ENTREVISTA

Nathalia Ferro. Sua arte e peculiaridades

A maranhense está vivendo intensamente novas experiências em São Paulo

Com 12 anos de carreira, a cantora e produtora cultural Nathalia Ferro se considera como ela mesma diz: “uma artista em construção e um ser humano em evolução. Sou uma deslumbrada com a vida, o mundo, a natureza e as pessoas, desde sempre”. Focada no trabalho, nas pessoas e nas boas energias ao seu redor, a maranhense acredita em coincidências, e “acho que tudo nesta vida tem um propósito. Amo tudo que conduz o ser humano para uma expansão de entendimento, de contato verdadeiro com as pessoas e de espocamento dessa bolha que hoje a gente entende como ‘realidade'”. Com humildade, ela garante não conhecer quase nada e talvez seja esse o motivo que a leve a tentar e realizar coisas imensas.
Tempo de carreira
Comecei no reggae, com a Filhos de Jah, em 2004. As primeiras composições surgiram em 2008 num encontro criativo com um amigo compositor, que é o Rommel Ribeiro. Uma dessas músicas foi o título do meu primeiro disco, Instante. Engraçado que o último disco de Rommel, que se chama Nada Direito, também leva o nome de uma música nossa. Nesse mesmo ano eu saí da Filhos e parti pra carreira solo, para uma descoberta mais séria da minha responsabilidade enquanto artista. Mas ainda tive uma experiência muito bonita com o Mano Bloco, que fiz com Mano Borges por cinco anos. Os discos vieram em 2013 (Instante), e 2015 (Alice Ainda).
A escolha pela música
Até hoje, penso sobre essas motivações e o que especificamente poderia ter me trazido até aqui. Mas eu acho que foi um conjunto de coincidências, desde aptidões naturais, estímulos do ambiente, experiências de vida e histórias de outras pessoas. Você pensa que faz o caminho, mas é o caminho que vai te trazendo. Hoje tem a ver também com um sentimento humano, uma luta política, amor pelas pessoas e um desejo de evoluir como espírito.
A produção do show Abelha Rainha – A Festa em São Paulo, pelos 70 anos de Maria Bethânia
Nathalia Ferro

Eu produzi essa festa junto de um parceiro daqui de São Paulo, que é artista, DJ, pesquisador musical e produtor, chamado Jonatha Cruz, o DJ Obá (que produz e toca na Obá, uma das festas mais famosas de SP, específica de músicas e ritmos brasileiros de raiz). A gente basicamente juntou a nossa amizade com o encanto e o respeito pela obra de Bethânia, e daí veio a vontade de comemorá-la nesse evento. Para mim, foi importantíssimo fazer esse show, experimentar na minha voz as músicas que passaram pela voz desse orixá encarnado que é Bethânia. E foi um exercício de humildade muito gratificante, eu aprendo muita coisa com esse repertório, com essa base que é a grande canção brasileira cantada por Bethânia. A Abelha Rainha vai ser feita durante todo o ano de seus 70 anos, e eu aproveito o ensejo para juntar muito audaciosamente algumas canções do meu próprio repertório no show de homenagem. Mas longe de mim querer me comparar. Na verdade eu faço isso também porque o repertório dela é uma marimba pesada de segurar, rs. Porque faz parte da minha história, da história da minha mãe, da minha avó, sabe. É muita coisa. Foi que nem eu falei no show: Bethânia é um capítulo longo e belíssimo, que ainda nem terminou de ser escrito na música brasileira. E eu sou ainda uma vírgula.

São Paulo – São Luís
Eu resido em São Paulo, capital. Mas visito sempre São Luís, para ver as pessoas que eu amo. Na verdade estou ambicionando a ponte aérea, porque tenho alguns projetos em desenvolvimento pra apresentar na ilha.
Valorização profissional
Estou totalmente engajada em fazer trocas ricas com outros seres criativos, amorosos e de engajamento equivalente. Eu só quero viver e fazer o meu trabalho, foi pra isso que eu vim. Porque uma hora ele chega onde tem que chegar, e eu nem sei nem onde é esse lugar. Eu não preciso que meu estado me dê valor, eu é que quero dar valor pra ele, e é isso que eu faço todo tempo, em qualquer lugar em que eu esteja, enquanto ser humano ou artista.
Trabalho x Vida pessoal
Não lido muito bem com rotina. Os meus dias são tão longos que tem vezes que eu deito para dormir e parece que se passaram dez dias em 24 horas. Aqui o tempo corre diferente, mas as pessoas também estão abertas para uma conexão num nível que eu ainda não tinha experimentado na vida. Muita gente querendo fazer as coisas, querendo moldar a realidade de uma maneira mais justa, mais bonita, mais honesta. Acaba que, diante disso, o meu trabalho atou um laço com a minha vida pessoal, e dificilmente eu estou na companhia de alguém que não esteja me estimulando a aprender ou desenvolver coisas novas. O que eu vivo é um estado permanente de atenção e troca. A gente precisa ter outra visão do que é o trabalho. A arte não existe para ser feita apenas em momentos roubados e a vida não é uma coisa pra ser vivida só nos finais de semana, ou depois do horário comercial.
O que aprendeu de mais valioso até aqui?
Que as pessoas reagem ao que você transmite a elas, e você precisa estar consciente disso.Que o mesmo chão que te aprisiona faz possível o teu caminho e a tua dança.Que o que você pensa sobre os outros diz mais sobre você do que sobre eles.Que o caminho do amor e do serviço às pessoas é sem dúvidas o meu predileto.
O que poucos sabem:

Nathalia Ferro

O que é “Família”? É a base da sua construção enquanto indivíduo, e também são as pessoas que estarão lá para você, haja o que houver.
Amar é… Ser o outro.
O que te inspira? A vida me inspira o tempo inteiro, eu praticamente a obrigo a isso.
O que o dinheiro não compra? No caso, o meu não tá comprando quase nada (risos). Brincadeira. Dinheiro não compra o sentido das coisas. Ele não compra a verdade, só algumas ilusões das quais a gente necessita para sobreviver.
O que causa mais medo? Não penso em medo, já resolvi isso comigo, faz um tempo.
Livro de cabeceira? Mulheres que Correm com os Lobos, Clarissa Pinkola Estés.
Onde gostaria de viver? Eu estou ótima onde estou, e sei também que eu posso ir pra onde eu quiser, basta eu querer e trabalhar pra isso.
O que não troca, não vende, não empresta? Trocar, eu acho que quase tudo, e emprestar também. As partilhas me encantam. Mas não se deve vender coisas essenciais pra nossa saúde enquanto seres subjetivos, emocionais e afetivos que somos.
Ser elegante é: Emitir paz e segurança sendo você mesmo.
Hipocrisia: Sinônimo de inconsciência. É como diz o Criolo: “As pessoas não são más, elas só estão perdidas”.
O melhor da vida é? Viver
Nathalia Ferro
Sonho?Fazer grandes viagens, para conhecer pessoas e culturas de toda parte.
O que mais lhe faz feliz? A troca de energias boas entre as pessoas, o amor, a cumplicidade, a boa arte, o bom humor, a empatia, a presença.
O que gostaria de fazer que ainda não fez? Eu ainda vou fazer, sem dúvidas.
Domingo é ótimo para: Assistir Hora de Aventura o dia todo.
Sente falta de algo? O que? Das pessoas amadas que ficaram em São Luís (família, amigos, namorado). Mas a gente tá junto.
A melhor hora do dia: Depende do dia.
Música para ouvir: A que eu quiser no momento. Mas ando pesquisando muito. Música é a melhor coisa desse mundo.
Frase: “Tá tudo certo”.
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