Roschdy Zem

Preconceito racial é tema de seu novo filme

Diretor francês de origem marroquina relata o caso do primeiro artista circense negro da França e debate a onda de terrorismo no país

O ideal de uma plena integração da sociedade francesa sempre mobilizou o famoso diretor Roschdy Zem, francês de ascendência marroquina, e uma cara muito conhecida por ser ator de vários longas-metragens. Na vida real, Zem, que alargou caminhos para intérpretes de traços árabes, é um defensor das cabais diferenças entre muçulmanos e radicais islâmicos. “A integração de estrangeiros à sociedade é uma luta diária e que segue evolução lenta. Temos que ser muito vigilantes com a questão, considerando os atentados que já atingiram a França, em 2015. Precisamos aplicar lucidez e inteligência nas representações das pessoas no cinema”, observa o diretor, que esteve no Brasil, divulgando o Festival Varilux de Cinema e participando de mostra em torno da carreira dele, artista no auge dos 50 anos.
Mal deixou o Brasil, em que comentou muito sobre o clima pesado decorrente de constantes ameaças terroristas na França, Roschdy Zem topou com as notícias de novo ataque terrorista, em Magnanville, no qual um jovem jihadista pretendia alargar ações violentas, alardeadas pelo presidente francês François Hollande como “ameaça terrorista de grande importância”. Inevitavelmente, o painel de uma França fragilizada pelos ataques terroristas ganharam corpo, numa conversa com o ator e diretor.
Num panorama geral, as confusões entre fanatismo religioso, origens culturais e atos bárbaros persistem. “Sempre existirão pessoas que farão a confusão. Mas se trata de uma minoria. O problema não é esse. Na França, chegamos a um ponto que obriga o governo a reagir aos acontecimentos. O mal-estar generalizado (da xenofobia) existia há muito tempo, e nós deixamos o vírus se propagar”, comenta. No tema do quarto longa dirigido por Zem, Chocolate (com exibições na cidade nesta terça, no Espaço Itaú e no dia seguinte, no Liberty Mall), o pioneiro ator negro na arte da França, Rafael Padilla, traz associações imediatas com a contemporaneidade.
A perspectiva política não é minimizada, sob a ótica de Zem. “Para o governo, a única possibilidade é agir em favor da educação. Qual a diferença entre um jovem que decide combater na Síria ou explodir em Paris? Quando vemos a história particular, geralmente, recaímos na condição de jovens que não tiveram acesso à educação. Na França, o defeito é que reagimos aos problemas, e não prevemos antecipando um problema. Mesmo os educadores já tendo lançado um sinal de alarme, há algum tempo”, analisa.
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