CULTURA

Arraiais resistem e mantêm tradição em São Luís

Arraiais de rua foram o berço do São João na capital e, apesar da profissionalização da festa, seguem mantendo suas raízes locais

Houve um tempo em que São Luís possuía um arraial em cada esquina. Os próprios moradores se organizavam para decorar a rua com bandeirinhas simples feitas com papéis de jornal ou revista. As palmeiras de Ariri eram um charme a mais na decoração, e as barracas de palha eram feitas coletivamente, assim como as comidas típicas preparadas com as contribuições de todos. Pois bem, isso ainda existe, entretanto, em menor grau.
“Lembro que fazíamos o arraial da Nazaré com muito pouco, mas era muito divertido. Os grupos de boi faziam questão de se apresentar e nós elaborávamos grupos para dança do coco, da peneira, quadrilha. Era tudo muito familiar e divertido”, conta a professora Selma do Nascimento que morou por 18 anos no Centro da cidade.
O arraial de Nazaré, idealizado pela senhora Olga Araújo, hoje se transformou no Arraiá da Lua Cheia, organizado pelo filho dela, o sambista e produtor cultural Evandro Araújo (Vandico), e funciona na Rua do Giz (Praia Grande).
O pesquisador e historiador Sebastião Cardoso lembra com saudosismo de uma época, conforme abordado acima, dos arraiais familiares, feitos sem muita pretensão, apenas com intuito de propiciar divertimento.
“Era uma época que não existia essa coisa de patrocínio. Os bois vinham de apresentações e dançavam nas portas dos moradores. Não tinha muito essa coisa de ônibus fretado. Os bois desciam, a maioria deles, no Monte Castelo e depois iam saindo de rua em rua. Eu morava no Lira e lembro bem do Boi de Penalva, do de Rosário, que se apresentavam na rua. A Base do Germano, na Macaúba, era um dos pontos mais disputados, pois os bois maiores e mais tradicionais sempre se apresentavam lá”, lembra Sebastião.
O pesquisador citou ainda o Arraial Carne Seca, no Anel Viário, onde funcionava, além do espaço para apresentações, um parque de diversões. “E tinha som mecânico também, nessa época começo dos anos 1980, o reggae estava entrando com força, então começou lá também. Uma época muito nostálgica”.
Muita coisa mudou desde então. Os grupos folclóricos se profissionalizaram, os custos para montar um grupo aumentaram, a tranquilidade de outrora cedeu espaço para uma cidade mais violenta, enfim… A São Luís de antigamente fica só nas lembranças.
Ficou só a saudade

Moradores lamentam o fim das programações de arraiais considerados tradicionais como Ceprama, Renascença, Vila Embratel. Mas como em toda situação, as opiniões se dividem. Enquanto uns lamentam, outros agradecem. “Melhor assim, porque não tinha só diversão, tinha bagunça. Marginais se aproveitavam para fazer maldade. Nesses tempos que vivemos, temos que agradecer por um lugar tranquilo”, conta o morador do Renascença, José Vieira.

Profissionalização
Foi quando esteve à frente da Maratur (Empresa Maranhense de Turismo) que a pesquisadora Zelinda Lima começou a implementar políticas de apoio aos grupos juninos. “Ela era diretora e começou com a política de ajudar os grupos com as compras de materiais para indumentárias, vestimentas. Depois foram surgindo os Vivas e o São João ficou mais oficializado, começando com o Parque Folclórico da Vila Palmeira, que durante muito tempo foi administrado pela Federação das Entidades Folclóricas, mas que agora (a reintegração foi em 2015) retornou para a gestão do Governo do Estado”, informa Sebastião.
Arraial em todo canto
Uma das festas mais efervescentes do calendário cultural do Maranhão, o São João é daquelas festas que inebria pelo cheiro. O cheiro da comida típica, o cheiro das fumaças que esquentam os pandeirões, o cheiro das bombinhas de estalo, da pólvora do foguete. Além disso, as cores e os sabores tornam o período um dos mais esperados pelos maranhenses e pelos turistas. Uma festa sem igual que em anos anteriores acontecia em muitos espaços: oficiais, comunitários e/ou particulares. Hoje, os espaços oficiais, patrocinados e organizados pelo Governo do Estado somam três, e a Prefeitura tem um.
“Em outros tempos tínhamos quase 30. Um arraial em cada Viva, em cada bairro. Era bom porque as pessoas podiam ver a nossa cultura perto das casas delas, com programações variadas. Agora se não fizermos arraiais de rua, acabou a diversão”, garante a dona de casa Ariadne Feitosa, moradora do bairro do Angelim.
Em alguns dos bairros que possuem Viva, os moradores e lideranças políticas e comunitárias aproveitaram a estrutura para eles mesmos realizarem a festa junina, a exemplo de moradores do Maracanã, Viva Bairro de Fátima, Anjo da Guarda. “Nessa época quem aproveita são os políticos. Melhor para os moradores”, aponta a moradora da Vila Luizão para onde um arraial está sendo montado nesta semana.
“O que está acontecendo é que estamos voltando a ser como éramos antes, só que com uma diferença. Antes os moradores faziam os arraiais, mas os grupos dançavam praticamente de graça. Hoje não, pois eles (os grupos) não se apresentam de graça”, constata o morador do Vinhais, Assis dos Anjos.
Saiba mais
Alguns dos arraiais elitizados ou populares que ficaram muito famosos nos anos 80 e 90 e que fizeram história em São Luís.
– Terreiro Raízes (Turu)
– Tico-tico no Fubá (São Cristóvão)
– IPEM (Sede social no Calhau) – retornou na atual gestão
– Arraial da feirinha da Cohab (Terminal Cohab/Cohatrac)
– Caixa D’água (Cohatrac IV)
– Arraial do Forquilhão (Forquilha)
– Colégio dos Padres (Cidade Operária)
– Arraial Reino de Avilan (Cidade Operária)
– Arraial do Pé Trocado (Cidade Operária)
– Arraial do Renascença
VER COMENTÁRIOS
Polícia
Concursos e Emprego
Esportes
Entretenimento e Cultura
Saúde
Negócios
Mais Notícias