Dia Mundial do Teatro

Dia Mundial do Teatro: Depois que a cortina abre, a vida vira arte

Conversamos produtores culturais sobre como é a vida de quem se sustenta desse tipo de arte no Maranhão

 

Pode ser interpretando Hamlet, contando piadas ou representando textos densos e poéticos. O teatro, em suas mais variadas formas de se apresentar, sempre é uma experiência marcante, humana e reveladora. Hoje, dia 27 de março é Dia Mundial do Teatro, e conversamos com dois personagens que bem conhecem como funciona a dinâmica dos palcos e de como é viver de arte no Maranhão.

Além de ator, diretor, roteirista e professor de teatro, o maranhense Marcos Dominici é professor de artes em várias escolas de São Luís. Conhecido e adorado por centenas – milhares, quem sabe – de jovens estudantes, Dominici enxerga nessa função uma oportunidade de fazer os alunos terem um contato direto com o teatro e de estimular essa nova geração a valorizar a magia dos palcos.

Marcos Dominici em um projeto teatral com turmas do Corpo de Bombeiros (Foto: Arquivo Pessoal)

“Atualmente, trabalho mais do que nunca com o ensino do teatro em sala de aula. Com certeza, a base para a modificação dos valores, inclusive com relação a arte, é a educação. Por isso, sempre que posso, fomento a ideia da arte, em particular o teatro, que é minha paixão e especialização”, conta. “A partir do momento que os alunos se sentem impelidos a pensar, criticar, a vivenciar a arte e ter a noção que ela faz parte do dia a dia, isso ajuda tanto na formação de plateia quanto na de produtores de arte”, completa.

E essa paixão, sem dúvidas, é a justificativa mais utilizada para qualquer um que tenha sido mordida pelo ‘bichinho’ do teatro. “Desde pequeno que eu brinco de imitar as pessoas, de ter vários nomes, de ser várias pessoas. Quando fui crescendo, fui percebendo que a única forma que eu teria de ser várias pessoas, ter várias profissões, seria através do teatro”, disse o ator Zanto Holanda, que é maranhense, ator profissional e também trabalha dando aulas de teatro.

“O teatro é a minha principal renda. Trabalho não só com espetáculos, mas com oficinas e dando aulas”, conta. “E, sim, é possível trabalhar e se sustentar apenas com teatro aqui no Maranhão, mas você tem que ter noção que você vai ter que abrir mão do seu público para se envolver com outros gêneros de teatro, como o teatro empresarial, com públicos mais específicos”, completou.

Zanto Holanda em cena (Foto: Arquivo Pessoal)

Por causa da falta de estrutura e apoio no mercado maranhense, segundo Zanto e Dominici, muita gente tenta carreira fora do Maranhão. “Aqui em São Luís, acredito que o público tem sido mais presente. Tem se percebido um crescimento por parte das produções independentes. O que não tem se percebido são políticas públicas que fortaleçam o teatro como manifestação artística. O problema aqui não é produz ou o próprio público, o público vai ao teatro, mas para o artista produzir ele precisa de incentivo”, explica Dominici.

“Quem sai do Maranhão para buscar carreira fora, vai, justamente, em busca de um leque maior de informação, de possibilidades, de conhecimento. O que acaba travando a carreira dos atores maranhenses, além do mercado fechado, é a falta de conhecimento. Infelizmente, o ensino do teatro no Maranhão não é um ensino que esteja crescendo. Continuamos com um ensino tradicionalistas de como é o teatro e de como se ensina teatro”, completa Zanto.

Neste dia 27 de março, no Brasil e em todo o mundo, comemora-se o Dia Mundial do Teatro. Espetáculos teatrais, encontros e eventos celebram essa arte, ressaltando seu significado e sua importância. E sobre esse dia, o desejo de valorização e reconhecimento são os mais fortes em quem vive dessa arte todos os dias.

“Meu recado é: abram seus corações e consumam o teatro. Vocês vão ter surpresas maravilhosas e a experiência de você poder assistir a um espetáculo é enriquecedora. A experiência de fazer teatro é viciante. Não existe relação melhor do que a da plateia com o ator, e quando uma plateia se levanta para aplaudir o seu trabalho, nossa, é para você ver que o seu trabalho vale a pena e que desistir não é o caminho”, afirma Dominici, deixando a lição de que depois que a cortina abre, a vida vira arte e ter uma plateia boa para aplaudir é o melhor incentivo.

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