O ABRAÇO DA SERPENTE
Filme domina premiação do cinema ibero-americano
Longa sobre o relacionamento entre um xamã e dois cientistas levou sete troféus no Prêmio Platino do Cinema Ibero-Americano
Reflexão sobre o choque civilizatório na região amazônica no início do século passado, o drama histórico O abraço da serpente, dirigido pelo colombiano Ciro Guerra, foi o grande vencedor da terceira edição do Prêmio Platino do Cinema Ibero-Americano, revelado em cerimônia realizada na noite de domingo, no balneário uruguaio de Punta del Este. Rodado em deslumbrante fotografia em preto e branco, a história do relacionamento entre um xamã da Amazônia, último de sua tribo, e dois cientistas estrangeiros que buscam plantas medicinais, venceu sete das oito categorias as quais concorria, incluindo as de melhor filme, direção, fotografia e direção de arte.
A vitória no prêmio é um dos pontos altos na carreira do longa-metragem, que ganhou prêmios em diversos festivais internacionais, como o Sundance, Roterdã, Cannes e Havana, antes de chegar ao Oscar com um dos finalistas de melhor filme estrangeiro deste ano. O abraço da serpente derrotou dois outros favoritos, como o guatemalteco Ixcanul, de Jayro Bustamante; e argentino O clã, de Pablo Trapero.
“Cada prêmio que ganhamos nos ajuda a compartilhar os segredos das comunidades amazônicas com o mundo”, disse Guerra no palco do novo Centro de Convenções de Punta del Este, inaugurado pela cerimônia do Platino.
O filme é inspirado nos diários do etnógrafo alemão Theodor Koch-Grünberg, que morreu de malária na floresta em 1924, e na biografia do antropólogo e biólogo americano Richard Evans Shultes, que refez a expedição de Theodor nos anos 1940. “Existem ainda muitas histórias de violência e opressão envolvendo os habitantes daquela região ainda em segredo, que precisam ser contadas”, continuou o diretor.
Ausente da lista de finalistas do Platino deste ano, o cinema brasileiro foi lembrado pelo recém-criado prêmio especial Cinema para educação de valores, concedido ao drama Que horas ela volta?, de Anna Muylaert. A honraria foi entregue pela líder guatemalteca Rigoberta Menchú, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz de 1992, e recebido pela atriz Karine Teles, que interpreta a patroa da personagem de Regina Casé na trama.
“É preciso, sobretudo, questionar as convenções sociais”, discursou Rigoberta. “Em primeiro lugar: Fora Temer!”, começou Karine, repetindo o bordão-manifesto contra o presidente brasileiro em exercício, Michel Temer, no que foi aplaudida intensamente pela plateia de artistas e representantes da sociedade local. “Queria dedicar esse prêmio a todas as mulheres que trabalham com cinema, atividade que as histórias costumam ser contadas do ponto de vista dos homens. Viva as mulheres!”, saudou a atriz.
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