ARTIGO//OPINIÃO

“Roda de Fogo”, artigo do empresário Carlos Gaspar

artigo publicado na edição deste domingo em O Imparcial, sobre o desempenho do presidente Michel Temer no programa Roda Viva.

Quem assistiu a entrevista do Presidente da República, Michel Temer, concedida ao programa Roda Viva, da TV Cultura, ocorrida no dia 14 último, deve ter concluído que temos à frente do nosso país um homem dotado de extrema habilidade, no trato com as pessoas, na expressão de ideias e no relato de fatos e episódios de sua vida pública e pessoal. De modo impecável, ou quase, respondeu com tranquilidade, maestria e polimento todas as indagações que lhe foram feitas.
Os jornalistas que compunham a equipe de entrevistadores podem ser considerados como de excelente nível profissional e, em face da simplicidade do Presidente, dirigiram-lhe as perguntas que desejaram, por mais embaraçosas que pudessem ser as respostas do entrevistado. Pode-se dizer, sem medo de cometer equívocos, que o Brasil foi passado a limpo, tanto como instituição quanto no que respeita a pessoas que ocupam cargos institucionais.
Michel Temer foi questionado sobre recebimento de dinheiro de empreiteiras, atuação da Lava Jato, comportamento do Judiciário e também sua relação com o Legislativo. Em todos esses quesitos obteve nota dez, mostrou-se irreparável, sem fugir de cada tema. Não há como pensar em protecionismo da imprensa, a fim de que ele em tudo transitasse com facilidade, aplicando seu linguajar correto e elegante, assim procedendo no curso dos quatro blocos da entrevista.
Sem grandes surpresas veio à tona o credo parlamentarista do Presidente. Até mesmo porque tem ele agido, junto ao Legislativo, como se já estivesse na prática do regime político em questão. Projeto, diálogo e habilidade, são armas que exibe no seu dia-a-dia de Chefe do Executivo. Tanto que, no correr de pouco tempo de seu governo, tem obtido sucessivos êxitos junto aos parlamentares, da Câmara e do Senado, quanto à aprovação de projetos necessários à retomada do funcionamento pleno do país.
A despeito de todas as qualidades que possui para ocupar a direção do Brasil neste momento de grandes dificuldades, inclusive institucionais, do seu talento e de sua inteligência no lidar com a realidade atual, há de se convir que, nessa entrevista concedida ao programa Roda Viva, Michel Temer claudicou. Deu-se em uma de suas respostas, contrariando o bom senso, a lógica e a clareza, e até colocou em discordância talvez a maior parte da sociedade brasileira.
O fato versou sobre uma provável prisão de Lula. Esse caso veio à tona por intermédio de um dos jornalistas presentes, Ricardo Noblat. Desejava este saber do entrevistado se, vindo a se registrar essa ocorrência, poderia ela produzir instabilidade política ao país. Os demais entrevistadores, como Wiliam Correia, Eliane Cantanhede, Augusto Nunes, João Caminoto e Sérgio Dávila, postaram-se bastante atentos, aguardando a explicação sensata do Presidente.
Salvo melhor avaliação, Michel Temer, contrariando o equilíbrio e a sensatez demonstrados no curso da longa entrevista, embora sem afirmar categoricamente, admitiu a possibilidade aventada por Ricardo Noblat. Deu a justificativa e a explicação que julgou plausíveis. Entretanto, desta vez não convenceu. E tanto é verdade que tem sido este talvez o único ponto em que vários jornalistas se detiveram em análise crítica.
Fica difícil fazer um julgamento do Presidente, neste caso em particular. Bastante inteligente e sagaz, em princípio pareceu até que sua resposta, de conteúdo nada esperado, poderia ter endereço certo. O PT, com o objetivo de fazer mesuras aos seus deputados e senadores? Certamente não. Eis como ele se expressou: “Se você me perguntar se Lula for preso, isso causa um problema para o governo? Eu acho que causa. Não para o governo, mas para o país. Porque haverá, evidentemente, movimentos sociais. Toda vez que você tem um movimento social de contestação, especialmente de uma decisão do Judiciário, isso pode provocar instabilidade”.
Ora, o pecado do Presidente se revelou aqui, no exagero da resposta. Todos sabem que Lula perdeu a última eleição em todos os municípios do Nordeste que visitou pessoalmente; que o PT retrocedeu ao nível abaixo do que era, antes de galgar o Poder; que Lula é réu, acusado de corrupção, em vários processos que tramitam no Judiciário; que os institutos de pesquisa dão nota baixíssima, das mais baixas de que se tem notícia, à aceitação de Lula como político sério; E, assim, sucessivamente, mais exemplos poderiam ser citados, que revelam o desprestígio nacional do ex-presidente da república.
Mesmo excluídas essas razões, ainda que não fossem elas verdadeiras, de sua parte, o presidente Michel Temer jamais poderia admitir, publicamente, a possibilidade de uma instabilidade política, sob qualquer pretexto. É dever de ofício, é obrigação de quem ocupa o cargo máximo da organização política do País transmitir calma e paz à população.
De qualquer maneira, esse escorregão do Presidente não invalida a quase perfeita entrevista concedida à TV Cultura, naquela roda de fogo. Mas este reparo que acabou de ser feito, jamais poderia escapar de quem acompanha, com grande esperança, o governo constitucional vigente, na pessoa de Michel Temer, convencido de que ele saberá colocar o Brasil nos trilhos.
 
*Carlos Gaspar é empresário
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