte do calendário cultural da cidade sai hoje, primeiro dia do ano, pelas ruas do bairro da Madre Deus, entre marchinhas e batucadas
Trinta e dois anos ininterruptos levando a alegria pelas ruas da Madre Deus no primeiro dia do novo ano que se inicia. Essa tem sido a missão da Máquina de Descascar’alho, que surgiu na década de 1980. Para celebrar estas mais de três décadas é que a brincadeira carnavalesca vai receber convidados ilustres no palco do Largo do Quinto (Turma do Quinto), na Madre Deus, neste dia 1º de janeiro, a partir das 17h, na primeira etapa do Projeto Batuques Maranhenses, arrastando centenas de foliões dos quatro cantos da Ilha.
Segundo Boscotô, coordenador da Máquina de Descascar’alho, os convidados para o primeiro dia do ano são: Bloco de Samba Fuzileiros da Fuzarca, Grupo Regional, Bateria da Turma do Quinto e grupos de samba e pagode. E este ano a brincadeira vai fazer uma homenagem ao músico Velozo, um dos fundadores da Máquina de Descascar’alho, que morreu no ano passado. “O Batuques Maranhenses é uma realização da Máquina de Descascar’alho e vai reunir todos os ritmos maranhenses começando hoje, dia 1º, e em seguida, nos próximos fins de semana, nos dias 7, 14 e 21 de janeiro, sempre no Largo do Quinto, próximo à sede da Turma do Quinto, na Madre Deus. Vamos fazer uma grande festa relembrando todas as músicas que fazem parte da história da Máquina e de outras brincadeiras carnavalescas”, explicou o sambista.
Em entrevista a O Imparcial, Boscotô revelou que a Máquina de Descascar’alho surgiu em uma época que o carnaval de clube e o de passarela eram muito fortes. Ele explicou que os blocos tradicionais e organizados, escolas de samba, Lítero, Jaguarema, Casino e outros faziam a alegria dos foliões. “Começava a partir das 16h com os vesperais e depois os bailes. O carnaval de rua existia, mas não era tão atrativo. A Máquina não surgiu para resgatar esse carnaval que estava caindo no esquecimento. Ela nasceu de uma reunião de muitos músicos que resolveram fazer um samba com muito batuque e saímos pelas ruas com nossos instrumentos e de lá para cá não paramos mais”, disse Boscotô.
O sambista contou ainda que no ano de 1984, quando a brincadeira começou, a base era feita pelos músicos do Grupo Regional 310 que realizavam o cortejo pelas ruas da Madre Deus sempre nos três fins de semana antes do carnaval. De acordo com Boscotô, somente no ano de 1986 é que a manifestação carnavalesca foi batizada como Máquina de Descascar’alho. “Era como uma locomotiva que a cada ano ganhava um novo vagão para comportar as pessoas. Colocamos Máquina de Descascar’alho porque o alho é perfumado, dá aquele tempero gostoso na comida e foi aceito por todos. A ideia era curtir o carnaval. Tanto que nós não tínhamos horário e nem local para sair. Quando a Madre Deus entrou no circuito de carnaval, nós às vezes vínhamos na contramão das brincadeiras ou cortando os cantos e ruas da Madre Deus em um cortejo gigantesco. Não tínhamos aquela organização dos blocos. Nós éramos de rua, a ideia era só levar alegria. Não gosto da palavra resgate. O intuito era se divertir”, explicou Boscotô.
Máquina é conhecida pelo seu repertório recheado de marchas de carnaval, samba, blocos, tambores e afoxés, desde interpretação de obras de reconhecidos artistas da esfera nacional a composições próprias e a valorização e resgate de composições maranhenses da ‘velha guarda’ que moravam ou costumavam frequentar o bairro boêmio da Madre Deus.
O grupo se consolidou ao longo dos anos, participando de inúmeros festivais e shows na cidade, no circuito Centro e periferia da Ilha, como forma de estabelecer sua expressiva veia musical a fim de alcançar o reconhecimento do público em geral. Dentro do contexto musical, o grupo é destaque no Maranhão por uma forte tradição cultural, que possui uma diversidade rítmica única e especial.
Um bloco de artistas humildes
Boscotô acrescentou que foi somente em 2011 que foi criada uma associação para organizar a brincadeira, obtendo um registro para poder receber recursos e se manter. A partir daí, a banda começou a integrar a programação cultural tanto na capital, quanto no interior do estado, o que lhe proporcionou a gravar cinco CDs com composições autorais. Ao todo, são mais de 50 músicas de variados compositores. “O sentimento que tenho após esses pouco mais de 30 anos é que ajudamos a fortalecer o movimento do carnaval de rua. Vejo a Máquina como um símbolo de resistência e que influenciou outros blocos com suas marchinhas de duplo sentido, como a Suco de alho (um alerta sobre a dengue), Golfo deu, que fazia uma crítica à guerra entre Irã e Iraque, Nambu Seca, Código F de parágrafo D, entre outras. Hoje, a Máquina também mudou a sua linha de composição, que tem como inspiração o amor, a paz, a vida, entre outros temas do cotidiano. No ano passado, por exemplo, fizemos uma homenagem à peça Pão com Ovo, onde fizemos uma música inspirada neles. Enfim, a máquina é isso: alegria e descontração no carnaval. Somos um bloco feito por artistas humildes”, disse Boscotô.