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Novela Maria do Bairro estreava há 20 anos no Brasil

Exibido pelo SBT, o dramalhão mexicano estrelado por Thalía foi exportado para 182 países

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O ano é 1997. Esqueça, portanto, a internet banda larga e as redes sociais. Naqueles tempos, o sucesso do músico ainda se media pela venda de discos. E concorrente de programa de TV era outro programa de TV. Nada de YouTube, Facebook e streaming. A grande estrela do horário nobre era o Jornal Nacional, com média de 42 pontos de audiência, 10 a menos do que o Ibope registra hoje.

Os “rivais” que roubavam parte do brilho de Lillian Witte Fibe e William Bonner – apresentadores do JN no fim da década de 1990 – não narravam notícias. Eram Luiz Fernando e Maria, o casal protagonista da novela Maria do Bairro, cuja estreia no país completa 20 anos. Transmitido pelo SBT, o folhetim chegou a alcançar expressivos 23 pontos de audiência, entre outras cifras impressionantes.

Estamos falando, para começar, da novela mais exportada do mundo nas últimas duas décadas. Vendida para 182 países nos cinco continentes, a história da catadora de lixo que se apaixona pelo galã de família rica agradou de gregos a lituanos. Com isso, fez tramas brasileiras da TV Globo mundialmente bem-sucedidas comerem poeira. É o caso de Avenida Brasil (2012), exibida em 150 países, e de Escrava Isaura (1979), em 80.

Maria do Bairro é também o folhetim mais reprisado no Brasil. Foram seis repetições exibidas pelo SBT. A primeira, em dezembro de 1997, apenas nove meses depois da estreia. As outras ocorreram em 2004, 2007, 2012, 2013 e 2015. Todas com bom público. A última reapresentação chegou a alcançar nove pontos de audiência na Grande São Paulo, segundo dados da Kantar Ibope Media. Números considerados altos para o padrão da emissora no horário das 14h, reservado aos folhetins mexicanos.

Quem se aventura a converter as estatísticas em rostos reais encontra um público peculiar, de pelo menos 2 gerações. Gente que viveu com o dramalhão latino uma espécie de paixão de adolescência, por exemplo. É o caso do diretor financeiro Antônio Fonseca que, em 1997, tinha 15 anos. Fã de Thalía, a atriz que interpretou Maria Hernández Lorráz, a Maria do Bairro, ele não só acompanhou os 185 capítulos do melodrama, como fazia pequenas performances no pátio do colégio onde estudava, dançando a música de abertura do folhetim.

“Tinha até um tabladinho aberto, onde subia para cantar e dançar na hora do recreio. Sabia toda a coreografia e os colegas me assistiam. Era muito divertido. Na época, era vidrado na Thalía. Acompanhava as entrevistas, as idas dela ao programa do Gugu. Inclusive, ela me inspirou a emagrecer. Era gordo e comecei a observar como o pessoal do showbiz era magro. Entrei no Vigilantes do Peso, emagreci e mudei meu estilo de vida”, conta ele.

Izabella Dutra não tinha idade para acompanhar a novela nos anos 1990, mas foi conquistada durante a primeira reprise, em 2004. “Saía pra faculdade às 17h30, quando a novela ainda não tinha acabado. Atrasava-me todos os dias, ia pegar a minha van correndo só para ver o capítulo todo. Sou encantada com a beleza da Thalía, amava aquela dublagem. Lembro-me com clareza da Soraya e da loucura dela. Era um enredo cheio de brigas, com muita gritaria. Acompanhei também em 2015, quando foi exibida pela última vez. O ruim é que a novela foi muito cortada, a história ficou toda picotada”, lamenta. “A vantagem é que, desta vez, muito mais gente assistia e eu podia comentar o drama. Em 2004, todo mundo da minha idade achava aquilo breguíssimo”, diverte-se.

O sucesso da novela Maria do Bairro é como a quantidade reviravoltas, bofetadas e choros que a trama contém: difícil conectar, compreender ou explicar. Mas estudiosos das novelas mexicanas arriscam uma análise mais aprofundada. Para a dramaturga Dani Veiga, parte da popularidade se deve ao fato de que o México leva seus folhetins ao clichê extremo, o que remete a sentimentos universais. “Aqui no Brasil, as novelas são mais adaptadas à contemporaneidade, incorporam elementos da nossa cultura, o que as torna um pouco mais regionais. Já as narrativas mexicanas retratam, de maneira estereotipada, a luta do bem contra o mal, do mocinho contra o vilão. Muita gente do mundo todo compartilha esse repertório”, explica.

Dani Veiga cita um estudo da psicanalista Maria Rita Kehl no livro Ressentimento (Editora Casa do Psicólogo). Para a autora, a fórmula mexicana funciona bem em países com histórico muito marcado por guerras, escravidão, mazelas e algozes. “Inconscientemente, o público, de certa maneira, identifica-se com a mocinha ou o mocinho que sofrem, espezinhados pelo vilão. E se redime com a vitória do bonzinho sobre o malvado. Os vilões costumam fazer sucesso nesse contexto porque, apesar de se identificarem com a vítima, no fundo, o desejo das pessoas é o lugar de quem está por cima. O espectador sabe que está mais para Maria do Bairro, mas gostaria mesmo é de ser a Soraya Montenegro – rica, poderosa e sexy desde sempre”, brinca.

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