Pedaços da História

Esculturas são retiradas de locais públicos para evitar depredação

Obras que representam o acervo artístico e contam a história da capital dos amores deixaram locais públicos para serem preservadas

Honório Moreira/O Imparcial

São Luís é a capital das histórias e dos acontecimentos marcantes. Muitos deles foram gravados em pedra ou metal através de monumentos e esculturas que embelezam e relembram uma parte da memória da Ilha dos Amores.
Porém, muitas vezes, por conta da ação do tempo, ou vandalismos que danificam as esculturas e desrespeitam a sua importância histórica, em alguns locais se faz necessário a retirada desses objetos de tanto valor para a identidade cultural da cidade. Mas para onde eles vão? O que acontece com eles?A identidade histórica continua preservada?

Manoel Beckman
Talvez os mais jovens nem o conheçam, mas quem tem um pouquinho mais de idade talvez se pergunte: o que aconteceu com a estátua do “Roque Santeiro” que ornamentava a rotatória de mesmo nome, que existia na Avenida Jerônimo de Albuquerque, e dava acesso ao bairro do Bequimão? A estátua, na verdade, é de Manuel Beckman, senhor de engenho e revolucionário português radicado no Brasil.
A obra que por muitos anos enfeitou o caminho de quem passava pela avenida foi removida há alguns anos, durante uma reestruturação que retirou a rotatória que antes existia, instalando sinalização semafórica.Segundo registros jornalísticos, a escultura foi esculpida por um padre italiano chamado Cherubino Luigi Dovera.

Manuel Beckman era filho de pai alemão e mãe portuguesa, e muito jovem veio para a região do Rio Mearim, no estado do Maranhão, tornar-se senhor de engenho. Manuel foi ainda vereador da Câmara Municipal de São Luís.
Junto com o irmão, Thomas Beckman, envolveu-se nas divergências entre proprietários locais e religiosos da Companhia de Jesus, com relação à escravização do indígena, culminando, na noite de 24 de fevereiro de 1684, durante as festividades de Nosso Senhor dos Passos, numa violenta reação contra o monopólio da Companhia Geral de Comércio do Maranhão, envolvendo de 60 a 80 dos chamados “homens-bons” da região. Apontado como um dos líderes da revolta, Manuel Beckman recebeu como sentença a morte pela forca. Os demais envolvidos foram condenados à prisão perpétua. A execução pública de Beckman ocorreu em 2 de novembro de 1685, na chamada Praia do Armazém.

Literatura maranhense
Na Praça do Pantheon, no Centro, os 16 bustos de personalidades maranhenses já estão longe há 11 anos. As obras de arte que homenageiam grandes ícones da literatura do Estado foram retiradas da Praça em 2005, quando passaram por restauração. Desde então, a visão de frente à Biblioteca Pública Benedito Leite ficou menos rica, contendo apenas as bases que sustentariam os bustos. Gomes de Castro,Teixeira Mendes, Urbano Santos, Maria Firmina dos Reis, Bandeira Tribuzi, Arnaldo Ferreira, Silva Maia, Coelho Neto, Gomes de Sousa, Clodoaldo Cardoso, Henriques Leal, Artur Azevedo, Corrêa de Araújo, Raimundo Correia, Dunshee de Abranches e Nascimento Moraes representam uma parte importante do trajeto cultural do estado e hoje estão sob a proteção do Museu Histórico e Artístico do Maranhão (MHAM), que fica na Rua do Sol, também no Centro de São Luís. Segundo a Secretaria de Estado da Cultura e Turismo (Sectur), eles foram retirados dos logradouros em decorrência de sucessivos atos de depredação.

Soberana do rio
Outro monumento que saiu das ruas e ganhou um canto no Museu Histórico e Artístico do Maranhão foi a estátua da Mãe d’Água, que ficava no meio do chafariz, na Praça Dom Pedro II. A estátua do artista maranhense Newton Sá foi retirada para também passar por restauração e não voltou mais ao seu local de origem.
A Sectur disse que o motivo é o mesmo da retirada dos bustos da Pantheon. A secretaria informou também que o museu é aberto à visitação de terça a sexta de 9h às 17h; sábado entre 9h às 16h; e domingo das 9hàs 14h.

Rei dos mares despedaçado
Na década de 1990, por volta de 1995 uma herança deixada por Portugal foi brutalmente vandalizada em um dos pontos de maior relevância turística e histórica para São Luís. O local era a Fonte do Ribeirão, no Centro Histórico e a estátua era uma representação de Netuno, deus romano dos mares, que chegou à fonte em 1796, esculpido com maestria em pedra de Lioz.
Segundo o coordenador técnico do Iphan, Rafael Pestana, a estátua que já sofria com a ação do tempo e ambiente foi quase que completamente destruída após a ação de vandalismo que aconteceu durante a madrugada, e teve que ser resgatada pelo órgão para que não se perdesse totalmente. “Ele foi completamente arrancado do local e se espatifou quando foi jogado ao chão. A instituição tomou conhecimento e efetuou as providencias na época que foi fazer todo o processo e restauração, e para garantir a segurança e integridade desse bem, se optou por fazer uma réplica e colocá-la no local e o original após a restauração ficou sob a guarda da instituição”.
A imagem passou por uma minuciosa restauração e ganhou uma réplica em tamanho menor, que hoje compõe o conjunto arquitetônico da Fonte. Rafael Pestana ressalta que essa prática é muito comum na Europa, justamente para manter a integridade do monumento contra poluição e outros fatores externos.

Preservar e resguardar
Os ataques a estátuas não são raros, assim como as pichações e depredações que deformam locais históricos, obras de valor comercial já foram levadas. É o caso da escultura de uma Águia em bronze que existiu na rampa do Palácio dos Leões abaixo da sede da Capitania dos Portos, e que homenageavao primeiro voo sobre o Atlântico realizado pelos portugueses Gago Coutinho e Sacadura Cabralem 1922, e que foi roubada. A obra por ter um tamanho menor que outras estátuas de bronze como a de Benedito Leite ao lado da Igreja da Sé, foi facilmente levada e provavelmente perdidapara sempre. Rafael Pestana salienta que além da resguarda e requalificação de obras como estas, é necessário um trabalho de educação patrimonial com as pessoas. “A municipalidade aliada aos órgãos de preservação têm que fazer esse trabalho de conscientização com a população, de que aquela obra faz parte de sua história e deve ser valorizado”.Em contato com a Prefeitura de São Luís, a reportagem não foi informada o destino que a escultura de Manoel Beckman teve depois de sua retirada do local de origem.

História

Iara ou Uiara (do tupi ‘y-îara “senhora das águas”) ou Mãe-d’água, segundo o folclore brasileiro, é uma linda sereia que vive no rio Amazonas, possui pele morena, cabelos longos e negros com olhos castanhos. A lenda conta que Iara era uma índia guerreira, melhor de sua tribo, e muito elogiada pelo pai que era pajé. Os irmãos de Iara tinham muita inveja dela e resolveram matá-la à noite enquanto dormia. Iara que possuía ouvidos muito aguçados percebeu e os matou. Entretanto, com medo da reação de seu pai, a índia fugiu. Seu pai realizou uma busca implacável e conseguiu encontrá-la. Como forma de punição pelas mortes a jogou no encontro dos rios Negro e Solimões. Alguns peixes levaram a moça até a superfície e a transformaram em uma linda sereia.
Entre os maranhenses eternizados nos bustos da Pantheon destacam-se, José Tribuzi Pinheiro Gomes (Bandeira Tribuzi), nascido no dia 2 de fevereiro de 1927, em São Luís. Dono de espírito irrequieto, o poeta caminhou com desenvoltura pelo jornalismo, economia, política e música.O codinome Bandeira foi incorporado devido à predileção do jornalista pela obra de Manuel Bandeira, a quem admirava.Em sua biografia, destaca-se a autoria da marcha-rancho Louvação a São Luís, tomada como hino da cidade que tanto cantou.
Maria Firmina dos Reis é uma das maiores personalidades negras do Maranhão. Ela também é considerada a primeira romancista brasileira. Nasceu em São Luís, no dia 11 de outubro de 1825. Filha bastarda de João Pedro Esteves e Leonor Felipe dos Reis. Em 1847, aos 22 anos, ela foi aprovada em um concurso público para a Cadeira de Instrução Primária, sendo assim a primeira professora concursada do Estado. O romance “Úrsula” consagrou Maria Firmina como escritora e também foi o primeiro romance da literatura afro-brasileira, entendida esta como produção de autoria afrodescendente. Em 1887, no auge da campanha abolicionista, a escritora publica o livro “A Escrava”, reforçando sua postura antiescravista.
Artur Azevedo (Artur Nabantino Gonçalves de Azevedo), foi jornalista e teatrólogo, nasceu em São Luís, em 7 de julho de 1855. Concebeu ao lado do irmão Aluísio Azevedo, no grupo fundador da Academia Brasileira de Letras. É considerado um dos maiores contistas e teatrólogos brasileiros. Fundou publicações literárias, como ‘A Gazetinha’, ‘Vida Moderna’ e ‘O Álbum’. Colaborou em ‘A Estação’, ao lado de Machado de Assis, e no jornal Novidades, onde seus companheiros eram Alcindo Guanabara, Moreira Sampaio, Olavo Bilac e Coelho Neto.
Todos as outras obras representam a memória e saudosismo de personalidades maranhenses que um dia ilustrarão o trajeto das milhares de pessoas que cruzam a praça em direção ao centro comercial da capital.

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