Em tempos turbulentos para a governança do Brasil, o grupo Porta dos Fundos, na estreia em longa-metragem, não toca em assuntos políticos no filme que chega, em 700 cópias, às salas de cinema no país. Antônio Tabet, um dos fundadores do grupo criado há quase quatro anos, interpreta um detetive na trama que passa a régua nos bastidores do showbiz.
Conhecido por Kibe, Tabet traça um paralelo entre o personagem de métodos nada exemplares (que faz lembrar a atual exaltação a “torturadores” na política nacional, como diz) e as trapaças corriqueiras do dia a dia dos brasileiros. “Todo mundo seria suscetível à investigação, por ter algo a esconder. Resta saber qual o interesse em descobrir. Certamente, eu mesmo seria flagrado trapaceando a dieta ou comentando uma ou outra imoralidade, mas nada comparado à Lava-Jato. Ou seja, nada publicável”, diverte-se, ao comentar o tom da comédia.
“Tentamos juntar o útil ao agradável no filme. Não poderíamos fazer um longa que fosse completamente subversivo, pelo mercado nacional de cinema ainda ser conservador, mas colocamos nosso humor e nossa linguagem num novo formato de um jeito que seja o mais simpático possível para todo tipo de público”, observa o humorista.
O roteiro é assinado por Fábio Porchat e por Gabriel Esteves. Porchat responde, na trama, por Rodrigo — um astro de cinema que se vê obrigado a honrar um acordo perpetuado pela vida toda, em que se comprometeu a trabalhar com o diretor Miguel (Gregorio Duvivier). Daí brotou o título da fita Porta dos Fundos — Contrato vitalício.
Três perguntas /
Antônio Tabet
Vida e carreira são temas do filme e, necessariamente, se misturam na sua trajetória?
Há uns exageros no filme, naturais da comédia, mas, pessoalmente, apesar de não se misturarem, nesse caso específico, são comuns, porque já testemunhamos muita coisa ridícula protagonizada por profissionais do entretenimento. Há personagens e citações no filme que beiram a realidade. Sobretudo para quem consome ou vive mais de perto o mundo das celebridades.
Qual a maior invasão que a sua vida sofreu, por ser pública?
Nada é pior que homem bêbado. Fã quando bebe perde a linha. Mulher a gente consegue se desvencilhar, mas homem é mais complicado, porque, muitas vezes, quer se impor fisicamente. Já teve caso de um cara que tentou tirar foto dos meus testículos no banheiro de um aeroporto (a justificativa dele era que queria saber se eram mesmo azuis como no vídeo do Gorilão).
Humor rima com cautela?
Não. Humor não rima nem com pudor. Cautela é particular, é parte essencial do bom senso e das boas conquistas do “politicamente correto”. Por exemplo: é muito bom que estejam parando de fazer piadas racistas hoje em dia. Isso é saudável. Mas o humor não pode ser vítima de patrulha. Sobretudo de quem é nosso alvo. Via de regra, atingimos os opressores. E essa gente não gosta de se ver ridicularizada. Não está acostumada.