MÚSICA

Artista traz CD recheado com black music, groove e lirismo

Faz escuro, mas eu canto traz Paulão, jovem profundo e ao mesmo tempo doce, num invólucro de cadência e poesia

Paulão chegou com tudo em seu trabalho solo. Faz escuro, mas eu canto traz música negra, groove e lirismo em nove canções com letras intensas, como que a gritar para serem absorvidas: “…Eu quis te encontrar nos meus medos de sempre/E viver um absurdo contigo/Tu me deste a mão a provar que não estive sozinho…” (Dia D).
O primeiro disco do cantor e compositor Paulo Cesar Linhares já está na rede, disponível nos sites de streaming (Youtube, Soundcloud, Deezer, Spotify, Itunes). Também cantor da banda Pedeginja, o disco foi trabalhado durante o hiato do grupo, em 2015, e revela, segundo o próprio artista, um compositor mais maduro, concentrado em desnudar intimidades de fases delicadas de sua vida, com temas como a separação (Dia D, Penélope) e o próprio fazer artístico (Canto das Sereias, Música do Sereno).
Poeticamente, o disco se situa entre uma noite e outra, recurso do qual Paulão se utiliza para transitar desde sonoridades introspectivas (Grilos) até a euforia da sexta-feira boêmia (Faz teu nome). Música do Sereno e Grilos, canções que já haviam sido gravadas anteriormente pela cantora Nathalia Ferro, ganham nesse trabalho sua primeira versão na voz de Paulão, o compositor.
Paulão, cantor e compositor
Pergunto sobre esse trabalho a Paulão, e sobre a Pedeginja, banda que lançou no mercado Contos Cotidianos (2013). “É um trabalho paralelo. Algumas dessas músicas já haviam sido tocadas em shows da Pedeginja, mas, na hora de entrarmos em estúdio, a banda divergiu sobre o formato do trabalho e decidiu pausar suas atividades. Isso no início de 2015. Ou seja, poderia ter sido o segundo disco da Pedeginja. No fim das contas, fazer o disco sem a banda me deu liberdade de arranjar as músicas de uma forma diferente, menos tropical”, afirma Paulão, para em seguida completar: “A pausa foi rápida, em setembro de 2015 a Pedeginja voltou a fazer shows e já fez shows em 2016 também. Estamos nos reunindo para preparar um disco novo a ser lançado em 2017”.
Essa tal liberdade deu vazão à musicalidade negra intrínseca na carreira de Paulão, flertando com o soul, o samba, afoxé, afrobeat… e falando sobre amores, vida, incerteza, arte. E como todo artista que prepara sua obra, a dificuldade em colocar uma ou outra música no repertório também ficou presente em Faz escuro, mas eu canto. “Uma música ficou de fora, ainda pensei em incluí-la, mas as outras estavam bastante adiantadas e resolvi abortar a ideia. Acho que não prejudicou. Eu penso o disco como uma obra e as músicas que ali estão colocadas fizeram bem o papel de contar esse período, marcar o território da minha identidade. Honestamente, fiquei muito satisfeito com o resultado do disco. Espero que o público o receba bem, porque foi feito com muito carinho”, avalia.
Produção
O disco foi produzido Adnon Soares (Soulvenir), num processo de imersão na Casa Louca (casa que agrega boa parte da atual geração de músicos da ilha, e é referência em sonoridade e produção). Além de Paulão e Adnon, Faz escuro, mas eu canto contou com Sandoval Filho e Darkliwson Brandão na bateria e percussão. A cantora Núbia deu charme aos backing vocals. A arte gráfica e fotografia do projeto são de Laila Razzo.
Faixas do CD
Canto das Sereias
Dia D
Grilos
Penélope
Epa doida
Música do sereno
05:45
Faz teu nome
Sete dias de janeiro
Três perguntas// Paulão
A primeira faixa, curtinha, tem várias referências populares. A ideia era fazer um “abre” do disco?
Sim. Canto das Sereias tem exatamente esse espírito. É uma referência ao episódio da Odisseia, em que Ulisses se ata ao mastro do navio pra não se deixar seduzir ante a beleza fácil do canto. Fazer esse álbum, cantando e compondo não deixa de ser minha odisseia e, no fazer artístico, a gente se depara vez ou outra com uma sereia por aí. É um abre-disco, uma exortação.
Sobre as letras, são muito intensas… E a inspiração para elas?
Se você me perguntar, desde a Pedeginja, todas as músicas que eu componho contam um episódio da minha vida, e esse álbum traz também isso. O que fez escuro foram os relacionamentos, o término da faculdade, a incerteza sobre minhas capacidades artísticas… Ainda assim, continuei cantando e compondo.
Disco lançado, e agora?
Como é o meu primeiro trabalho, é importante que o público assimile as músicas que já tão disponibilizadas. Os shows entram nessa estratégia de divulgação. Estamos ensaiando a banda e marcando pequenos shows no circuito alternativo da ilha. O disco vai ter lançamento físico também, mas ainda não há data definida.
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