Tradição
Batalhão de Ouro em exposição
Exposição do fotógrafo Márcio RM leva as riquezas do Boi de Maracanã aos olhares cariocas
A mistura de cores e movimentos e a beleza do Bumba Meu Boi de Maracanã foi a grande inspiração para o fotógrafo carioca Marcio RM, que está realizando a sua quinquagésima nona exposição individual, Batalhão de Ouro, que está em cartaz na Faculdades Intergradas Hélio Alonso (Facha)/Campus Botafogo, no Rio de Janeiro (RJ) até o dia 3 de junho de 2016. A exposição faz parte na programação oficial do FotoRio – Encontro Internacional de Fotografia do Rio de Janeiro 2016, e conta com 24 fotos coloridas do Boi de Maracanã, uma das mais tradicionais e populares manifestações folclóricas de todo o estado do Maranhão.
Segundo Marcio RM, a ideia de fazer a exposição sobre o Boi de Maracanã surgiu em 2003, quando o fotógrafo realizou uma exposição individual no Museu de Artes Visuais em São Luís, intitulada Projetos. Como era o mês de junho Marcio RM procurou se informar sobre quais bois e danças seriam interessantes para fotografar durante o São João. Para essa tarefa, ele contou com o apoio do pesquisador Sebastião Cardoso, atual diretor do Centro de Cultura Popular Domingos Vieira Filho, que na época trabalhava no museu que o ajudou a fazer um roteiro sobre as principais brincadeiras de São João. “Ele também me disse que tinha que fotografar um batizado e recomendou fotografar o do Boi de Maracanã. Cheguei antes do início do batizado e gostei da movimentação das pessoas chegando na sede do boi e se preparando. Adorei poder conhecer e fotografar o batizado. Utilizei este material em projeções de fotos e depois fiz uma exposição sobre o São João aí em São Luís, de nome Festa na Ilha. Depois eu a presentei aqui no Rio e em Teresópolis e Niterói”, explicou o fotógrafo.
Conhecendo o Boi de Maracanã de perto
Marcio RM acrescentou que a exposição Festa na Ilha conta com fotos de bois de diferentes sotaques, danças como o Cacuriá da Dona Teté e Tambor de Crioula e parte das imagens eram do batizado do Boi de Maracanã. Em 2011, ele voltou a São Luís com o intuito de fazer uma documentação mais completa do Boi de Maracanã. O fotógrafo entrou em contato com a Dona Maria (presidente do Boi) e levou algumas fotos do batizado do boi em 2003, além de mostrar o trabalho que desenvolve na área de cultura popular. “Ela se interessou pelo meu projeto, autorizando que eu acompanhasse o boi na van em que ia ela junto com o Humberto e outras poucas pessoas. Teve noite em que cheguei de volta em casa às 10 horas da manhã. Foi ótimo pelo material que eu consegui fotografar, o convívio com diferentes integrantes do boi, visitando lugares de São Luís que muitos moradores não conhecem”, contou o fotógrafo.
Marcio RM afirma que um dos momentos mais emocionantes de sua descoberta do Boi de Maracanã aconteceu quando, depois de acompanhar a primeira e a segunda apresentações do boi, algumas pessoas foram até ele para agradecer pelo trabalho que estava sendo realizado. “Um destes integrantes, numa manhã em que eu estava voltando no ônibus que levava diversas pessoas lá do Maracanã para outros bairros, me perguntou se eu queria a matraca que ele estava segurando. Eu falei: ‘Você não vai precisar dela mais tarde?’, no que ele respondeu: ‘Eu quero te dar de presente’. Eu aceitei e ela está na sala da minha casa”, lembrou o fotógrafo, emocionado.
De acordo com Marcio RM, parte das fotos produzidas por ele foram utilizadas em matérias publicadas em revistas, como Na Poltrona, publicação de bordo da Viação Itapemirim, e Continente, uma das poucas revistas nacionais de cultura que ainda é impressa, editada em Recife. “A matéria da revista Na Poltrona a Maria me disse que usa ela quando quer divulgar o Boi de Maracanã para alguém que não conhece”, disse ele. O fotógrafo retornou à ilha ainda em agosto de 2011 para fotografar a morte do boi. E em 2012 para fotografar o batizado do boi, que comemorou os 40 anos de Humberto como seu cantador.
QUATRO PERGUNTAS PARA MARCIO RM
Qual foi o seu primeiro contato com o Boi de Maracanã?
Desde que voltei a São Luís para complementar o meu trabalho, tive um ótimo apoio da Maria, com quem eu conversava mais. O que mais me chamou a atenção durante o processo de pesquisa desse trabalho foi a riqueza dos personagens do boi, a participação do povo nas diferentes apresentações dançando, observando e tocando as suas matracas e a poesia que Humberto escrevia para as músicas do boi. “Eu dei uma volta no tempo. Deixa contrário saber” / “O Sol esquenta a terra e o meu boi faz poeira”, entre várias outras. Eu falava que se aqui no Rio eu sou Flamengo e Mangueira, em São Luís tinha que ser Maracanã.
Você também tem um projeto de um livro sobre o Boi de Maracanã aprovado pela Lei Rouanet em fase de captação. O que esta obra ainda inédita traz e qual a sua previsão de lançamento?
Para o projeto do livro, contatei o Jandir Gonçalves, diretor da Casa de Nhozinho, que já conhecia de outros São Joões, e ele aceitou participar do livro com textos. O Sebastião Cardoso fará apresentação do livro. Ele será no tamanho 30x30cm (fechado), formato livro de mesa, com 196 páginas e 174 fotografias (a grande maioria inédita) e tiragem de 3.000 exemplares. Pretendo lançar o livro este ano ainda e depois apresentar a exposição com as fotos do boi aí em São Luís. Parte da tiragem dele (20 %) será distribuída para bibliotecas de todos os estados do país e a renda da parte destinada à venda irá para o Boi de Maracanã.
Além do Boi de Maracanã, alguma outra manifestação cultural despertou seu interesse para futuras pesquisas? Quais?
Tenho vários projetos que venho desenvolvendo, um deles também é do Maranhão. Ele é sobre a festa do Divino em Alcântara e tem o nome de Ponte para o Passado. Fotografei a festa em Alcântara em três anos distintos, sendo que da última vez pude registrar a busca dos mastros da festa. Eles são transportados de um local distante do centro da cidade, no meio do mato, atravessei rio com o pessoal que carregava os mastros.
Fotografei em ano par (Imperatriz) e em ano impar (Imperador). No meu site tem uma subpasta com algumas fotos deste ensaio.
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