Gravetos, reaproveitamento de madeiras, lonas automotivas usadas, lixo. Materiais que antes seriam descartados se transformam em obras artísticas nas mãos da artista visual e tátil Graça Soares.
Graça desenvolve seu trabalho a partir de texturas e aromas, o que estimula e proporciona ao receptor diferente sensações. Uma forma de acessibilidade na prática da apreciação da arte, onde busca aproximar o público com necessidades especiais a obras artísticas.
“Quando me defini pela arte contemporânea, busquei a veia da acessibilidade. Eu fiz essa opção, levando em conta a carência que nossa sociedade tem em relação a esse problema. Para mim, essa é uma forma de cumprir minha militância, fazer peças artísticas para serem tocadas, para serem cheiradas, serem sentidas”, explica a artista.
O debate sobre acessibilidade cultural vai bem além da construção de rampas e instalação de piso podotátil. A arte inclusiva deve pensar meios, como, a audiodescrição, a tradução em libras, uso de elementos olfativos e táteis, técnicas que são usadas pela artista em seus trabalhos. “Um de nós (dentro do grupo de artistas) precisava fazer esse trabalho, precisava se voltar para as pessoas com necessidades especiais, para que a arte seja, de fato, uma manifestação democrática e essas pessoas possam ter acesso”, ressalta Graça.
A falta de inclusão social afeta milhares de deficientes em todo o país. Seja pelo preconceito, ou pela falta de estruturas que possibilitam a convivência e as experiências do cotidiano urbano, “as pessoas que têm dificuldade, elas não podem se deslocar para ver a arte, ir ao cinema, para ir à praia. Além do limite que têm por suas deficiências, essas pessoas ainda têm a negação dos seus direitos”, conclui.
Processo artístico
Graça produz suas obras táteis por meio de um processo experimental, que ao longo do tempo vem agregando diversos materiais alternativos numa perspectiva de potencializar a apreciação. De forma a incluir pessoas com necessidades especiais, possibilitando uma reflexão acerca da humanização da cidade de São Luís para o compromisso individual e coletivo da acessibilidade física e social. A artista está preparando uma exposição do nome Apelo aos Vivos, em que busca inspiração nas folhas, galhos e a preservação ambiental. Graça está em processo de pesquisa, por meio da qual cataloga espécies que estão escassas na natureza. A exposição será realizada no mês de setembro.
A artista
Graça Soares, arte-educadora, artista visual e tátil, fundadora da ONG “Arte Mojó”, ambientalista em preservação das fibras nativas, no povoado de Mojó, em Paço do Lumiar/MA. Pesquisadora independente de alternativas sustentáveis para o meio ambiente, a arte e o artesanato, desenvolve em seu Ateliê “Natural Arte”, no Cohafuma, São Luís-MA, peças artísticas decorativas e utilitárias em fibra de Ciclo Temporário (bananeira, quiabeiro, vinagreira) e materiais expressivos como saco de cimento e capas de sombrinhas. Participou da edição de 2005 do Projeto Mãos à Obra do Sesc com a Exposição coletiva: Fenda – dança com os espíritos, com Urias de Oliveira. Da edição de 2009, com a Exposição Individual (Fenda) com telas e painéis táteis. Ministrou oficinas de artes visuais com materiais expressivos e musicalização com instrumentos alternativos com pessoas com deficiência auditiva, motora e intelectual.