Pré-estreia nacional de Lamparina da Aurora na mostra Tiradentes
Filme do maranhense Frederico Machado, terá pré-estreia nacional no festival que acontece em Minas Gerais. O longa é uma fábula sobre o tempo e a solidão, e tem narração do poeta maranhense Nauro Machado
Um casal de idosos vive em uma fazenda abandonada. O tempo os acompanha, fazendo recordar seu passado. Mas terão uma última lição: não restará nem memória daquilo que esse mesmo tempo grava. Esse é o mote do longa Lamparina da Aurora (Dead Leaves), dirigido pelo cineasta Frederico da Cruz Machado, que estreia nacionalmente hoje, na Mostra de Cinema de Tiradentes (Minas Gerais), no Cine Tenda.
O evento abre o calendário audiovisual brasileiro na cidade histórica mineira com homenagens a Helena Ignez e Leandra Leal, exibição de 108 filmes em pré-estreia, debates, atividades culturais, shows e público estimado de 35 mil pessoas até o dia 28 de janeiro.
A Mostra, que este ano completa duas décadas, tem programação totalmente gratuita e acontece em três espaços da cidade: no Largo das Fôrras, com o Cine BNDES na Praça, montado especialmente para o evento; no Largo da Rodoviária, com o Cine-Tenda e o Sesc Cine Lounge; e no Sesi Centro Cultural Yves Alves, que funciona como sede para os convidados e apresentação de filmes e debate, no Cine-Teatro Sesi.
O longa Lamparina da Aurora (Lume Filmes) é uma fábula sobre o tempo, limbo e a solidão, e tem narração do poeta maranhense Nauro Machado, pai de Frederico. “O filme marca mais um passo na minha tentativa de fazer um cinema pessoal, um cinema autoral. Ter uma obra única em torno de minhas angústias, de minhas pesquisas, de minha existência. E quanto mais pessoas sejam tocadas e sensibilizadas com minhas obras, mais pertencente ao mundo me coloco. E existo”, pontua Frederico.
Com um elenco composto por apenas três pessoas, Buda Lira, Antonio Saboia e Vera Leite, e uma equipe enxuta, o filme é terceiro da carreira de Frederico. “Terceiro sem verba nenhuma de nenhum edital. Nenhum patrocinador, nenhum apoiador. Apenas o esforço abissal de todos os envolvidos, que acreditaram no meu trabalho”, diz Frederico.
Adolfo Gomes, crítico de cinema, escreveu que a possibilidade do milagre parece estar sempre à espreita no filme. “Tal como num filme de Dreyer, os olhares, os sons, a natureza fazem vir à superfície um mundo interior. A mão se apossa do movimento. Julgamos ser uma possessão, mas, na verdade, é tão somente o gesto íntimo que o cinema torna visível”.
Para Marcos Fialho, também crítico de cinema, Lamparina da Aurora é uma obra altamente sensorial, característica bem presente e marcante nos filmes de Frederico Machado. “Enquanto assistimos ao filme, nunca sabemos em que terreno estamos pisando, o onírico se impõe pungentemente. Somos colocados na mesma perspectiva de transe dos personagens, suas fraturas e culpas passam a nos habitar durante a projeção e tudo parece ser muito fluido e incerto, pois somos arremessados em um turbilhão de incertezas. O mais instigante em Lamparina da Aurora é esse aspecto tão cinematográfico, o de optar por assumir que cinema é sonho, poesia, imaginação, e principalmente, ontologia”.
DISCUSSÃO
Além da seleção do filme na Mostra Competitiva Olhos Livres, o cineasta Frederico também vai participar do debate Cinema em Reação, Cinema em Reivenção: Circulação e Visibilidade ao lado de André Gatti (SP), Cavi Borges (|RJ), Eduardo Valente (RJ), Talita Arruda (SP) e tendo como mediador Pedro Butcher (crítico de cinema RJ).
A mesa propõe discutir as dificuldades, alternativas, circulação e visibilidade de filmes realizados em diferentes unidades federativas, quase sempre autorais e independentes, de cineastas em início de carreira em longa-metragem.
MOSTRA
A temática deste ano, “Cinema em reação, cinema em reinvenção”, permeia toda a programação e levanta o seguinte questionamento: na segunda década do século 21, como pode o cinema confrontar as questões contemporâneas da política, economia e sociedade valorizando a estética e a invenção, sem que os filmes se tornem meras reportagens em tela grande?
Na grade de longas-metragens, com curadoria de Cleber Eduardo, os filmes poderão ser vistos em nove mostras temáticas (Aurora, Homenagem, Olhos Livres, Cinema em Reação, Horizonte, Praça, Bendita, Sessão-Debate e Mostrinha). Há títulos de 10 estados brasileiros: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Ceará, Pernambuco, Paraná, Maranhão, Espírito Santo, Distrito Federal e Goiás. O encerramento da Mostra, no dia 28, exibirá o premiado A cidade onde envelheço, de Marília Rocha.