MÚSICA

Após período sem canções inéditas, Nando Reis lança novo disco

O material é o primeiro com inéditas após quatro anos

Ao longo da carreira, Nando Reis teve composições gravadas por grandes nomes da música brasileira, como Cássia Eller, Elza Soares, Marisa Monte e o grupo Skank. O músico se firmou entre os maiores compositores do país e, por isso, há anos figura na lista dos maiores arrecadadores de direitos autorais ao lado de Djavan e Sorocaba, da dupla Fernando & Sorocaba, segundo o Ecad – Escritório Central de Arrecadação e Distribuição.
A principal característica das canções de Nando Reis é ter o amor como temática. “Acho fundamental esse amor próprio, pela vida e, nada mais natural, do que o amor do afeto pelas pessoas, especialmente eu, que sou casado. A expressão é vital, senão for amorosa, não tem sentido”, revela em entrevista ao Correio. O tema também está, claro, no novo disco de Nando Reis, o álbum Jardim – pomar.
O material é o primeiro com inéditas após quatro anos. Ao todo, são 13 faixas, sendo uma regravação Concórdia (que foi gravada anos atrás por Elza Soares), 11 composições de Nando Reis e uma em parceria com Samuel Rosa, a música Como somos. Gravado de forma independente pela empresa de Nando, Relicário Produções, o material se tornou CD, LP, fita K7 e também estará disponível nas plataformas digitais. “As pessoas perderam essa necessidade do álbum e do disco. Acho um tremendo empobrecimento. Faço disco, não porque sou nostálgico. Sou um artista. Não um balcão de negócios”, analisa. Ao Correio, Nando Reis fala sobre composições, o novo álbum e atual momento da indústria fonográfica e do rock nacional.
Jardim – pomar é um seu primeiro álbum de inéditas após quatro anos. Como foi o processo de composição desse disco?
Nando Reis – É um material que compus basicamente nesse período. Exceto Concórdia, que é uma música antiga que eu nunca havia gravado, mas Elza Soares sim. O resto é tudo de três anos para cá. Minha primeira concepção era agrupar as músicas que expressassem meu desejo naquele momento. Não é um álbum temático ou conceitual. Os critérios das opções tiveram a ver com o que eu acho melhor e que, conjuntamente, expressassem um painel rico de relação interna que expande a individualidade da música e o que está na minha cabeça. É tudo isso ao mesmo tempo.
Nesse disco, você fez duas músicas para a sua mulher…
Eu diria que tem mais. Com certeza, tem algumas que vem logo na cabeça, como 4 de março, Só posso dizer e Pra musa. Mas, na verdade, são muitas. Mesmo que não tenham uma relação ou sejam especificamente para ela, a maioria das músicas tem como essência uma relação amorosa, inclusive, com o próprio trabalho. A matriz dessa compreensão do amor está relacionado, claro, a ela (a esposa).
Suas músicas têm como principal característica o amor e hoje temos visto essa temática mudar nas canções. Por que apostar no amor?
A própria relação de expressão parte daquilo que é encontrar a forma de me entender e dar um sentido a minha vida, como trabalho e com tudo que tenho no mundo. Acho que é fundamental esse amor próprio, pela vida, e, nada mais natural, do que o amor do afeto pelas pessoas, especialmente eu, que sou casado. O que eu digo de amor não é necessariamente relação amorosa, porque é redundante falar de amor e a música tem muito mais do que só a expressão direta. Ela é cheia de significados implícitos, que tratam da relação do que é a vida. A expressão é vital, senão for amorosa, não tem sentido.
Você faz composição para muitos artistas. Existe diferença na hora de compor para outros cantores em relação para você mesmo?
Basicamente, eu componho para mim, mesmo quando faço algo sob encomenda, que, para mim, não é demérito nenhum, porque eu faço o que quiser. Nas composições gosto de atender minhas exigências, que são várias, porque é meu trabalho profissional. É algo que me proponho a fazer. Não é só quando quero. Atende demanda e necessidades. Por isso, uma das necessidades é que expresse aquilo que seja respeitável e original.
Como surgiu o nome de seu novo álbum, Jardim – pomar?
Foi extraído de um verso da música Concórdia. Decidi destacar por uma coincidência. Ano passado, eu li muito Murilo Mendes, que em A idade do serrote, usa essa expressão em muitos textos. É uma memória da infância, da continuidade de jardim e pomar. Jardim está associado com a flor e o pomar com a fruta. São coisas emblemáticas na própria vida e que nos revela, como produção e crescimento. Eu diria que se não fosse músico, seria um conservacionista, um amante da natureza.
O CD tem um encarte diferenciado, com desenhos, material reciclado… Essa é uma forma de fazer as pessoas quererem a versão física?
Todos são em cima do mesmo projeto gráfico, com dimensões próprias de cada produto, claro. Por ter 53 anos toda a minha formação e parte da minha vida profissional na música vem do formato do vinil. Eu sempre fiz isso. Acho que grande parte da qualidade está na riqueza do produto. Não é só uma relação musical, mas visual. É a ampliação do trabalho do artista. Mesmo que não seja eu que faça o desenho da capa, está associado. Não é só auditivo, é tátil, olfativo. Faz parte da complexidade do trabalho que me disponho e pretendo fazer. Na minha própria história, antes da carreira solo, ainda no Titãs sempre tivemos grande cuidado e amor pela parte gráfica dos álbuns. Os discos dos Titãs têm capas extraordinárias. Cabeça dinossauro é uma das mais famosas. Isso também aconteceu em todos os meus discos solos. Dessa vez, convidei a artista plástica Vânia Mignone (para fazer as ilustrações). Hoje, há uma tendência de mediocrização, um empobrecimento. É uma parte que eu acho ruim da música digital. Ela tende a ser replicada, algo que não condiz com a forma de se apreciar um trabalho musical, que é a ansiedade, a pressa. Se tornou em algo individuou e fracionou o álbum. Você simplesmente num toque acessa imediatamente aquilo que quer ouvir. Qualquer obra de arte, seja um livro ou uma música, exige tempo e envolvimento. As pessoas perderam essa necessidade do álbum e do disco. Acho um tremendo empobrecimento. Faço disco, não porque sou nostálgico. Sou um artista. Não um balcão de negócios
No disco, a faixa Azul de presunto tem um supertime formado por seus filhos Theo Reis, Zoe Reis e Sebastião Reis, os ex-companheiros de banda Arnaldo Antunes, Branco Mello, Sérgio Britto e Paulo Miklos, e as cantoras Tulipa Ruiz, Pitty e Luiza Possi. Por que chamar tanta gente?
O assunto da música é basicamente alegria, uma metáfora inusitada da relação entre povo, porco e presunto. Significa em uma última análise a diversidade de pensamentos e de ponto de vista. Então, nada mais adequado para ampliar esse sentido que fazer muitas pessoas cantarem esses versos. Juntei meus amigos de Titãs, meus filhos e cantoras que eu admiro.
Falando nos seus filhos, eles estão com um grupo, a Banda 2 Reis. Como tem sido vê-los seguindo seus passos na música?
Eles estão com uma tremenda banda e gravando CD. Toquei com eles recentemente. Nada mais emocionante e importante para um pai do que ver seus filhos trilharem seus caminhos. O fato de seguirem uma carreira como a minha me aproxima. Tenho curiosidade de ver como eles se expressam, de dividir e assistir a alegria deles. Tenho bastante noção que a experiência é intransferível, que o fato de serem meus filhos mais atrapalham, porque as pessoas tendem a comparar.
Como você vê o cenário do rock nacional hoje?
A música brasileira é magnífica, maravilhosa. Ela sempre expressa essa diversidade que é a nossa sociedade, a nossa nação. Às vezes, ela se segmenta e se relaciona de alguns regionalismos. Eu gosto da pluralidade. Não tenho preconceitos. As pessoas tentam saber se me ressinto do rock não ter a relevância ou expressividade dos anos 1980, não é por aí. Acho que música tem que se comunicar com os indivíduos. Eu respeito muito isso. Já meu gosto pessoal, reservo meu direito de mantê-lo particular.
 
SERVIÇO
Jardim – pomar
De Nando Reis – Relicário Produções, 13 faixas
Preço médio: R$ 24,90 (CD) e R$ 95,90 (LP)
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