Conheça as crianças que desde cedo guardam o carinho pelo São João e desfilam com os bois de matraca durante a festa de São Marçal
Por: Tayna Abreu
Das quase 40 mil pessoas que passaram na Avenida de São Marçal, embaladas pelos mais de 20 grupos de bumba meu boi de sotaque de matraca, uma pequena parte foi acompanhada de crianças que participam da festa por amor à tradição do bumba meu boi. São elas que acompanham os pais, mães e avôs, dançando e cantando em toda a extensão do festejo que encerra o São João no Maranhão. O pequeno Andrey Levi, de 1 ano e 10 meses, está pela primeira vez no festejo junino; sua irmã de 15 dias, Lara Sofia, será, segundo o pai Martinho Alves, a próxima da família a entrar para o batalhão. “Estou há dez anos no Boi da Maioba, e quero passar isso para os meus filhos.
Ano que vem ela já estará aqui”, conta o pai. Martinho diz ainda que o primogênito já leva jeito para seguir seus passos. “Sou percussionista e quando ele sobe no palco toca todo tipo de percussão comigo. Quando crescer vai ser maiobeiro, como eu”.
Um pouco maiorzinho, Gabriel Vitor, de dois anos, estava no colo do avô Raimundo Alves, enquanto a mãe atenta tirava fotos. Três gerações dedicadas ao Boi de Matinha. “Quando o Gabriel crescer, vai continuar vindo para São Marçal, esse já é o segundo ano dele. Eu cresci no boi, e meu neto no próximo ano já terá uma roupinha com penas”, contou o avô orgulho enquanto o pequeno sorria.
Crianças maiores acompanham como gente grande, e já tem suas responsabilidades com a festa. “Vou a todos os ensaios”, diz Antony Ferreira, de 9 anos.
Acompanhado pelo pai, ele disse que já faz anos que está no Boi da Maioba. Antony aponta os caboclos de pena como seus personagens favoritos do folguedo. “Meu pai não brinca no boi, mas me acompanha, porque eu pedi para vir. Queria brincar de boi desde bem pequeno”, relatou.
Amor pelos festejos juninos desde pequeno (foto: Paulo Malheiros/O Imparcial)
Futuro miolo de boi? (foto: Ítalo Lima/O Imparcial)
Índias mirins (foto: Ítalo Lima/O Imparcial)
Pequeno boieiro (foto: Ítalo Lima/O Imparcial)
Caboclo de pena mirim (foto: Ítalo Lima/O Imparcial)
Caboclo de pena mirim (foto: Ítalo Lima/O Imparcial)
Boieiro mirim (foto: Honório Moreira/O Imparcial)
Crianças do Bumba-meu-Boi (foto: Honório Moreira/O Imparcial)
Boieiro mirim (foto: Honório Moreira/O Imparcial)
Índias mirins (foto: Honório Moreira/O Imparcial)
Valkiria da Silva Castro acompanha o filho Rodrigo de 9 anos, que há três anos faz parte do Boi de Maracanã. “Eu brinco desde os 12, mas assim sem revelar a minha idade”, contou alegre a mãe. “Pense em uma paixão? É essa: estar no Boi de Maracanã. Grávida, em 2006, eu não deixei de acompanhar. Quando ele completou quatro anos, aflorou em vir sempre. O pai dele participa de outra brincadeira, mas o coração dele está aqui”. Para Rodrigo, estar no Boi de Maracanã é estar onde mais gosta no São João. “Vou em todas as apresentações, não posso perder”, contou.
Em 2016, o festejo de São Marçal completa 89 anos, segundo contagem do Instituto de São Marçal. Milhares de pessoas, entre brincantes e público, acompanha o desfile dos grupos de bumba meu boi de sotaque de matraca em toda a extensão da avenida que leva o nome do santo, mas que já se chamou João Pessoa.
Quem foi São Marçal?
São Marçal, Marçal de Limoges, Marcial de Limoges (Gália, século III) foi o primeiro bispo de Limoges. É venerado como santo mártir pelas igrejas católica, ortodoxa e anglicana.
Pouco há de histórico sobre sua vida, além de dados essenciais como seu envio de Roma, sua atuação missionária na Aquitânia e seu martírio. Tudo o que se sabe provém dos relatos de Gregório de Tours (538 – 593) e pode ser assim resumido, segundo a Catholic Encyclopedia:
Durante o consulado de Décio e Grato, sete bispos foram enviados de Roma para a Gália para atividades missionárias. Graciano para Tours, Trófimo para Arles, Paulo para Narbona, Saturnino para Toulouse, Denis para Paris, Austremônio para Clermont e Marçal para Limoges. Marçal deve ter sido acompanhado por dois presbíteros enviados do Oriente. Parece que ele mesmo era natural da Gália. Evangelizou a Aquitânia a partir de sua sé episcopal em Limoges.
Foi martirizado no século III, juntamente com São Alpiniano e São Austricliniano, presbíteros de sua diocese. Uma lenda medieval o inclui como um dos companheiros de São Pedro e primeiro evangelizador da Gália Aquitanense. As lendas medievais ornaram a vida do santo com feitos extraordinários. É representado com as vestes episcopais, geralmente casula, capa magna, báculo e mitra. Em representações mais antigas, usa túnica e pálio apostólico. Seus atributos iconográficos são os paramentos episcopais, bastão mágico em forma de mão da justiça, bordão de cruz dupla, em algumas representações um anjo o acompanha.
Origem da festa em São Luís
Pesquisadores apontam que um dos principais responsáveis pelo encontro de bois foi o saudoso José Pacífico de Moraes, mais conhecido como Bicas, nascido em 1901 e falecido em 1972. Tudo começou quando ele, após assistir no bairro Anil diversas apresentações de bumba meu boi, principalmente dos grupos do Sítio do Apicum e de São José dos Índios, ficou bastante empolgado e resolveu contratar as duas brincadeiras para fazerem apresentações no bairro do João Paulo, onde residia.
Em 1929, os grupos, ao se deslocarem para o João Paulo, foram se multiplicando, iniciando a tradição do encontro de São Marçal e, por conseguinte, da própria aceitação da brincadeira de bumba meu boi nos bairros urbanos. Daí em diante, o bairro do João Paulo passou a ser a sede das mais diversas brincadeiras folclóricas, principalmente, na época das festas juninas, tornando-se, naquela oportunidade, o único arraial longe dos terreiros do interior da Ilha e muito próximo do centro de São Luís.