A polêmica restauração da RFFSA
A derrubada de um dos anexos construídos anos após a construção original causou polêmica nas redes sociais. Iphan esclareceu que derrubada de parte do imóvel não tem valor histórico
A revitalização do prédio onde funcionava a antiga Rede Ferroviária Federal S/A, popularmente conhecida como Rffsa, localizada na Avenida Beira-Mar, que será transformado em espaço de cultura, arte, entretenimento e vivência, causou um impacto nas redes sociais na tarde de ontem quando foram postadas as imagens de um trator derrubando um anexo onde funcionava a delegacia.
No prédio, que estava deteriorado e sem ocupação, funcionou por muitos anos a Estação João Lisboa, que foi inaugurada no ano de 1929. No local, centenas de maranhenses partiam diariamente para outras cidades do Maranhão e também para se deslocar dentro de São Luís. A Rffsa foi extinta no ano de 2007, mas a locomotiva parou de funcionar na década de 1980.
A obra de revitalização da antiga Rffsa, que faz parte das ações do PAC Cidades Históricas, do governo federal, e contempla a restauração de todo o Complexo Ferroviário de São Luís, está sendo executada por meio de um projeto realizado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em parceria com o governo do estado e Prefeitura de São Luís, transformando a área em um novo cartão-postal da cidade.
Questionado pela equipe de O Imparcial sobre a derrubada de parte do imóvel da antiga estação ferroviária, o superintendente do Iphan no Maranhão, Maurício Itapary, esclareceu que o anexo que abrigou por anos várias delegacias foi retirado por conta de ter sido construído muito tempo depois do prédio original, e que ele não tinha nenhum valor histórico. “Esta é uma construção recente que foi feita posterior ao imóvel original, do antigo complexo ferroviário. Foi por isso que ele foi retirado do local. Vamos restaurar o prédio da antiga Rffsa obedecendo suas características originais. Para realizarmos esta obra, foi feita toda uma pesquisa histórica sobre o imóvel que, após sua restauração, vai servir de plataforma onde ficará exposta a locomotiva Benedito Leite, que também foi restaurada”, explicou Maurício Itapary.
Maurício Itapary lembrou que a locomotiva, que circulava em São Luís desde 1920 e que passou décadas sendo um dos principais meios de transporte na capital, já foi reformada. A reforma do trem, que permaneceu sempre na Avenida Beira-Mar, foi executada por um instituto pernambucano, especializado em obras de monumentos históricos, em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O trabalho foi concluído no ano passado, e atualmente a locomotiva encontra-se no pátio do Palácio Henrique de La Rocque até a conclusão final de toda obra para retornar para seu local original.
Maurício Itapary ressaltou ainda que o Complexo Ferroviário está inserido no conjunto histórico, arquitetônico e paisagístico urbano da capital e é tombado pelo governo do estado, por meio do Decreto 10.089, de março de 1986, e que após a área ser totalmente restaurada será entregue à população mais um ponto de referência para o turismo e a cultura maranhense.
De acordo com o projeto, o novo prédio vai contar com espaços comerciais como cafeteria, choperia, galerias de arte, restaurante panorâmico e lojas, além de abrigar o Museu da Memória Ferroviária Maranhense e um setor da administração estadual. Também serão construídas três novas praças, uma delas em homenagem ao carnavalesco maranhense Joãosinho Trinta, e reformada a Praça Gomes de Souza, que atualmente abriga o monumento de 350 anos de São Luís. Serão feitas, ainda, melhorias no entorno.
As praças terão áreas de sombreamento com plantio de árvores nativas e conservação das existentes. Uma destas construções vai abrigar área de exposição da Locomotiva Benedito Leite, que será restaurada e receberá iluminação artística. A inclusão será plenamente atendida com obras de acessibilidade compatível ao sistema viário, com faixas de pedestres, rampas nas calçadas com contrapiso em concreto de alta resistência, além de sinalização tátil.
Para o guia turístico Simão Cirineu, que trabalha na área desde 1976, a reforma do Complexo Ferroviário da Rffsa vai contribuir muito com o turismo da cidade, mas está preocupado com a falta de proteção da locomotiva que, após a restauração, está sem proteção, pegando chuva. “Estávamos preocupados com o andamento da obra, porque não tínhamos informação de como ficaria e também não sabíamos da existência de um marketing sobre o local. Mas, depois que soubemos da restauração, acreditamos que este será um belo cartão-postal que será apreciados por maranhense e turistas de todas as partes do mundo”, disse o guia.
O projeto da Estação João Pessoa foi desenvolvido por uma equipe multidisciplinar que contou com historiadores, sociólogos, arquitetos, engenheiros, dentre outros. Onde foi realizado um minucioso resgate histórico e arquitetônico da edificação e entorno imediato em questão. Tivemos como objetivo principal resgatar as características originais da edificação, que se encontrava em avançado estado de adulteração devido aos diversos usos aplicados ao imóvel no passar dos anos.
Histórico de Intervenções
Segundo Verônica Pires, arquiteta responsável pelo projeto, a Estação João Pessoa é classificada pelo Inventário do Patrimônio Ferroviário do Maranhão como uma estação de grande porte de estilo eclético, fazendo parte do seu complexo arquitetônico o prédio principal com três pavimentos mais mirante e um anexo. A inauguração desse ponto de embarque e desembarque de passageiros no Cento de São Luís ocorreu após quatro anos do Decreto nº 14. 832 de 25, de maio de 1929, após a substituição da primeira planta feita em 1920. O engenheiro responsável pela obra foi Teixeira Brandão, diretor da Estrada de Ferro São Luís- Teresina. Na década de 1950, o prédio principal ganhou mais um andar completo e a instalação do relógio na fachada central do mirante
Em 1957, quando a ferrovia foi incorporada à Rede Ferroviária Federal S/A (Rffsa), a Estação João Pessoa passou a sediar a administração da Estrada de Ferro São Luís-Teresina, permanecendo nesse local até a década de 1980, quando foi transferida Bairro do Tirirical, próximo ao Departamento Municipal de Estradas e Rodagem. Ao logo do período de funcionamento da estrada de ferro São Luís-Teresina, até 1991, a Estação João Pessoa funcionou como ponto central de embarque e desembarque, confluindo para a ligação entre o interior e o porto da capital.
Sobre Complexo Ferroviário
A obra no prédio da Rffsa vai modificar toda a estrutura atual. O prédio principal terá, no pavimento térreo, ambientes de uso social, como recepção e salão de exposições, e de uso comercial, referentes aos três recintos destinados à locação. Ainda, sobreloja com salas para a Secretaria de Estado da Cultura e Turismo, passarela e piso de vidro que transpõe o hall de exposição, além de banheiros masculino, feminino e para pessoas com necessidades especiais.
O primeiro pavimento vai abrigar salas administrativas da Secretaria, além de uma sala de reunião e ambientes de serviço como copa, almoxarifado e banheiros. O segundo pavimento, pela vista privilegiada, vai contar com um restaurante panorâmico, salão de mesas, espaço para instalação de um bar, cozinha industrial, administração e banheiros.
Onde funcionava o arquivo será construído o escritório regional da Reffsa, no térreo, e o antigo anexo será demolido. No local, visitantes terão acesso à recepção, auditório e banheiros. Contempla ainda a construção de ambientes de serviço como copa e sala para guarda de todo o acervo existente.
Para a área do arquivo, está projetado, ainda, um mezanino para ambientes de trabalho de acesso restrito, com laboratórios de digitalização e de restauro, área técnica, sala de informática, diretoria com lavabo exclusivo e sala de reunião. Toda a iluminação da área próxima à Reffsa será reformulada e o espaço da praça vai ganhar projeto paisagístico.