ARTIGO//OPINIÃO
“Responsabilidade, sim; velocidade, nem sempre”
Artigo do jornalista Pedro Henrique Freire publicado na edição deste domingo em O Imparcial.
A pressa é inimiga da perfeição. Disso, estamos carecas de saber. Tudo fica melhor quando regido com uma boa dose de parcimônia. “Não se afobe, não… que nada é pra já”, dizia Chico, o Buarque. Na vida, no trabalho ou em qualquer situação, vale sempre o conselho da linha do trem: pare, olhe, siga. Ou pare, pense, faça.
No jornalismo não é diferente. Velocidade e notícia responsável nem sempre combinam. Nos tempos de hoje, com um celular na mão, todo mundo é veículo de comunicação. Portanto, mais vale a responsabilidade à velocidade. Afinal, o desafio não é mais só saber do fato. É identificar o que é real sobre ele em meio a um aterro de informações nem um pouco sólidas. Jornalismo se tornou, entre outras missões, a arte de filtrar boatos.
Assim como velocidade e responsabilidade não combinam, nem sempre audiência namora a credibilidade. Quem busca audiência a todo custo é naturalmente muito veloz, pouco responsável e tem baixa credibilidade. Conhecemos muitos assim Brasil afora.
A morte trágica e triste da publicitária Mariana Costa é um bom e recente exemplo de excesso de velocidade e pouca responsabilidade no trato da informação. Na ansiedade de noticiar, a mídia reproduziu boatos. Resultado: São Luís dormiu com um suspeito do crime e acordou com outro.
A falta de “parcimônia” comprometeu, mesmo que por algumas horas, a imagem de quem, na verdade, foi mais uma vítima: o marido de Mariana, pai das suas filhas, que chegou, inclusive, a ser apontado como autor do crime por algumas publicações.
Pura injustiça
Porém, providencial ponto de partida para uma avaliação que os meios de comunicação devem se submeter: é possível ser veloz e responsável ao mesmo tempo? O que vale mais: a credibilidade conquistada passo a passo ou todos os cliques do mundo num só dia? O afobado aje duas vezes antes de pensar. E brinca com fogo, dizia Chico, o Buarque. Portanto, não se afobe, que nada é pra já. O bom jornalismo não se faz com pressa. Ele pode esperar, em silêncio, mesmo que por uns instantes a mais.
*Pedro Henrique Freire é jornalista.
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