LIVRO
A reinvenção do auto do bumba meu boi
O livro infantil Bumba, nosso boi, primeira obra literária do maranhense Diego Freire, será lançado hoje em São Luís
Os feitiços dos índios trouxeram o boizinho preferido de volta à vida depois que Catirina teve um daqueles desejos de grávida e fez seu marido, Francisco, matar o bicho só para que ela comesse sua língua. Da confusão nasceu o auto do bumba meu boi e uma das mais tradicionais festas do folclore brasileiro, celebrada em todas as regiões do país; mas também uma pulga atrás da orelha de um pequeno ludovicense, que, enquanto brincava em meio ao folguedo, perguntava-se como teria ficado o bicho: vivo, mas sem língua.
Algumas décadas depois, o jornalista e escritor estreante Diego Freire, nascido em São Luís e radicado há 10 anos em São Paulo, conta a história que inventara para os dias após a festa em comemoração à volta do boizinho preferido, quando o novilho passa a enfrentar a discriminação dos outros bichos da fazenda por “falar” com dificuldade. Imagine o problema: nem mugir como os outros bois ele conseguia. “O gato mia, o pinto pia, o cachorro late… Um boi sem mugido é um boi sem identidade”, lamenta Bumba nos versos de Freire e nas aquarelas do ilustrador Rogério Maroja.
O livro conta como o boizinho sem língua encontrou amparo em outras criaturas muito especiais: o Saci, que não tem uma perna, mas dá rasteira em qualquer dificuldade; a Mula sem Cabeça, que não tem – adivinhe – cabeça; e o Boitatá, que, bem, nem boi é. Juntos, os queridos personagens do nosso folclore dão uma lição aos bichos e à gente sobre como tratar as diferenças. E Bumba, que perdeu a língua, com sua fábula de superação ganhou um lugar especial na cultura popular brasileira.
Homenagens
A versão musical do livro que será apresentada no lançamento conta com a toada Urrou do Boi como uma das músicas incidentais. Uma lei estadual (5.299, de 12 de dezembro de 1991) determina que a toada, composta por Coxinho e considerada Hino Cultural e Folclórico do Maranhão, seja executada em todo evento cultural e artístico em território maranhense; mas os músicos do conservatório não sabiam disso quando a escolheram. “Rafa e Estela se juntaram a nós de forma voluntária assim que conheceram o livro e tiveram toda a liberdade para fazer sua versão. Foi uma emoção ser surpreendido, logo no primeiro ensaio, pela toada de Coxinho, que marcou minha infância e a de tantos maranhenses. Espero que nossa história possa contribuir, de alguma forma, para outras crianças”, conta o autor.
O lançamento também presta homenagem a outra importante personalidade da cultura popular: o cantor, compositor e percussionista Papete, morto no último mês de maio. O livro é dedicado à afilhada do autor e ao artista: “A Eduarda dedico essa história e também a Papete quem primeiro me disse, ainda na escola, que boi não fala, mas fica triste e chora”. O lançamento de Bumba, nosso boi na capital maranhense tem o apoio do São Luís Shopping, que preparou um espaço exclusivo para o evento, além do restaurante de culinária mexicana Soft Tacos e da empresa de comunicação visual Ideia Criativa. Parte da renda arrecadada com as vendas do livro será destinada a eventos de contação da história em escolas, centros de cultura, hospitais e diversos outros espaços.
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